O Pesadelo do Vôo 747500.
Não há como não observar a linda paisagem que vai se apagando ao leste. Lentamente as nuvens vão cobrindo os últimos raios de sol e pesadas nuvens vão apressando a final do dia.
Finório aguarda impacientemente o vôo 747500 com destino a New Bassan City, e o seu primeiro vôo. Pequenas viagens de ônibus, haviam sido seus maiores experiências, conhecia os aviões da televisão, mas agora iria sentir o “prazer” de voar.
Procurava observar os demais passageiros, para imitá-los e assim disfarçar sua inexperiência e nervosismo. O sistema de informações convida os passageiros a embarcarem, e ele segue no ritmo dos demais e ruma para o parta do avião, acondiciona a pequena bagagem de mão e senta-se junto à janela. A visão limitada permite observar somente o céu escuro ao longe, imagina como será a viagem lá no alto, se ira passar pelas nuvens, sua mente voa, quando percebe que a chefe da tripulação já esta orientando os procedimentos de segurança para iniciar o vôo. Os minutos seguintes são como uma eternidade. Quando percebe que está tudo calmo cria coragem e olha pela janela, deslumbrando-se com a visão lá de cima. Fica impressionado com a dimensão da cidade, observando a quantidade de luzes que se espalham por todo o seu campo de visão. Não tira o olho da pequena janela, quando já esta se sentindo adaptado ao ambiente, houve o comandante informar a irão enfrentar uma pequena turbulência e o medo volta com maior intensidade. Procurar lembra das estatísticas, que demonstram que a transporte área é mais seguro que o rodoviário, mas não consegue se convencer. Lá fora os raios ao longe se confundem com o piscar das luzes da aza a sua direita. O Avião parece tremer, e pequenas oscilações ganham maior freqüência.
O aviso de atar os cintos vem acompanhado do comunicado da suspensão do serviço de bordo. Um choro infantil lá na frente, rompe o silencio, da poltrona a sua frente houve uma criança dizer a mãe que esta com medo e como resposta é orientada a rezar.
Resolveu seguir o conselho, mas pareceu mais prudente reler as instruções da saída de emergência. Ainda bem que estava justamente na fila de emergência, mas logo estremecer quando percebeu que estava na poltrona 13 A.
Temendo ser descoberto em seu pavor, não olha os demais passageiros, simplesmente observa a janela como um veterano.
Agora a escuridão toma conta da paisagem, alguns pontos de luz indicavam a localização das pequenas cidades. A turbulência dá uma trégua e o cansaço do dia, leva-o ao sono.
De repente os sucessivos focos de luz das pequenas cidades lá embaixo, tomam forma de pegadas flamejantes, e os raios reluzentes acompanhados de trovoadas transforma-se em espirros do anjo caído. O retorno da turbulência, lhe dá a certeza que foi capturado e esta nas mão do gigante das trevas. Inesperadamente lembra-se da padaria do Joaquim, em que para adoçar o seu tradicional pingado, era preciso várias batidas no açucareiro para conseguir um pouco de açúcar.
Sentia-se o açúcar que iria cair no liquido quente, só que nas garras do senhor dos infernos querendo expulsá-lo do aparelho como se fosse o açúcar e fazê-lo cair no fogo do inferno.
Atordoado, tenta espinhar as pernas para relaxar e observa luzes coloridas piscando no assoalha, imediatamente pensou nas luzes de emergência assinalando a saída. Sonolento levanta-se apressadamente, mas é contido pelo cinto, ainda afivelado. E imediatamente sente um liquido escorrer pela perna, por alguns segundo pensa o pior, mas ao despertar completamente e tomar conhecimento da real situação, sente-se ainda pior. As luzes do chão nada mais eram do que o pisar da criança a sua frente que estava usando um tênis de luzinha. E o liquido que escoria pela sua perna, era apenas o suco derramado do lanche do passageiro ao lado, derramado ao levantar-se tão abruptamente ao acordar do pesadelo. Diante da situação, entre pedidos de desculpas ao colega ao lado e a aeromoça, queria que um alçapão se abrisse sob seus pés. Se pudesse escolher não teria dúvida em preferir a realidade do pesadelo que o constrangimento de a situação, que se estendeu até a chagada do hotel sempre observado pelo destaque da calça molhada.
E assim o doutor Finório, atualmente um respeitado psiquiatra, vivenciou, apreendeu e procura transmitir aos pacientes, especialmente aos mais fatalistas, que viver um pesadelo, pode não ser a pior coisa da vida.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 01/05/2007
Alterado em 02/05/2007