Preocupações pra que?
A responsabilidade de Jorge é acompanhar o desenvolvimento de Mogli na moderna vida urbana. Mogli é o apelido de Sérgio, um jovem que cresceu longe da civilização moderna, após um grave acidente aéreo que vitimou seus pais em uma pequena ilha do pacífico. Foi criado pelos nativos das montanhas inexploradas do interior da ilha e aprendeu a viver uma vida simples longe de qualquer tipo de estresse da sociedade de consumo.
A missão de Jorge, além de acompanhar, é facilitar o processo de adaptação de Mogli à vida urbana. Como era de se esperar, a curiosidade natural do ser humano se torna mais aflorada no jovem Sérgio, diante de tantas novidades que a civilização passou a lhe apresentar, quase que diariamente. Rapaz saudável e inteligente, logo se adaptou aos principais padrões de comportamento e urbanidade que a nova sociedade lhe impunha. No entanto, continuava sentindo-se um selvagem, pois não conseguia compreender certos comportamentos do homem civilizado. E, é nessa hora que Jorge, o tutor, é acionando para esclarecer certas preocupações ou qualquer outro questionamento, sempre considerado incoerente por Mogli. A última grande missão foi explicar ao amigo tutelado a importância da preocupação.
Mogli observou que todos os civilizados viviam falando que estavam preocupados. Valorizavam a preocupação e parecia que, quanto maior a carga de preocupação expressa por um individuo, mais responsável, importante e até admirado ele se tornava diante dos demais. Percebeu então, que precisava urgentemente saber como poderia fazer para se preocupar, e insistia em perguntar ao amigo.
- Como faço para me preocupar?
Jorge, um intelectual com múltiplas formações na área humana sentiu-se obrigado a fornecer-lhe a resposta adequada. Mas, logo percebeu que essa não seria uma resposta fácil, especialmente diante de um indivíduo inteligente e inocente como Sérgio. Pensou em juntar algumas boas razões para convencer o amigo, como argumentar que a preocupação pode resultar em motivação ou também falar-lhe da contribuição que essa poderia ter para a busca de soluções de problemas ou até mesmo a importância que a preocupação tem, para não ser pego de surpresa. Por mais que insistisse em mostrar a importância da preocupação ao amigo Mogli, as fragilidades de seus argumentos ficavam mais evidentes e mais facilmente era contestado.
No entanto, logo percebeu que, se não explicasse o porquê, não iria satisfazer o questionamento, afinal, a pergunta principal era como fazer? Mogli realmente estava disposto em se preocupar, uma vez que percebia que esse hábito era bastante valorizado na sociedade, que agora estava inserido. O prestativo tutor tratou de formular mentalmente algumas frases para que o amigo pudesse ter a experiência de preocupar-se e vivenciá-la, literalmente, pensando:
“Quando algo ruim acontecer...”. Mas logo desistiu, pois o amigo certamente lhe diria: “mas você se preocupa com coisas ruins que ainda não aconteceram”. Isso seria uma atitude sem qualquer indício de inteligência e procurou reformular o pensamento. “Quando algo esta prestes a acontecer ou, quando você imagina que possa acontecer...”. Mas, novamente haveria o simples argumento: “mas como saber se isso vai acontecer, porque quase tudo o que você se preocupa não acontece”. Ou ainda: “porque você fica imaginando coisas ruins que poderiam acontecer... seria muito mais inteligente imaginar coisas boas”.
O tutor logo percebeu que estava diante de um assunto que jamais havia dedicado tempo para pensar e imediatamente ficou clara a inutilidade das suas preocupações. Percebeu que não havia um motivo construtivo que pudesse justificar a preocupação, inclusive em sua vida, porém, lembrou-se que se o amigo quisesse aprender a se preocupar, teria uma maneira mais fácil para ensiná-lo. Seria o método que aprendeu quando ainda era criança, ou seja, acrescentar a cada pensamento, frase ou ação a expressão “e se”:
Sabia que, embora o amigo fosse uma pessoa com uma mente voltada ao desejar, pensar e imaginar somente o melhor que se conseguisse fazê-lo era incorporar estas três letrinhas em seu vocabulário e logo, logo conheceria a preocupação. Aí estava o como, bastava apenas adotar o “e se”.
Assim, Mogli em pouco tempo aprendeu a se preocupar com questões improdutivas, levando-o a conhecer o estresse e todas as complicações decorrentes da manutenção de pensamentos impróprios e obviamente sentiu-se perfeitamente integrado a vida civilizada.
Conto esse fato aos amigos para que despertem para a necessidade de abandonar as preocupações. Falo de preocupações improdutivas que são a maioria absoluta. Existe um pequeno número que devem ser consideradas, porém essas, são as preocupações positivas que podem ser facilmente identificadas, com três simples questionamentos: Posso tomar alguma providência imediatamente? Posso fazer alguma coisa que conduza a solução? Essa minha preocupação é plausível ou razoável?
Se a resposta for três sim, então a preocupação é positiva, trate de abandoná-la e dedique-se imediatamente de acionar a estratégia da solução do problema.
Agora, se francamente houver alguma resposta negativa, você está se estressando desnecessariamente, sua preocupação não trará nenhum benefício, seja próprio ou para quem você tanto quer bem.
Caso sua preocupação seja baseada no desejo de ajudar, de melhorar, abandone-a assim mesmo e direcione seu pensamento para algo que realmente possa ajudar, como fazer uma oração.
A preocupação é tempo perdido. É algo absolutamente improdutivo. E, se você acha que sua preocupação pode lhe ajudar é engano, trata-se de pura presunção. Pois, a maneira mais eficiente e realmente eficaz é você pensar em algo positivo e desejar de todo o coração que isso aconteça, ajudar, auxiliar no que for possível. Porém, não insista muito, porque cada um tem o seu caminho a fazer.
Lembre-se, só há uma pessoa responsável pela sua felicidade e que pode ser reconhecida diante do espelho. Se o “e se” estiver sempre presente nos seus pensamentos, frases e ações, abandone-os ou complemente-os com coisas construtivas e pensamentos positivos. A preocupação além de fazer-nos sofrer, nos confunde e facilmente nos faz inverter prioridades. Muitas vezes deixamos de perceber o essencial para fazermos o importante, mas acabamos mesmo fazendo o banal.
Se você é daquelas pessoas que pensa que suas preocupações podem melhorar o mundo, espero que tenha a humildade de repensar. Mas, se preferir continuar, fique com sua preocupação, porém tem o dever de respeitar e permitir que cada um possa conduzir sua própria vida. Pense nisso.