Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
Sem culpa.
 
De modo geral as surpresas agradáveis são menos frequentes que as desagradáveis. Muitas vezes podemos prever, mesmo antes de iniciar uma conversa com determinada pessoa, que as notícias não serão agradáveis. É uma questão estatística, não deveria ser assim, mas de tanto ouvirmos queixas, reclamações e lamentos, acabamos rotulando alguém como um desagradável portador de más notícias, um pessimista ou algo do gênero e, mesmo antes dele falar qualquer coisa, inconscientemente, nos preparamos para ouvir más notícias.
Não deveríamos agir com a expectativa de ver o padrão se repetir, formar um pré-conceito, no entanto, é assim que geralmente agimos. E foi por agir assim que eu tive uma grande e agradável surpresa ao reencontrar um amigo dos tempos de faculdade. Ele sempre foi um rapaz pessimista, portador de infinitas lamentações, mas desta vez estava com uma aparência alegre e jovial, falando entusiasmadamente sobre a vida e novos planos. Não resisti e aprofundei a conversa, pela sólida amizade que mantínhamos naquela época e, obviamente, impulsionado pela minha curiosidade aguçada, me permiti avançar e investigar aquela fantástica mudança.
Após uma longa explanação ele atingiu o ponto crucial responsável pela mudança, falou que havia se livrado da culpa que carregava por uma situação familiar que resultou num trágico acidente. Compreendi a mudança perfeitamente, bem como as razões que o levaram a carregar um pesado fardo e se culpar por um longo tempo. O efeito transformador que a ausência da culpa causou no seu comportamento eram profundas, desde seu aspecto físico rejuvenescido, passando pela postura corporal e principalmente pelo pensamento mais altivo e confiante.
Quando carregamos alguma culpa deixamos de olhar para frente e consequentemente, estagnamos. A culpa sempre nos remete ao passado, e mesmo que consigamos avançar o esforço exigido é tão grande que não conseguiremos grandes avanços. Livrar-se da culpa é uma tarefa difícil, exige a capacidade do perdão e fundamentalmente do autoperdão. Geralmente, a dificuldade maior é perdoar-se, pois a culpa instala-se rapidamente em nosso interior fortalecendo-se com a falta de fé, enquanto que o pedido de perdão, mesmo feito como formalidade, alivia a consciência mais facilmente.
A culpa e o perdão não são uma dupla inseparável muito menos causa e conseqüência, no entanto estão normalmente ligados. Mesmo que o verdadeiro perdão talvez nunca seja oferecido, um pedido de desculpas parece aliviar o peso da falta, mas é um engano, pois sem o verdadeiro perdão a culpa não é eliminada e continuará a gerar consequências desagradáveis. Livrar-se da culpa se torna ainda mais difícil quando alguém a alimenta para beneficiar-se, isto é, induz o outro a se sentir cada vez mais culpado.
 Entre os principais danos causados pela culpa está a agressividade e a intolerância, comportamentos que nos empurram ainda mais para o sofrimento. Pela ação da culpa agimos defensivamente e armados, prontos para o ataque mesmo sem necessidade. Atacar e punir-se é um comportamento frequente de quem carrega culpa e, agindo assim, fortalece a culpa cada vez mais, trazendo infelicidade e estagnação em sua vida. Mesmo diante de uma verdadeira e monstruosa culpa, o melhor a fazer é encará-la de frente e livrar-se o mais rápido possível, sob pena de adoecermos e perturbarmos a paz daqueles que nos cercam.
O sentimento de culpa é um peso que escolhemos carregar por medo de não sermos perdoados. O medo é outro sentimento paralisante que sobrevive da simbiose com a culpa. Errar e sentir-se culpado é um sentimento frequente e compreensível, porém não é razão para guardar, interiorizar a culpa, pois pode transformar-se em baixa estima, insegurança e depressão. Considero que a culpa oriunda da arrogância é a que mais causa danos ao nosso desenvolvimento, pois a arrogância faz com que não admitamos a existência da culpa nos mantendo no erro que alimenta a própria culpa. Trata-se de um circulo vicioso terrível, que uma vez instalado, nos empurra para o sofrimento e estagnação como seres humanos. 
Não compreendo os processos e mecanismos da culpa, pois se trata de um assunto complexo até para os profissionais desta área, mas posso afirmar que o sentimento de culpa é um veneno para o crescimento humano. A culpa, juntamente com a inveja e a raiva, faz parte do grupo dos sentimentos mais maléficos para o desenvolvimento e crescimento do homem.
Recomendo que ao identificar a presença de culpa seja feita uma profunda análise intima, buscando as causas e trabalhando o autoperdão como forma de livra-se deste mal. Não obtendo êxito, procure ajuda profissional e empenhe-se ao máximo, pois somente livre da culpa podemos seguir leves e tranquilos na nossa jornada de aprendizado. Faço esta recomendação, motivado com o resultado que presenciei na vida do meu amigo, o que muito me alegrou e principalmente me proporcionou um importante aprendizado.
Espero que a culpa não se instale em sua vida, e que numa eventual presença seja somente um impulso passageiro para estimulá-lo a perdoar e autoperdoar-se. Boa semana.

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 29/09/2010
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