Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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O Caso do Crime Perfeito

 

Umas das principais ruas do bairro Moinhos de Vento da capital é repentinamente tomada por uma dezena de viaturas da polícia e bombeiros. As sirenes em desafinada sinfonia abrem caminho para outros que ainda se dirigem para o local.

 O segurança do prédio localizou dois corpos, dizendo tratar-se de um casal. A curiosidade gerou uma confusão generalizada e a aglomeração de transeuntes ameaçava a todo instante invadir a área de isolamento que já havia sido delimitada pela polícia.

O prédio abriga dezenas de salas comerciais, escritórios de advocacia e consultórios médicos, todos profissionais liberais. A maioria são velhos conhecidos do porteiro que exerce suas atividades no prédio desde a época da construção do edifício.

Eram nove horas da manhã e os trabalhadores que se dirigem para o trabalho nos prédios comerciais próximos, retardam a abertura de seus estabelecimentos para satisfazer a curiosidade, assim como o pessoal da limpeza que também se reúne em um pequeno aglomerado para levantar hipóteses de quem seriam as prováveis vitimas, já que a função toda estava ocorrendo no terceiro andar.

 Em seguida o bolo se desfez para dar lugar às viaturas da perícia e do IML, que se preparavam para receber os corpos. A imprensa agora representa um grupo expressivo e agitado, todos querem dar a notícia com detalhes, uns de tão apressados chegam a atropelar os mais desavisados, tudo para concluir a matéria para o telejornal do meio dia. Entre eles, um famoso jornal sensacionalista entrevista o porteiro, que procura palavras bonitas para dar a sua primeira versão do caso.

Algumas horas depois, o aglomerado de pessoas já havia se desfeito e os poucos curiosos que ainda permaneciam no local, eram alguns aposentados de um residencial vizinho. A perícia é concluída e os corpos finalmente são conduzidos à viatura que os aguardava.

Assim que o delegado responsável é avistado, um batalhão de repórteres corre para entrevistá-lo, quase enfiando seus poderosos microfones goela adentro. O delegado informa que os corpos ainda não foram identificados, mas que se tratava de um homem e uma mulher, aparentavam em torno de quarenta anos e pela avaliação preliminar a hipótese mais provável era de suicídio, contudo o inquérito ainda precisaria ser devidamente instaurado e certamente muitas pessoas seriam ouvidas além dos laudos das perícias, conclui o delegado. Antes de se retirar colocou-se a disposição para atender a imprensa na delegacia, no decorrer das investigações e sempre que houvesse elementos que pudessem elucidar as mortes. A imprensa se dispersou, seguida das viaturas policias, bombeiros e finalmente os curiosos também se afastaram.

No dia seguinte, os jornais noticiaram que o casal suicida já havia sido identificado, pois se tratava de uma respeitável psicóloga e um de seus pacientes, que por sua vez, rotineiramente era atendido em seu consultório todas as sextas-feiras, às oito horas da manhã.  Uma das matérias dizia que o jornal teve acesso a uma fonte segura, que afirmava tratar-se de um caso amoroso e o que ocorrera era um duplo suicídio motivado por um pacto de amor. Já outros mais cautelosos não descartavam essa hipótese, porém detiveram-se mais nos depoimentos dos familiares, que alegavam tratar-se de uma invenção, que tanto a analista quanto o paciente, mantinham relacionamentos afetivos saudáveis com seus pares.

O conselho profissional foi ouvido quanto à possibilidade de ter havido uma conduta inadequada no tratamento do paciente e eventual falta de ética profissional se caso fosse confirmado o envolvimento amoroso. Havia vários depoimentos confirmando a larga confiança entre a psicóloga e o paciente, fruto do longo tratamento. Evidências de arrombamento, tentativa de assalto, ou qualquer outra possibilidade para a causa das mortes não foram encontradas. Assim sendo, o delegado concluiu o processo como sendo um duplo suicídio sem motivo aparente.

O suicídio acabou sendo conhecido como o caso do crime perfeito, uma vez que todas a hipóteses levantadas foram categoricamente rechaçadas com provas e depoimentos. Alguns anos depois com o aperfeiçoamento das técnicas da perícia, novos testes foram realizados e provas foram remetidas ao FBI e centros universitários do exterior para uma análise mais aprofundada. Policiais israelenses participaram das investigações sem que obtivessem qualquer sucesso para a elucidação do caso.

Durantes anos as mais absurdas histórias repercutiam pelo bairro, redondezas e inclusive nos outros estados, sem, contudo, haver qualquer traço de verdade. O caso tornou-se tão famoso que um programa de TV fez a reconstituição para exibição no horário nobre em rede nacional. As famílias chegaram a receber propostas para a venda dos direitos de exibição do fato para o cinema e teatro.

Os anos se passaram e o caso foi abandonado, entrando para a história como o crime perfeito da rua dona Laura, uma vez que crimes perfeitos não deixam suspeitos.

No entanto, uma bela noite de outono, numa pequena construção na zona leste da cidade, um famoso médium atendia os pacientes da noite, quando psicografou o que viria ser a explicação do caso. O episódio do duplo assassinato, ou homicídio como a polícia preferiu chamar, acabou por aproximar as famílias das vitimas. Havia algo mais que o triste episódio que as uniam, pois ambas eram seguidoras da doutrina espírita. E foi justamente nesta bela noite que as manifestações da psicóloga e seu antigo paciente acorreram. As palavras escritas pela mão trêmula do médium traziam a explicação para a elucidação do caso. Surpresa para família que já estava resignada, somente tratou de orar e agradecer o merecimento de tão bela comunicação.

È claro que toda a família sempre tem seu contestador e assim a explicação recebida do além passou por um rigoroso processo de investigação para que todas as informações recebidas fossem detalhadamente averiguadas. Novamente todas as mais avançadas e rigorosas técnicas foram empregadas, mas agora o resultado era outro porque havia evidências com riqueza de datas e detalhes, pois as razões fornecidas pelos próprios suicidas eram realmente verdadeiras, ou seja, os dois haviam se suicidado por não agüentarem mais os transtornos causados pelas obras de reformas que estavam fazendo em suas residências.

 

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 09/04/2008
Alterado em 09/04/2008
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