Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Atitude

A porta se abre lentamente. Gervásio ergue levemente os olhos, enquanto Danise , entra calmamente pela porta. Imediatamente percebe que o assunto não é de trabalho, e se antecipa perguntando. - O que foi meu amor?
- Nada, não! Dr. Onófero avisou que não retorna à tarde e eu preciso do seu carro, pois tenho uma consulta a fazer. Linara, minha assistente, cuida de sua agenda. Pode ser?
- Tudo bem. Mas, o que houve? Você está bem? Vai consultar?
- Está tudo bem. Vou levar o carro, então. – Respondeu com uma voz grave e deu as costas, dirigindo-se à porta.
Tentando amenizar a conversa, ele argumentou.
- Tire à tarde de folga e faça o que for preciso, meu amor. Conversamos no jantar. Teve um mau pressentimento, mas preferiu confiar no amor de Dani, em seu poder de argumentação e, continuou trabalhando.
Danise desceu até a garagem apressadamente e pegou o carro. Precisava atravessar a cidade em menos de uma hora, tarefa difícil naquele horário. Enquanto brigava com o pesado trânsito, confirmava ao celular o endereço da cartomante. Estava decidida a fazer uma consulta definitiva e provar a colega e confidente Linara que todos aqueles anos de amor ao chefe, estavam próximos de um final feliz.
Gervásio definitivamente parecia ter tomado coragem na última semana. Passaram todas as noites juntos, e ele, demonstrando-se cada dia mais atencioso e amoroso.
Finalmente, aqueles longos anos vividos com aquele amor pela metade, ficariam para trás. A alegação que os filhos ainda eram muito crianças, estava superada com o ingresso do caçula no colégio.
O caminho para Danise viver seu grande amor, parecia estar finalmente livre, se não fosse aquele telefonema interceptado involuntariamente pela amiga.
O que ele desejava tratar com ela depois de uma semana? Ao mesmo tempo em que encontrava um milhão de razões para este questionamento, a insegurança martelava-lhe a cabeça. Será que eles ainda estão juntos? Não, ele não faria isso comigo. Mas que mal faria uma consulta? Nenhuma, serviria para espantar aquela insegurança repentina e ainda provar a amiga que estava certa.
Consultar a cartomante fora uma indicação de Linara, que astuta e velha companheira do Doutor Gervásio, intimamente duvidava que ele pudesse desfazer a família pelo amor a Dani.
Linara gostava da jovem Danise como se fosse sua filha, queria vê-la feliz. Inicialmente aconselhou-a afastar-se de Gervásio, mas após algumas discussões, achou prudente calar-se.
Danise finalmente encontrou a rua, mas antes de localizar a residência, pensa em desistir, afinal, tinha provas suficientes de que era amada, sentia e sabia disso. Mas, restava o prazer de provar a amiga que estaria certa, que a infalível cartomante que lhe havia indicado, simplesmente confirmaria o que ela já sabia.
Foi recebida na porta por uma jovem, que pediu para que aguardasse na ante-sala. Alguns minutos depois, foi recebida por uma senhora muito simpática, que a conduziu atá uma pequena sala, no fundo da residência.
A simpática senhora perfumou-lhe as mãos, os punhos e a nuca. Uma toalha de um vermelho intenso cobria a pequena mesa que as separava.
A cartomante sorridente fixou o olhar e perguntou:
- Carta ou búzios, milha filha?
- Tanto faz – respondeu surpresa - não sabia que havia duas opções.
- Se não sabe o que quer, não precisava ter vindo – respondeu seriamente.
- Quero saber do meu amado. Qual a forma? tanto faz, à senhora é quem deve saber.
- Está bem filha, pressinto que devemos jogar búzios. São só dez reais a mais, mas o resultado é mais claro, eu lhe agaranto.
- Tá – foi o que a ansiedade fez saltar-lhe pela boca.
- O que quer saber, filha?
- Preciso saber se o Gervásio me ama.
A simpática senhora agora parecia outra mulher, com uma expressão séria, totalmente carregada, joga os búzios. Olha fixamente para o tabuleiro, com os búzios espalhados aleatoriamente e fala repentinamente:
- Homem bom, coração grande minha filha, sabe amar como poucos. - Sim, sim, é ele. Mas, ele me ama?
- Claro! minha filha. Ama muito.
- Obrigada, obrigada! Eu só queria confirmar isso. - Danise abre um sorriso, e involuntariamente percebe-se de pé.
- Calma filha, você pode perguntar mais,... os búzios tem muito a falar.
Danise já ouvira tudo que precisava. Receosa em perguntar mais coisas, agradece novamente.
- Obrigada, estou satisfeita. Quanto lhe devo?
- Pergunte o que gostaria de perguntar. Não vieste aqui só para isso. O que tens medo em saber?
Ao ouvir essas palavras, Danise estremeceu. Não queria saber mais nada. Imediatamente arrependeu-se por estar ali. Sentou-se novamente, sabia que não poderia sair com a mesma dúvida que a trouxera. Precisava dar um basta nesta angústia e insegurança. Estava cansada de viver pela metade.
Respirou fundo e perguntou:
- Sou a única mulher da vida dele?
- Não minha filha, há uma outra entre vocês.
Ao ouvir essas palavras sentiu como se uma lâmina lhe transpassasse o coração.
- Antes ou depois de mim? – Socorreu-se na esperança de tratar-se da ex-mulher de Gervásio.
- Antes e depois.
- Como assim? Você não sabe de nada – falou quase que aos berros.
- Calma! Eu vou lhe explicar. Há uma mulher que faz parte da vida dele, e que continuará a fazê-lo.
Danise moveu suavemente a cabeça como que interrogando.
- Ele jamais deixara essa mulher, e...
Danise levantou-se, jogou uma nota de cem reais sobre a mesa e saiu apressadamente.
Sentou-se no carro e sintonizou uma música alegre. O telefone tocou, lembrou que fora um presente dele e deixou tocar, tocar, e tocar...
Ligou o carro e dirigiu calmamente até chegar no controlador de velocidade. Onde acelerou deliciosamente, pensando na cara de Gervásio ao receber a multa. Isso a deixou um pouco aliviada. Resolvendo então, repetir o ato pelos demais controladores das avenidas, ruas e esquinas, ao som de Legião Urbana, que Gervásio odiava .
Quando o telefone voltou a tocar, não teve dúvidas em atirá-lo pela janela. De longe, percebe que está sendo observada pelos taxistas e estaciona ali mesmo, em local proibido. Calmamente se aproxima do ponto, mas antes joga a chave no ralo de ventilação dos canos de esgoto. A chave representava toda sua mágoa e o amor por Gervásio. Queria que fossem levados pelo esgoto.
Agora Dani precisava de um telefone, sapatos, bolsas e roupas novas. Pegou um táxi e foi ao shopping.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 12/06/2007
Alterado em 14/06/2007
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