Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Sutileza Paterna

Na sombra dos eucaliptos, ia construindo uma cerca. Queria que fosse intransponível. Não conhecia a tecnologia moderna, no entanto, construira um sistema tão seguro quanto uma cerca elétrica. Consistia de uma vala profunda, onde na borda espalhara uma pequena quantidade de terra arenosa. A “mistura”, era uma técnica desenvolvida através da constante observação, ela seria de extrema utilidade, uma vez que, tornando a vala escorregadia, frustraria qualquer tentativa de fuga, pois dificultava alcançar os limites da cerca. Embora nunca tivesse visto uma, nem mesmo pela televisão, o sistema era muito parecido com o de alguns estádios de futebol, em que o fosso isola o campo da torcida.
A matéria prima para a construção do gigantesco cercado, era extraída das proximidades. A natureza abundante e ainda preservada, facilitava o trabalho.
Praticamente todo o material necessário era retirado do bosque de eucaliptos, inclusive a sombra que minimizava o calor abafado do verão.
A construção transcorria normalmente, apesar dos constantes incidentes dos animais que pretendia aprisionar. Os animais viviam em sociedade, e construíam seus ninhos em toda a parte. Buscavam o alimento preferido junto às plantações da família, causando enormes prejuízos em uma única noite.
O aspecto desses animais de corpo formado por uma série de segmentos, era de causar repulsa em qualquer vivente. A cabeça, com um par de antenas incessantemente agitadas, como se fossem os atuais radares funcionavam como órgãos de olfato e tato. Contavam ainda com um par de olhos enormes, colocados ao longo da cabeça, além da imensa armadura bucal. Uma verdadeira máquina destinada a triturar e picar. Quando adultos alguns ostentavam um par de asas, causando um aspecto ainda mais assustador.
Aprisioná-los, era um trabalho muito difícil, realizado com muito afinco. O perigo provinha da enorme quantidade, que facilmente atacava enquanto algum membro da sociedade era capturado. Um trabalho importante e necessário. Precisava livrar-se daquelas pragas que comprometiam em pouco tempo toda a colheita de uma safra.
Rodolfo conseguia em poucas horas aprisionar um quantitativo superior a cem animais. Era necessário constante vigilância e freqüentes reformas na cerca, especialmente na vala, pois com a freqüente insistência em tentar escalá-la, as patas dos animais acabavam provocando verdadeiras avalanches de terra arenosa.
Assim, o pequeno Rodolfo passava seus dias ajudando os pais no cuidado com a plantação. Aprisionar formigas a sombra dos eucaliptos, era a forma que os pais haviam encontrado de entreter o filho, enquanto cuidavam da plantação. A técnica consistia em fazer Rodolfo sentir-se útil. E, para os pais, a brincadeira também permitia que eles pudessem trabalhar tranqüilos, e sem interrupções.

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 13/04/2007
Alterado em 06/06/2007
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