Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
Cidadãos de Boa-Fé.
No interior de Nova Bassano, minha cidade natal, existe um local chamado Boa-Fé. Na infância achei que as pessoas que lá habitavam, tinham uma fé superior, mais pura e saudável, ou seja, uma devoção religiosa maior e melhor que a minha.

Desde muito moleque, meus pais sempre me ensinaram que é preciso honrar a palavra. Diziam: palavra dada é palavra a ser honrada, mais vale um “fio de bigode” que mil papéis e advogados.

Na adolescência passei a acreditar que o nome se devia ao fato das pessoas daquela comunidade serem honestas, honradas e mais cumpridoras da palavra empenhada.

Não entendia muito bem essas palavras, mas foi o suficiente para que me tornasse um adulto e confiasse na palavra empenhada. Até algum tempo, que prefiro não quantificar, promessa para mim significava palavra empenhada, consequentemente compromisso honrado.

Pra ser sincero, não tenho certeza se realmente faz muito tempo, ou se fui ingênuo por tempo demais. Mas, tenho a convicção de que para o meu pai isso ainda vale até hoje. Assim como para muitos gaúchos que ainda fazem seus negócios na base do fio de bigode.

Eu havia esquecido daquela comunidade, e até hoje não sei exatamente a origem do nome, mas acredito que seja uma homenagem a Nossa Senhora da Boa-Fé - mas certamente a palavra boa-fé não significa somente a tendência das pessoas em acreditar em tudo e em todos.

Hoje dificilmente encontramos entre os mais jovens, alguém que confie em um tratado qualquer que se baseie no “fio de bigode”. Entretanto, quando ouvimos uma promessa que venha ao encontro do que pensamos ou queremos, nossa mente nos leva a acreditar que vai ser honrada, assim como naquele velho e bom tempo.

E, somente algum tempo depois é que percebemos que fomos enganados e traídos. Um exemplo disso é o que pode ser observado nesse início de novos mandatos políticos. Um momento no qual esperamos que os compromissos assumidos na campanha sejam honrados. No entanto, já no primeiro dia de novo congresso, descobrimos que o representante que ajudamos a eleger não é mais da situação, ou quem era da oposição já passou estrategicamente para situação.

O mesmo ocorre como os novos governos que dizem herdar uma situação financeira muito pior, do que diz quem a deixou. E outra vez, impossibilidade de cumprir as promessas.

Neste caso, inicialmente são apresentados vários números, com diferenças de várias dezenas de bilhões, como se fossem um pequeno errinho. Posteriormente surgem novos números, ainda mais divergentes, deixando qualquer um ainda mais confuso.

Os órgãos fiscalizadores nessa hora nunca se pronunciam, afinal, para que existem se não podem certificar nenhum dos números apresentados, embora pelo menos um tenha o dever constitucional de posteriormente julga-los.

É nessa confusão de números e a velha desculpa de sustentar a governabilidade que os compromissos assumidos, encontram as justificativas para não serem honrados.

Não acredito que as promessas, ou pelos menos a maior parte delas, sejam feitas somente para se elegerem, ou seja, com a prévia intenção de não serem cumpridas, a chamada má-fé. Penso que realmente tinham a intenção de cumpri-las, isto é, que as promessas foram feitas de boa-fé.

A boa-fé pressupõe que aquilo que esta sendo prometido realmente seja o que se acredita. Neste caso ela equivale à certeza.

Talvez a distância entre a promessa e a prática possa ser entendida pela boa-fé. Uma vez que ser de boa-fé não é dizer a verdade sempre, pois podemos estar enganados, mas é dizer a verdade sobre o que cremos, ainda que essa crença possa ser falsa, assim mesmo não deixaria de ser menos verdadeira. O importante é não aceitar e nem agir como enganador, mas sempre de boa-fé. Mesmo que a causa seja para uma boa finalidade. A mentirinha às vezes simplificadora, ou a promessa não cumprida, será sempre condenável.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 19/02/2007
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