O verdadeiro amor animal
Um insistente, toc, toc, toc os desperta. Ela responde:
- Mamãe já vai.
Sorridente, ele olha para a amada é diz.
Amor! Tive um sonho sensacional...
Antes que pudesse terminar ela o interrompe.
- Duvido que seja melhor do que o meu. Nós éramos animais...
- Já sei? Não precisa nem falar.
- Tigres?
- É, isso mesmo. Tigres.
A mão sobre o abdômen o fez retroceder ao momento em que passava em frente ao espelho e percebeu que estava perdendo a batalha, que o “pneuzinho” continuava resistindo a algumas dedicadas horas de academia.
Aconchegou-se na amada pensando que deveria encontrar uma forma de eliminá-lo, já que, na hora da entrega total não havia modo de disfarçá-lo. Enquanto sentia o calor daquele corpo penetrar em sua alma, beijava-lhe as costas. Como se ela procurasse uma posição mais confortável para descansar após aquele intenso amor, esticou as pernas e o surpreendeu com uma ágil manobra, posicionando-se sobre seu corpo.
Em lentos e cadenciados movimentos, entre beijos e caricias se deixou levar pelo prazer. A maravilhosa sensação o conduzia para uma outra dimensão. Não sabia definir, simplesmente sentia. As mãos que acariciavam suas nádegas, aos poucos pareciam não mais sentir a suavidade daquelas formas. Enquanto percorria as costas, ainda percebia a maciez daquela pele, mas ao chegar à face, o tato já não respondia mais. A intensidade da sensação física era tanta, que foi transportado para uma dimensão superior, deixando-se conduzir por aquele mundo desconhecido, vagando nos caminhos do prazer.
Sem consciência exata do que se passava em sua volta ou consigo mesmo, se transformou num filhote. Num filhote de tigre branco. Era impossível descrever a sensação que sentia. Sugava-lhe os seios, como se fosse um filhote sugando a mama em busca do alimento que necessita para sobreviver. Ao mesmo tempo em que se sentia seguro por estar fazendo parte daquele corpo, na exata consciência de que dali nascera sua essência felina.
Num mundo inexplicável, entre xamanismo e complexo de Édipo ou outro misticismo qualquer, o amor transcendia. Certamente não se limitava a aqueles corpos físicos. Era como se almas primitivas se reencontrassem de um tempo longínquo, superando a saudade com aquele banho de amor. Aquele amor animal, envolto em um suave torpor continuava a dominá-los e os conduzia por trilhas conscientemente inimagináveis. Mas a eternidade das almas sabiamente fazia com que experimentassem o “paraíso”.
A cama era uma verdadeira toca, onde os tigres seguiam seus instintos em um ritual secreto. Os dois humanos pareciam estar somente observando a cena, como se aqueles “corpos animais” não lhes pertencessem. Entre bramidos chegam ao ápice do prazer e perdem a consciência para recuperá-la algum tempo depois.
Agora exaustos, trocam olhares e, um sorriso que expressa muito mais que satisfação.
... O toc, toc, toc da porta, insiste.