Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos

            Tempo de Delicadeza

Como setembro já chegou, atrevo-me a falar deste assunto. Um tanto delicado é bem verdade, pois nos dias atuais, está cada vez mais difícil salvar a própria jugular. A ferocidade com que as pessoas cuidam de seus interesses distancia e impossibilita qualquer gesto mais amistoso. Gestos que se manifestam em momentos inoportunos nos tornam alvos fáceis destes grosseirões devoradores das boas maneiras.  Falo do cuidado com que devemos ter em expor nossa brandura em relação as nossas atividades, embora a vida deva ser vivida com cortesia e polidez. Mas as inversões da sociedade impedem que a delicadeza sobreviva, é a lei do mais forte que impera. Inconscientemente a incorporamos em nossa rotina e também passamos a dotá-la em todas as nossas relações. Relações familiares ou de amizade, onde grosserias e indelicadezas seriam desnecessárias, passam a incorporar esta triste e desnecessária forma de sobrevivência, típica da selva competitiva.

Precisamos encontrar espaços para cultivar velhos princípios que sempre regeram os bons relacionamentos. A simples demonstração de carinho e amizade, hoje vem precedida de desconfiança, ou de interpretações maldosas, independentes dos sexos.  A suavidade no trato com os subordinados, ainda é confundida com falta de liderança. A autoridade só é entendida e aceita mediante a força. Atitude que vem das primitivas eras, e que infelizmente não acompanhou o desenvolvimento científico e tecnológico. Muito pelo contrário, parece que o desenvolvimento moral não pode conviver com o progresso da modernidade.

                A lei e a instituição de um sistema mundial de justiça, com princípios e declarações universais de direitos, pouco servem a não ser balizar timidamente o rumo. O que vemos prevalecer é a força bruta, a guerra e o conflito generalizado. Nesse aspecto, historicamente, as religiões assumiram o compromisso de elevar o homem a um estágio superior, voltado ao amor. Mas, infelizmente fracassaram, basta ver os constantes conflitos religiosos, e a intolerância batendo nas esquinas nas nossas cidades. Então, como disseminar a doçura, a delicadeza e o amor na nossa vida? Certamente essa não é uma questão fácil, mas a resposta esta dentro de nós. No entanto, uma vez encontrada, quase sempre nos falta à coragem para agirmos. Ao avaliamos o cenário que nos espera, a primeira impressão que temos é de que não vamos sobreviver e, conseqüentemente desistimos.  Embora os que isoladamente o desafiaram e se lançaram ao mundo espalhando sentimentos mais elevados, se tornaram ícones de auto-realização e de admiração. Porém, poucos ousam imitá-los.

                Estamos construindo um planeta cada vez mais cinza, matando-o aos poucos, mas que ainda nos sustenta e espera de nós atitudes positivas capazes de tingi-lo com cores mais alegres. As cores da delicadeza de Gandhi, São Francisco e de cada um de nós, basta termos coragem de demonstrá-la. Uma vez externada, dará inicio a um novo ciclo de vida, onde a suavidade, cortesia e franqueza possam se multiplicar.

Se quisermos dar um salto, de qualidade em nossos relacionamentos e conseqüentemente na nossa qualidade de vida, devemos observar os aspectos relacionados à delicadeza. Delicadeza no trato de todos os assuntos que envolvem nossas vidas. Pois ela é a semente de onde brota a árvore dos frutos desejados.

A construção de um mundo melhor passa pela delicadeza, que insistimos em esconder dentro de nós. Seja por questões pessoais ou sociais, mas é, sobretudo a questão cultural de escondê-la e de relacioná-la à fraqueza, que impede que gestos mais fraternos se iniciem em nossas vidas. São essas atitudes, obstáculos que solidificamos diariamente, os principais fatores que nos restringem as mudanças internas e sociais necessárias à construção de um mundo melhor.

A evolução humana deve sair da era do lobo, predatória, individualista para a das borboletas, verdadeiras janelas da alma, para assim acelerar o processo de mudança para o mundo que sonhamos. Não tenho dúvida que esse tempo é agora, e dele, estamos sendo convidados a participar. Podemos, entretanto, negar e mantermos o rumo do rigor, da rusticidade e indelicadeza, porém, haverá um preço a ser pago e a dor é a moeda. Pense nisso.

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 17/09/2007
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