Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
Uma Breve Viagem
A estrada cortava a serra em um ziguezague, como se quisesse fugir dos morros mais altos. Porém, ao chegar no morro que antecede a chegada na casa grande, escolheu cortar o cume e descer direto, dividindo-o ao meio, para depois continuar nas sucessivas curvas.
Ao chegar no topo do morro, é possível visualizar o casarão e boa parte das instalações próximas. A casa é de dois andares, além de um porão imenso e um sótão. Ela está alicerçada sobre enormes troncos de árvores, sendo que o porão foi edificado com tijolos e barro porque o cimento naquela época ainda não era conhecido. Os andares superiores eram de madeira de araucária, até então, abundante na região.
Tábuas de cinco metros e meio, com dois centímetros de espessura juntavam-se para contornar a enorme habitação. O telhado era bastante alto e fortemente inclinado para evitar que a neve se acumulasse, embora nunca tivesse nevado mais que alguns flocos em anos cada vez mais espaçados. As janelas simetricamente localizadas do porão ao sótão, eram estreitas e altas, recortadas por pequenos e numerosos vidros retangulares, assim como as portas, só que essas, na metade inferior ganhavam grossas almofadas delicadamente esculpidas em madeira nobre.
Descendo a estrada, à direita, um pequeno portão dava acesso à entrada da propriedade, que ficava distante, aproximadamente uns trezentos metros. O Caminho era amplo e se dividia ao encontrar uma verdejante cerca viva, direcionando um lado para a entrada do porão e outro para a entrada principal. Logo após a bifurcação, um enorme cinamomo sustentava em seus galhos dois balanços.
Todo o acesso principal era acompanhado, a direita, por uma malhada de palmeiras centenárias que se estendiam até uma pequena construção, localizada no canto superior direito do pátio, a qual fora a primeira residência. Ao lado desta, um pequeno telhado abrigava um forno de barro, no qual exalava um aroma de pão fresquinho pelo menos duas vezes por semana.
Da porta principal do casarão podia-se observar o amplo pátio, quase todo de chão batido. Algumas áreas apresentavam pequenas quantidades de grama, já outras, formavam pequenas poças d água sempre que chovia. Além das palmeiras, um enorme parreiral subia a encosta, ladeando a estrada. Um pouco mais a esquerda, um enorme pomar, onde os caquizeiros exibiam seus exuberantes frutos.
Além das palmeiras e do gigantesco cinamomo no pátio, enormes nespereiras uniformemente alinhadas entre a antiga residência e a atual, exibiam suas grossas raízes, expostas pela erosão. Mais a direita, quase na lateral da casa, junto a um tanque de lavar roupas, um grande varal tremulava entre as laranjeiras. Um pouco mais atrás, havia um galinheiro e a “casinha”. A casinha servia para depositar as necessidades fisiológicas dos moradores. E bem lá no fundo, iniciava um outro parreiral que se estendia até um pequeno alambique, localizado a beira de um córrego, cuja nascente ficava a poucos metros dali. As demais construções ficavam nos fundos da antiga residência e resumia-se em um pequeno chiqueiro, uma estrebaria e um paiol, onde era guardado tudo que se colhia da roça. Havia também um pequeno puxado que abrigava um arado e uma carroça, além das ferramentas, como enxadas e foices.
O que se produzia de mais nobre, era guardado no porão da casa. Era o local exclusivo para pendurar os salames, abrigar as enormes pipas de vinho, a graspa feita no próprio alambique, além da comprida mesa de madeira, usada para a matança do porco.
Rodolfo imediatamente percebe que não consegue mais voar. Sim, estava voando como se fosse o super-homem do cinema. Era uma experiência estranha, porém muito boa. Ele podia lá do alto, não só observar, como também reviver os primeiros anos de sua vida, passados naquele cenário, que por ora, ia sumindo devagarzinho junto com a claridade que ameaçava arrastá-lo.
E, assim que a enfermeira terminou de aplicar o medicamento, o “bip” do monitor voltou a se estabilizar, trazendo tranqüilidade para todos. Finalmente, médicos, enfermeiros e auxiliares, puderam comemorar a chegada do ano novo naquele CTI, vitoriosos com o sucesso do tratamento.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 20/03/2007
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