Esforço e recompensa
Enquanto passeava pelo calçadão no final de tarde, encontrei meu amigo Julio, que retornava da praia e seguimos algumas quadras colocando o papo em dia, até nos depararmos com uma moeda de 25 centavos e chamei a atenção de Julio: pega aí um dinheirinho. Para minha surpresa, Júlio simplesmente chutou a moeda para a areia dizendo que aquela mixaria não valia o esforço de se abaixar. Por alguns instantes fiquei pensando no descarte daquela moedinha, mas seguimos mais alguns passos e, antes de tomarmos nossos caminhos, resolvemos tirar a “água do joelho”.
Nossa! Mas que horror aquele banheiro público; a descarga parecia não funcionar ha tempos, além do cheiro insuportável de urina que também era visível por todos os lados e cantos. Mas, no meio daquela repulsa e porcarias, eu e o meu amigo percebemos que uma nota de 10 reais boiava sob uma das pias. Julio não hesitou e mais que depressa se esticou todo para apanhá-la. Estava suja que era um nojo só. Pegou-a com a ponta dos dedos, bem no cantinho e a colocou debaixo da torneira lavando-a cuidadosamente. Foi uma cena realmente repugnante, enquanto aquela nojeira ia se desprendendo da nota, o sorriso do meu amigo ficava cada vez mais largo. Ao assistir tudo aquilo, não resisti e perguntei como ele tinha coragem de pegar uma nota naquele estado se a pouco tinha desprezado uma moeda limpinha, apenas pelo esforço de se abaixar e pegar. Prontamente ele me respondeu que, apesar de suja e nojenta o esforço para colocar a mão naquela imundice agora compensava, pois com dez reais poderia tomar umas cervejinhas a mais com os amigos.
Isso me fez perceber o quanto somos motivados pela recompensa, ou seja, inconscientemente medimos o esforço para obter algo em função do benefício que ele pode nos trazer no final. Nossas escolhas são influenciadas diretamente por este principio de esforço e recompensa. Se não conseguirmos visualizar alguma recompensa não nos motivamos para o trabalho. Este princípio é um dos segredos de muitos lideres motivadores de equipes de trabalho, pois é criando a expectativa de uma recompensa satisfatória conseguem motivar e elevar a produtividade de seus funcionários.
Essa busca do prazer, da recompensa final é característico dos seres humanos, pois possuem a capacidade, embora subjetiva, de avaliar a relação custo benefício. Porém a grande dificuldade é fazer a avaliação correta da situação quando a recompensa não é imediata e direta. Quando determinado trabalho resultar em um benefício direto, como o de se abaixar e pegar a moeda ou trabalhar determinadas horas e logo após receber o valor combinado, tomar a decisão de fazê-lo ou não é fácil. Mas, o dilema é maior quando a dificuldade se apresenta e a recompensa é obtida apenas posteriormente, como semear a terra ou o estudante que se prepara para futura profissão. Em ambos os exemplos são necessários aguardar alguns meses ou mesmo anos para obter um resultado.
No entanto, é muito mais difícil decidir quando a situação exige uma ação que requer esforço e não visualizamos o benefício final. É quando “apostamos” nessas situações que nos elevamos como seres humanos, pois geralmente ocorrem em benefício a outrem. É o caso de uma ação de caridade em que o benéfico final não pode ser medido em valores materiais. Talvez a mais difícil seja adiar um pequeno prazer para alcançar algo maior, como deixar de comer um chocolate diariamente para comprar algo que possa multiplicar esse prazer posteriormente, como freqüentar um curso que possibilite um ganho maior e conseqüentemente resulte e mais chocolate.
Casos como o do Julio, de achar dinheiro assim tão fácil, não acorrem todo o dia, pois já dizia minha avó: “dinheiro não dá em arvore e muito menos na rua”. A vida nos impõe constantemente situações nas quais somos obrigados a decidir por determinado esforço, seja para alcançar uma recompensa financeira ou simplesmente para acalmarmos a consciência. Contudo, o segredo para uma generosa e gratificante recompensa final deve levar em conta princípios maiores do ser humano, como a bondade e generosidade com o próximo. Pense nisso.