Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Lágrimas no Oceano

As águas límpidas e transparentes da baía arrebentavam em pequenas ondas na bela praia. Entre as pedras, algumas sereias ainda contemplavam o luar, já as mais animadas, afinavam a voz cantarolando pequenas canções de amor.  A espera do verdadeiro amor sonhavam acordadas. As mais experientes e atraentes, contavam suas aventuras amorosas para o encantamento das mais jovens. Sile, a mais romântica, despertava maior interesse pela sua intensa relação de amor vivida por alguém da sua espécie. Apesar do seu amor “eterno” ter durado pouco, ela ainda nutria o mesmo sentimento de outrora. Descrevia intensamente e com muita emoção para as jovens sereias, todos os detalhes daquele inesquecível amor. Narrava sua história com tanto prazer e emoção, como se a estivesse revivendo, o que na verdade acontecia.  As noites tornavam-se curtas e inebriadas de tanta paixão. Sile amanhecia com um pequeno grupo pedindo que contasse mais, mais, e mais.

Apesar de ter vivido outros amores, aquela era a história que permanecia viva, que fazia questão de contá-la e recontá-la quantas vezes fosse preciso.  Alimentava a certeza de que aquele amor não havia acabado e que o tempo o traria de volta, afinal, sabia que estava destinado a ela. Conhecia o tal livre arbítrio que algumas das colegas afirmavam ser o verdadeiro destino, mas sua fé no velho e bom destino que sua mãe costumava traduzir nas palavras “o que tem que ser será”, falava mais alto. Porém, não era nada comparado o que seu coração sentia. A convicção e a felicidade estavam embaladas naquele amor. Nada e ninguém poderiam removê-la daquela certeza.

Lembrou-se certa vez, em uma consulta ao velho Xamã da floresta, ouvira que há tempo para tudo. Que o universo proporciona as mesmas possibilidades para todos, porém, cada um no seu tempo. Sile sabia que não seria esquecida, no entanto, a ansiedade era o sentimento que deveria ser superado. A dimensão terrestre foi o local apropriado e a oportunidade se apresentou, não lhe restando alternativa a não ser dominar o que tanto a atrapalhava, sua ansiedade. Naquela época parecia uma tarefa difícil, mas agora estava superada, graças ao imenso amor que nutria e que ainda iria vivê-lo. Seu povo conhecia as várias dimensões do universo, e isso lhe dava a certeza de que seu amor seria vivido, embora não soubesse em que dimensão seria.

Assim, a sedutora Sile encantava sua platéia e aliviava os apertos do coração. Apesar da harmonia e compreensão que caracterizava aquele povo, era invejada por algumas e considerada sonhadora por outras. 

Todas acabaram se tornando assíduas e fanáticas fãs de Seci. Seci tornou-se a mais nova romântica e fascinante contadora de histórias daquela baía. Ela se emocionava juntamente com suas colegas, enquanto descrevia o imenso amor de quem um dia fora considerada a mais romântica e sonhadora sereia da região. O ponto alto da narrativa é a chegada do amor de Sile na enseada. Narram-se todos os detalhes, do mais romântico dos reencontros amorosos, tudo é minuciosamente descrito, mas nem todo o talento de Seci, regado ao seu imenso romantismo consegue transmitir com palavras, a intensidade com que aquele amor se concretizou.

Até hoje, em todas as noites de lua, esse amor ainda é lembrado pelas palavras de Seci, enquanto lágrimas de emoção fluem das faces, garantindo assim a salinidade dos oceanos.

 

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 10/07/2007
Alterado em 20/01/2008
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