Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Conversa de botequim

 

         O tradicional encontro semanal dos amigos desta vez havia mudado de endereço. Precisavam rumar para um outro local, uma vez que ali, já não faziam mais tanto sucesso. Vitor precisava azarar as gatinhas e, além de sentir-se o centro das atenções, queria ser desejado. Esse era um dos motivos principais que Vitor alegava para se bandearem para outro lugar.

Enquanto aguardavam os chopes serem servidos, ficaram observando o atrapalhado garçom arrastando mais cadeiras e mesas para dentro daquele cubículo, chamado de bar.  Jorge não queria se incomodar com aquela confusão do garçom, pelo contrário, estava ali para relaxar e, literalmente jogar conversa fora com o amigo, apesar daquela zoeira ter ficando próximo do limite. Vitor fingia nem ligar para aquilo e, para amenizar, puxou conversa com o amigo, perguntado:

- Não entendo como tu consegues ser tão fiel a Marta.

- Ah! Isso tu nunca vais entender, porque não sabes o que é amar.

- Como assim? É claro que eu sei. Aliás, não conheço nenhum homem que seja mais romântico e amoroso do que eu.

- Tu és um sem vergonha, isso sim. Pensas que eu não sei? Sempre quisestes e ainda queres pegar todas.

- Cara, tu estás enganado. Eu amo muito. Tenho e sempre tive muito amor para dar, prova disso é que elas não me largam mais depois. É verdade.

- Meu amigo? A diferença entre nós dois está na forma em que vemos e sentimos o amor. Eu tenho certeza que amo e sou amado, já, quanto a você? Não sei não. Quem sabe a Silvia não está se divertindo por ai, heim! Quem sabe...

- Não fale assim da Silvia. Ela é a mulher mais fiel e sensacional que já conheci, e olha meu amigo, eu conheci muitas por aí, muito mais que você sequer imagina.

- Então me poupe desse papinho. Deixe de ser descarado. Se tu mesmo dizes que tem uma “baita” mulher, toma vergonha nesta cara e, “te liga”.

O garçom finalmente chegou com o chope, mas Vitor não interrompe a conversa. Está decidido em convencer o amigo que ele ama Silvia.

- Amigo! Pelo visto tu não entendeste nada, mas vou tentar de novo. Mas desta vez, preste atenção Jorge, porque vai ser a última. Ok! Vamos lá: Silvia é a mulher da minha vida. É ela que eu quero para juntos criarmos nossos filhos e mais tarde, bem mais tarde, um cuidar do outro, então, já velhinhos, velhinhos. Ela é o tesão da minha vida. É o melhor sexo do mundo. É a que cuida melhor de mim, e, veja só? Até gostamos das mesmas coisas. Ela é admirável, perfeita. Ela sem dúvida é a minha paixão. Então, meu amigo? Deu pra entender que a Sílvia, a minha Silvia, é a mulher da minha vida? A mulher da minha vidaaaaaa.

- Mas é muita cara de pau. Tu você não presta mesmo, e...

- Deixa-me terminar. Como eu ia dizer, ela é muito ocupada. Faz mil e duzentas coisas, e eu? Cara! Confesso que sou muito carente, carente ao extremo, e aí, sabe como é...

- Hei! Acho melhor tu melhorar essa frase, diga: carente e sem vergonha...

- Deixa-me terminar, por favor. Estou falando sério, meu amigo. Poxa! Esse é um dos desabafos mais fiéis que já fiz para um amigo. Cara! É sério. Eu preciso muito de carinho, do aconchego...Sou carente pacas, um romântico sem igual. E, então pra “suportar” essa carência toda, eu acabo me entregando as aventuras que eu encontro sem muito esforço, nessa mesma mesa de bar. E aí você sabe, tudo rola muito bem e, cá pra nós, é muito bom. Mas confesso que não passa de uma aventura sem importância.

- Vem cá, Vitor. Tu tens idéia do que poderia acontecer se Silvia descobrisse esse teu “lado carente?”.

- Jorge? Não fale isso nem brincando. Se ela sequer desconfiar disso tudo, me mataria, com c e r t e z a.

- Agora quem vai me escutar és tu, Vitor? Como é que podes dizer que ama, se apronta discaradamente, e ainda desse jeito? Eu que tenho mais de 15 anos de casado nunca aprontei. A minha Marta, minha mulher, também é tudo aquilo que tu disseste da tua, e isso é suficiente pra mim. Isso me deixa feliz. È claro que ela me espera cheirosa, gostosa e às vezes até me surpreende com uns “tipos” de lingerie que são uma loucura...Nossa!

- Jorge, mas a minha também faz...

- Calado. Escute-me. Quando se ama e é amado, não precisamos e nem sentimos a necessidade de procurar mais ninguém, por mais que se goste ou admire as “outras”. Quando se ama com reciprocidade, essa carência que tanto falas não existe, porque é suprida pelo amor do casal. O amor preenche, se expande. Meu amigo, quando tu entenderes que o amor é tudo, com certeza vais largar esses “seus lances” e não vais mais precisar de ninguém para preencher nada,  porque não vai existir nada para preencher. Entendeu?

- Cara! Isso é uma ilusão ou pura filosofia. Vais me dizer que aquela gostosa que esta olhando pra cá, não faz o seu tipo?

- É. Faz o meu tipo sim. Mas, não é disso que estou falando.Quer saber mesmo? Tu és um grande egoísta, Vitor. Um acomodado, sem-vergonha e possessivo. Não conheces o que de fato significa o amor. Quer ficar com a Silvia porque ela é o tipo de mulher ideal, mas quer festa com a primeira bunda gostosa que aparecer rebolando na tua frente. Cresce meu amigo. Sai dessa vida, cara.

- Como tu sabes ser desagradável, hein! Jorge? Não sei porque ainda te agüento. Tu estás ficando velho, velhinho da silva. Estás é com medo de encarar uma mulher dessas? Não é não?  – Falou apontando para uma linda morena sentada na mesa em frente.

- Eu, medo? Pois saiba que essas guriazinhas que você admira tanto, ao meu ver, só têm “bundinha, barriguinha e peitinho”. Cara escute bem: o que eu quero é qualidade, meu amigo, além do mais, não tem nada que substitua o prazer de uma boa intimidade com quem se ama, independente dessas formas físicas que tu tanto admiras. O verdadeiro tesão vem do amor e, “essas aí”, nem sabem o que é isso. Por isso tu usas essa “tua carência” pra se aproximar delas, oferece um pouco de atenção e carinho e, pimba, caem direitinho nessa tua conversa mole e, é claro, não largam mais do seu pé. E o pior de tudo é que ainda acabas te achando o gostosão. Ah, ah, ah, ah! Tu não tens jeito mesmo. Larguei de mão. Que tal bebermos mais uma e irmos embora?

- Não meu amigo, não é bem assim como tu estás colocando a situação. Esse papo é muito mais longo do que tu imaginas. Eu não sou esse sem-vergonha que tanto dizes que sou. Eu amo a Silvia, porém, só estou um pouco carente porque ela anda muito ocupada, já te falei isso.

- Dez anos ocupada? Fala sério!

- Quem é sem-vergonha mesmo, é o André, aquele teu colega do financeiro.  Esse sim tem uma mulher que faz tudo por ele, aliás, ela vive se produzindo, está sempre cheirosa, gostosa, e ainda fica esperando o maridinho chegar...He, he, he. Ele sim, que apronta... Ih! Nem se compara comigo. Eu, no caso, só me reabasteço das minhas carências...

- Está bem, Vitor.  Tu és um santo, eu sou um idiota e o André um sem-vergonha. Cada um na sua, mas pode ter certeza de uma coisa, eu não troco a minha vida por nada. E digo mais, se a milha mulher souber dessa nossa conversa, nós dois ficaremos na rua.

- Tu estás doido, Jorge? Logo tu que é mais fiel que beata de sacristia...

- É, até posso ser, mas ela nunca me perdoaria por omitir essa história com a amiga dela, sabe como é mulher, elas se protegem, sem contar que a Marta é a melhor amiga da Silvia, esqueceu?  Agora vamos, porque já passou da hora.

- Garçom! A conta, por favor!

- Hoje eu pago, mas na semana que vem é a tua vez, ok!

- Está bem, meu grande amigo FIEL, Jorge.

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 19/09/2007
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