Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos

Cada coisa no seu lugar

 

            Estava me preparado para escrever este texto, que seria sobre algum assunto relacionado à nossa motivação, auto-estima e melhoria pessoal, enfim, algo do tipo que vocês já sabem que gosto de tratar nesses nossos encontros semanais.

            Ocorre que tocou a campainha e tive que sair correndo para atender à porta. Pois, não é que era visita surpresa? Daquelas que freqüentam nossas casas não para saber como estamos, mas meramente por curiosidade.

            Para não fugir às regras, à sala estava bagunçada, coisa de quem gosta de livros, revistas e até mesmo juntar alguns jornais velhos. E, percebendo isso, logo me lembrei da casa da minha avó. Ela tinha duas portas: uma dava acesso à cozinha e a outra para a sala. Hoje percebi que se tratava de uma engenhosa artimanha arquitetônica, para facilitar a vida dos proprietários desorganizados na hora de receber àquelas visitas surpresa. A razão era muito simples, pois sempre que a cozinha ficava bagunçada, vovó pedia que as visitas entrassem pela porta da sala, “é mais confortável”, dizia ela. E assim, acomodava-as tranqüilamente sem qualquer preocupação com a desorganização na cozinha.

Hoje à economia fala mais alto e a maioria das residências possui apenas uma porta, que é o caso do meu apartamento, cuja porta dá direto para a sala, que está sempre “bagunçada”. Na hora de uma visita como essa, só nos resta tirar os livros do sofá e afagar o “convidado”.

            Depois de passar por essa situação, voltei a jurar para mim mesmo, como já fiz em tantas outras ocasiões, que a partir daquele momento manteria as minhas coisas sempre organizadas, o que melhoraria muito a sensação de bem-estar na casa e ainda evitaria às más línguas desse tipo de visita infeliz. Não que isso me incomode, até por que, cada qual sabe onde o sapato aperta, já dizia minha avó. Mas o que realmente me incomoda é a minha falta de determinação em deixar às minhas coisas espalhadas pela casa, uma vez que nos dias atuais não há mais lugar para desordem ou improvisação.

            Os prejuízos sejam de tempo ou de energia em catar as coisas espalhadas, são enormes. Admito que a bagunça é generalizada, quase que um patrimônio nacional, no entanto, no próprio lar as coisas precisam ser diferentes e, prontamente me lembrei que já fui instrutor do programa 5 “esses” há algum tempo. O Programa 5S é um programa participativo de fácil aplicação, de resultados imediatos e visa melhorar o ambiente de trabalho, muito utilizado nas empresas.

O programa também é excelente para ser empregado nas nossas casas no sentido de acabar com aquelas tralhas, gavetas e armários atulhados. Mas este não é um manual de aplicação do programa, portanto, para os que não conhecem me cabe informar que o 5S é originário de cinco palavras japonesas, iniciadas pela letra S, que correspondem a cinco sensos que foram traduzidos para o português dessa forma: Utilização (Seiri), Ordenação (Seiton), Limpeza (Seisou), Saúde (Seiketsu), Autodisciplina (Shitsuke).

            No meu caso, o Seiton e especialmente o Shitsuke não estavam funcionando e precisava fazer alguma coisa urgente. Além do desconforto diante da visita, a desorganização sempre acaba incomodando os familiares. Decididamente estava na hora de organizar minha bagunça a fim de mudar essa realidade.

            Estava óbvio que faltava determinação, afinal, eu conhecia o programa, sabia que funcionava, mas ao mesmo tempo também sabia que eu não era persistente o suficiente para incorporar a organização no meu cotidiano doméstico. Esse era o primeiro entrave, apesar de estar disposto a dedicar-me a esse objetivo, talvez bastasse um pouco mais de disciplina para seguir o método.

Diante disso, definitivamente havia chegado à hora de me desprender daquele velho “hábito” de deixar tudo espalhado pelos quatro cantos da casa. Apesar de perceber que não seria uma tarefa tão simples, também não seria tão árdua, pelo contrário, uma vez tudo organizado e em seus devidos lugares, eu ganharia mais tempo, e, conseqüentemente mais disponibilidade para produzir algo novo, quem sabe. A partir desses insights, percebi que para os meus 5 “esses” dessem certo eu precisaria de 5 “dês”: Determinação, Dedicação, Disciplina, Desprendimento e Disponibilidade.

            Que maravilha! Eu acabara de inventar meu próprio programa sem a intenção, é claro, de querer comparar com o programa japonês.  Mas não era uma má idéia, pois após uma rápida análise, percebi que essas “minhas” cinco palavras são importantes e têm muito em comum com o 5 “esses”, além de serem fundamentais para alcançarmos quaisquer objetivos que nos propusermos alcançar.

Assim sendo e, com a intenção de organizar-me, resolvi associar os 5 “esses” aos “dês” na minha rotina. Tinha que buscar dentro de mim aquela velha determinação que me fez caminhar da roça até a capital, atrás de uma vida melhor.

            Lembro que era essa força que me empurrava ao encontro dos meus objetivos, que não me deixava desistir, nem que demorasse vinte ou trinta anos eu persistiria. Afinal, pessoas determinadas fixam sua atenção nos objetivos, enquanto os perdedores concentram-se apenas nos obstáculos. Eu sabia que tinha capacidade de me entregar à realização deste novo objetivo, porém teria que fazer diferente, uma vez que da forma como eu vinha fazendo, o resultado era aquela desorganização. Não havia mágica que resolvesse, apenas precisava me dedicar para evitar cair na ilusão, que sempre é um grande obstáculo para a maioria, ou seja, se não nos dedicarmos ao objetivo, a determinação será apenas um carro sem combustível que não nos levará a lugar algum.

Sabia também, que a jornada seria longa, afinal, já havia me proposto a ser uma pessoa mais organizada muitas outras vezes, portanto, deveria ser inflexível com a minha disciplina. Deveria seguir o método que era o fundamental para chegar ao sucesso. Sabia que se eu quisesse chegar à água, teria que cavar meu próprio poço, e não furar um buraco a cada dia, isto é, precisava ter disciplina para seguir no mesmo objetivo todos os dias, nada mais que disciplina pura, unicamente disciplina. De que me valeria instituir um novo método para acabar com a minha bagunça se não tivesse a disciplina para segui-lo?

Difícil, mas nem tanto, a princípio teria que abandonar os velhos hábitos desapegar-me da comodidade de ter tudo por perto, dos meus livros sempre a mão, das revistas, enfim, precisava exercitar o desprendimento. Quem sabe, finalmente tomaria coragem de doar alguns daqueles livros que mantinha na estante por puro apego. Além do mais, desprendimento de certa maneira é desapegar-se de fazer algo para conseguir um resultado melhor.

O último exercício que precisava fazer era o da disponibilidade. Considerava esse o mais fácil, já que me considero uma pessoa que sempre teve a capacidade de estar “disponível” para colaborar com os outros. Meu estado de espírito, posso dizer que se caracteriza pela predisposição a aceitar solicitações e colaborar.Não seria difícil rever meus horários, de forma que pudesse disponibilizar mais tempo a minha própria organização. Todos nós sabemos que ninguém é tão ocupado que não encontre tempo para fazer algo que realmente deseja.

É isso, enquanto você esta lendo esse texto, eu estou praticando esse meu programa, afinal, estamos em outros tempos e a minha casa não tem tantas portas. Espero que você não precise se organizar, mas se precisar, tenho certeza que este texto poderá ajudá-lo ou quem sabe poderá ajudar alguém que você conheça. Pense nisso.




- Pauletto J A -

dezembro/07

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 04/04/2008
Alterado em 04/04/2008
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