Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
Lições de uma vida.
Ninguém sabia exatamente quando ou quem foi o responsável pela simplificação. A hipótese mais provável atribuía a responsabilidade aos netos, como forma carinhosa de referir-se ao velho patriarca que viera da Itália ainda criança. Alberto, o nono Berto, era um homem trabalhador que se embrenhou no mato com “a cara e coragem”, como ele mesmo costumava dizer. Criou doze filhos ao lado da nona Berta, que na verdade chamava-se Maria. Fabulosa mulher, que bravamente lutou ao lado do marido, abrindo clareiras na mata para produzirem o sustento. Os afazeres domésticos eram realizados entre uma mamadeira, um ninar no caçula, e um balde de água apanhado do poço a quinhentos metros de casa.
As condições de vida eram precárias em todos os sentidos, muitas vezes os animais selvagens rondavam a pequena cabana, a procura das crianças. Várias famílias já haviam perdido filhos, subtraídos sorrateiramente pelas temíveis onças pintadas. Uma desgraça comentada freqüentemente nas noites de serão, com os longínquos vizinhos.
Nono Berto partiu vinte anos antes da amada Maria, que resistiu até os noventa e sete anos, com seu principal objetivo alcançado. Homem de fortes princípios, rígido disciplinador e fervoroso devoto de São Judas Tadeu, conseguiu transferir aos filhos os mesmos valores, especialmente o valor do trabalho e da fé. Além de alguns poucos hectares de terra, pedregosa e montanhosa, difíceis de cultivar, conseguir deixar enraizado na mente de cada um deles, mais que seus valores. Deixou provavelmente sem saber, o que de mais precioso possuía. O otimismo.
Nono Berto não conhecia as letras. O polegar era sua marca, mas possuía uma sabedoria intrínseca de dar inveja aos renomados autores, dos maiores best sellers da auto-ajuda. Era um homem próspero e venturoso. Sentia-se um vencedor, realizado através do sucesso pessoal.
Ele corretamente afirmava que o otimismo levava ao sucesso, justamente o contrário da grande maioria das pessoas que até hoje acreditam que o sucesso leva ao otimismo. Este pequeno ensinamento, hoje cientificamente confirmado, não só o levou a realização pessoal, como foi fundamental para que os filhos prosperassem. Ensinava que o segredo do sucesso é ir além do ponto que o pessimista alcança. Não ultrapassar esta barreira e contentar-se com pouco, é aceitar a visão do fracasso, é não ter fé no próprio merecimento. É necessário superar esta barreira e perseverar, sempre acreditando no melhor, vigiando o pensamento para que esteja direcionado para o otimismo.
Naquela época, a depressão uma das maiores doenças da atualidade ainda não era conhecida. Ninguém sofria dessa verdadeira “epidemia”, claro que os pessimistas vão dizer que era porque a luta pela sobrevivência devia ser tão intensa que não sobrava tempo para a depressão, mas os otimistas sabem que não. A razão é muito simples, um pessimista sempre encontra nos seus pensamentos limitantes os motivos positivos para justificar seus insucessos. Apoiado nesta falsa justificativa torna-se incapaz de pular o muro que o levaria á prosperidade. No entanto, os pessimistas são ótimos, talvez até insuperáveis na capacidade de ver uma situação com precisão, o que pode ser muito útil em algumas profissões, como nas áreas de segurança e controle contábil. No entanto, o sucesso vai além de ver a situação com precisão, requer ao mesmo tempo, que se visualize um futuro interessante, promissor.
Para alcançar o sucesso, além de conseguir analisar bem a situação presente, é preciso desenvolver uma visão de longo prazo e muitas vezes postergar um pequeno prazer imediato para usufruí-lo em abundância posteriormente. Obviamente que podemos sempre nos considerar pessoas de sucesso, pois isto é muito pessoal, o que é até muito bom, se acreditarmos verdadeiramente. Mas, se tivermos um diálogo interno franco, e obtivermos uma resposta divergente, é preciso urgentemente aprender a ser otimista, conservar a capacidade de perceber a realidade e ao mesmo tempo sonhar com eficiência.
Os que conheceram nono Berto, dizem que sua “formula” de sucesso continha essa combinação de realidade com sonho. Eu não tenho dúvida que o otimismo sempre esteve presente em sua vida e na dos seus contemporâneos. Certamente o sucesso dos imigrantes, alemães, italianos, poloneses ou de qualquer outra etnia, no desbravamento de nosso país, deve-se a capacidade que tiveram em cultivar o otimismo. Pense nisso. Sucesso.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 18/03/2007
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