Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
Copa 2014.

Tenho evitado escrever sobre temas políticos, e assim pretendo continuar, afinal, este não é o espaço propício pra isso. No entanto, sem entrar na questão político-partidária vou abordar um assunto que está me intrigando desde o seu anúncio que é a copa de 2014 no Brasil. A princípio vibrei com a notícia como a maioria dos brasileiros, porém, desde então, tenho dificuldades em entender tanta vanglória por parte das autoridades.
O esforço nas três esferas governamentais para viabilizar a Copa 2014 começou a se intensificar após o fim da copa da África sob pressão da FIFA, organizadora do campeonato e da imprensa. Estão previstos milhões e milhões em investimentos, especialmente na construção e reforma de estádios e infraestrutura. É claro que esses investimentos, necessários para viabilizar os jogos, trazem benefícios para toda a população, como a ampliação dos aeroportos e aprimoramento de serviços que hoje são prestados de forma sofrível.
É também inegável que as obras e todo o conjunto de melhorias advindas da realização de uma copa do mundo são benéficos para o país. Entre os ganhos está a ampliação do turismo, a melhoria dos serviços internos e a valorização dos produtos brasileiros no exterior. O que me intriga, no entanto, é a elevada quantidade de recursos necessários para este evento, advindos, na sua grande maioria, dos cofres públicos, através do financiamento direto, empréstimos ou concessões fiscais. O elevado valor decorre da grandiosidade do evento cuja importância é conhecida, mas como estratégia de desenvolvimento e especialmente em avanços na qualidade de vida do povo brasileiro é no mínimo questionável.
Considero o futebol uma das poucas modalidades de lazer que a população tem acesso, não pela participação direta nos estádios, pois apesar de ser uma paixão nacional, o preço dos ingressos ainda é caro para a maioria da população. Contudo, o futebol é uma das poucas alegrias do povo brasileiro, visto que cinema, teatro, literatura e demais formas de lazer e cultura não fazem parte da cultura popular. Um evento de abrangência mundial, voltado ao esporte mais popular do país, seria um fato muito mais significativo e importante se a população desfrutasse de condições de vida no mínimo razoáveis. Infelizmente a realidade no nosso país demonstra que o povo brasileiro vive com graves problemas de saúde, segurança, educação, habitação. Ou seja, um evento que requer tantos investimentos públicos parece uma tentativa de amenizar ou desviar o foco dos nossos problemas atuais.
Mesmo que as obras e melhorias permaneçam à disposição e consequentemente beneficiem a população, essa distribuição e beneficio é limitado a um grupo de usuários, no caso dos aeroportos, ou a uma determinada população, neste caso, as mais favorecidas são as cidades sede dos jogos. Enquanto que esses bilhões de reais poderiam ser investidos em melhorias sociais com abrangência maior. Quantos prefeitos, empresários, líderes comunitários, sindicatos, agricultores e outros trabalhadores já peregrinaram por inúmeros órgãos públicos em busca de modestos recursos para melhorar a vida das suas comunidades e nada obtiveram sob a alegação da falta de recursos, orçamento insuficiente, entre tantas outras respostas vazias e padronizadas.
Não duvido da inexistência destes poucos recursos, afinal, sei perfeitamente que os recursos são limitados e as demandas ilimitadas, mas questiono a importância que os agentes públicos atribuem a tais demandas. No caso da copa fica evidente que a importância dispensada pelos agentes governamentais é infinitamente maior que àquela dispensada para resolver o problema de saneamento, segurança ou outra demanda qualquer que afete a vida das comunidades. Sem deixar de reconhecer todos os benefícios dos investimentos para a realização da copa de 2014, bem como aqueles que virão complementar e viabilizar a olimpíada de 2016, não deixa de ser questionável a destinação de tanto dinheiro para esses eventos. Acredito que o ganho social poderia ser muito maior se o montante fosse destinado às necessidades diárias da população brasileira, especialmente para as comunidades mais carentes.
Tão surpreendente quanto a quantidade de recursos investidos é a equivocada priorização dos agentes públicos das reais necessidades da população desse país é o silêncio dos grandes formadores de opinião em relação a este fato, pois não acredito que não tenham avaliado ou ao menos questionado os benefícios em outros investimentos. Se por um lado perdemos por não destinar todo esse investimento para maximizar os ganhos sociais e a qualidade de vida de uma parcela maior da população, podemos evidenciar que a vontade política está muito mais aliada a outros interesses.
A velha fórmula do pão e circo da antiga Roma ganha novos ares, mas continua atual e produzindo efeitos que apontam para a manutenção da ignorância, alienação e a consequente manipulação do povo. Esse processo de amadurecimento e percepção dos povos em relação aos seus governantes carece de celeridade e as eleições deste ano são uma oportunidade que não pode ser desperdiçada. Pense nisso! Boa semana
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Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 12/08/2010
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