Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
Férias na Praia
Um dia desses de manhãzinha, ainda no elevador do edifício do meu apartamento, fui interpelado por um vizinho, que é muito do petulante. Ele chegou com aquele ar de superioridade, postou-se na minha frente, me olhou de cima a baixo com seu nariz arrebitado, queixo levantado e fulminou palavras, que por ora pareciam ter invadido por completo a minha privacidade, mas decidi ouvi-lo, em nome da boa vizinhança, é claro:
- E aí vizinho! Ta na hora de tu pegar uma prainha, eihm! Não achas que estas branquelo demais pra época?
Ele falava com a autoridade de um nativo de alguma ilha do Caribe, como se estivesse diante de um enorme absurdo, pois já estávamos no inicio de fevereiro e eu ainda não tinha ido à praia. Essa observação inoportuna logo pela manhã e aquele jeito desprezível no olhar tentando me inferiorizar, quase me fez perder o controle. Diante desta indagação absurda, fiquei até sem resposta, dizendo apenas, ao chegarmos ao térreo, “tenha um bom dia”.
Todos os anos basta o inverno passar, que muitas pessoas já começam com aquela maratona de preparação para passar a temporada na praia. Algumas começam a malhar para colocar o corpo em forma, não pela saúde, mas para exibi-lo. Já outros, transformam os finais de semana em longas viagens ao litoral para arrumar e deixar a casa em ordem. Nada contra, respeito qualquer escolha, mas não suporto esta “obrigação” que muitas dessas pessoas, ano após ano, tentam nos impor, de ter que ir à praia.
 Pois essa semana chegou à hora de eu ir à praia e, estou aqui há alguns dias por escolha própria e aproveitando da minha maneira, que obviamente exclui quase todas aquelas longas exposições ao sol que a maioria dos veranistas adoram. Imaginem que agora mesmo estou coçando o umbigo, não por estar curtindo as férias sossegadas, mas por ter negligenciado o uso do protetor solar nesta incomoda região abdominal. Confesso, que quando olho para o meu umbigo, cheio de creme para aliviar a ardência da queimadura, ao invés de me sentir um idiota, acabo por me divertir com uma gostosa gargalhada, pois a cena me faz lembrar aquele canudinho de massa folhada e recheada com creme de baunilha que minha avó fazia quando eu era criança.
Mas, fora esse pequeno desconforto, a praia sem dúvida é um dos excelentes locais para se passar às férias. No meu caso, alguns dias são mais que suficientes, pois não tenho satisfação alguma em ter que me lambuzar de protetor solar todos os dias para ir algumas horas à praia e depois retornar totalmente “salgado”, melecado de protetor solar e impregnado de areia. Mas aí você deve pensar, nada que um belo banho de água doce para resolver tudo isso. Pois então eu lhes digo que, é claro que resolve, mas praticamente essas mesmas agradáveis horas passadas na beira mar, agora terão de ser dedicadas para retirar toda aquela meleca do corpo. A sensação é de que metade da área da praia esta em nossos cabelos e a outra metade no resto do corpo. O sabonete logo se enche de areia, aliás, não deve existir nada mais esfoliante que isso. A propósito, porque os fabricantes não lançam de uma vez por todas, um sabonete esfoliante à base de areia com qualquer coisa? Aposto que teria mercado.
Antes fossem só estes os “inconvenientes, mas sempre tem aquele biquíni molhado estendido no banheiro, sem contar com uma infinidade de cangas, chapéus, havaianas e óculos espalhados por toda a parte, e um milhão de coisitas mais que a “diversão” da praia sempre trás, além do prazer da comilança exagerada, da bebida em excesso e o conseqüente mal estar, isso quando não há implicações ainda maiores ....
Porém, nem tudo é tão chato, sempre surgem novas amizades ou um vizinho novo, excluindo é claro, aqueles com gostos musicais um tanto duvidosos, e que parecem sofrer de sérios problemas auditivos. Também não posso deixar de falar dos agradáveis momentos em que uma rara beleza desfila a beira mar, sob o atento olhar dos homens e a inveja da imensa maioria das mulheres. Neste desfile, tentando chamar a atenção, sempre aparecem às metidas a gostosonas e os “bombados”, que fazem deste local uma passarela para alimentarem suas vaidades. Ah! Já ia me esquecendo, também tem aquelas criaturas bípedes que não conseguem ler e sequer interpretar os desenhos das placas que trazem a lei que proíbe a circulação de animais na praia.
Enfim, existe uma infinidade de possibilidades, aprendizados, lazer e inúmeros exemplos de cidadania e bons hábitos na praia. Não posso negar que é possível “curtir a vida pra valer” neste local, mas dever-se-ia respeitar também os que conseguem fazê-la longe da areia. Poderia descrever vários acontecimentos e aprendizados nestes dias de férias, mas vou terminar por aqui, afinal, estou em férias e além do mais, preciso voltar a coçar meu umbigo. Boa semana a todos.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 21/02/2008
Alterado em 29/12/2014
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