Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Amor Pérfido

Estava apressado e, despediu-se no portão. Não queria perder o último bonde que o levaria até o morro. Precisava estar descansado para o trabalho das 07h30min do dia seguinte. Perder o emprego a uma altura dessas, jamais poderia ser cogitado, pois resolvera se casar. As despesas iriam aumentar, aliás, já aumentaram com a compra dos móveis para casa nova. Os últimos preparativos que acabaram de acertar, ficaram no orçamento que ele previra e no gosto que ela queria. Até nisso os dois combinavam. Não tinham a menor dúvida de que seria a oficialização de um relacionamento feliz.
Envolto nesses pensamentos, quase perdeu o bonde, mas conseguiu um lugar, sentado e continuo naquele sonho. Lembrou como o destino os juntara das alegrias daqueles anos de namoro, dos preparativos para o sábado de festa e a sonhada família que iriam construir.
Desceu no pé do morro. Todavia, havia mais uma longa escadaria a escalar para chegar ao casebre humilde de sua mãe. Seria sua última semana naquele lugar, visto que, no sábado após o casamento, já estaria em um novo lar e endereço. Um modesto lar, mas elegante. Um lugar onde também passariam à lua de mel. O conjunto residencial ficava na zona sul, muito próximo à natureza e distante do corre-corre do centro.
O casal resolveu substituir a viajem da lua de mel, para comprar uma televisão. Um luxo para poucos na vizinhança. Na semana seguinte, segunda-feira após o trabalho, Paulo, um amigo de infância, se predispôs a colaborar. Ajudou a carregar aquele aparelho pesadíssimo da loja até a nova residência, assim economizaria o frete da entrega. Apresentou a casa ao amigo, agradeceu e despediram-se. Ansioso com a nova aquisição, resolveu instalar o aparelho.
A emoção e o significado de mais uma conquista, levaram-no a esquecer das horas e perdeu o bonde. Como não havia alternativa, teria que passar a noite ali mesmo na nova casa. Saiu para comprar um lanche e uns produtos de higiene pessoal. Ao entrar no primeiro armazém que encontrou, deu de cara com Juliete, uma antiga colega do colégio. Em poucos minutos de conversa, já haviam resgatado a velha intimidade. Falou sobre o seu casamento, do ingresso na faculdade, das lembranças de alguns amigos e pra finalizar, descobriram que seriam vizinhos.
Ela, toda orgulhosa, gabava-se de sua independência. Morava sozinha num apartamento nos fundos ao do Marcio. Insistiu tanto pra conhecer o apartamento que não teve alternativa, foi conhecê-lo, mas, acabou conhecendo muito mais.
Gostou tanto do “cantinho” da Juliete, que passaria a freqüentá-lo durante o resto da semana. Chegou atrasado ao trabalho e, intrigantemente feliz.
Passou o dia todo se culpando por aquela traição e jurando que aquilo jamais aconteceria novamente. No final do expediente, descobriu que não podia cumprir o juramento, foi direto para a casa de Juliete jurar-lhe amor eterno.
Não queria dizer aquilo, mas as palavras fluíam naturalmente da sua boca, vindas do seu coração saltitante. Não tinha nenhuma dúvida que a amava, assim como, também sabia que estava sendo retribuído. Acreditavam que a laranja estava completa.
Os colegas atribuíam tamanha felicidade a proximidade do casamento, mas a razão mesmo, era a Juliete. Márcio sabia disso, mas não ousava nem pensar no assunto, casamento. Queria que o tempo parasse com ele e Juliete juntos. Nada mais seria necessário poderiam viver somente do amor e nada mais os impediria para serem felizes. Sentia-se um gladiador gigante, capaz de enfrentar qualquer batalha. A prudência que sempre o guiou, agora era vista como medo. Medo de viver e de prosperar. De amar um medo, que não existia mais. Agora tinha certeza que seria feliz.
Na sexta-feira, haviam combinado um jantar especial regado a vinho. O vinho foi mantido, mas o jantar especial acabou num sanduíche caseiro. Em pouco tempo, foram vencidos pelo vinho. Adormeceram trocando e complementando sonhos. Havia sonhado com a amada Juliete. Acordou cedo, beijou-lhe a face, os lábios e saiu apressado. Ao subir a escadaria do morro, encontrou sua mãe que já o esperava na porta. Márcio vestiu-se e foi direto para a igreja.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 10/04/2007
Alterado em 10/04/2007
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