A vida como a vida quer.
Sempre quando visitamos familiares, especialmente após um longo período, é inevitável a sessão de perguntas referente a pessoas mais distantes ou conhecidos da vizinhança. E foi assim neste último final de semana, ao visitar meus familiares que moram na zona rural de uma pequena cidade do interior.
Entre uma cuia de chimarrão e outra eu fui questionando meus pais sobre a atual situação dos meus velhos amigos de infância, tios, primos e vizinhos. Eu, sinceramente, esperava ouvir boas noticias, e de modo geral até foram, porém o que mais me impressionou foi o relato de que pessoas das mais variadas idades apresentavam problemas de depressão e ansiedade.
Sempre pensei que a depressão fosse uma doença rara no meio rural e em cidades pequenas, mas, infelizmente, os relatos contrariaram este meu pensamento. Gradativamente fui juntando os fatos com as queixas e lamentações que frequentemente ouvia dos meus familiares, e percebi que havia um cenário propício para a depressão. A falta de perspectiva, frustrações, isolamento e a forte ação da mídia de consumo eram alguns dos fatores que influenciavam. Eu já sabia que a pacata vida do interior já não era mais a mesma, porém não imaginava que lá, um lugar tão tranquilo e hospitaleiro, essa paz já não existisse.
A modernidade dos meios de comunicação, os equipamentos eletrônicos, a internet, as mudanças de hábitos alimentares, a excessiva adoção de refrigerantes, chocolates, salgadinhos e outras guloseimas artificiais não eram os maiores sinais da mudança, mas sim, o estado depressivo das pessoas, a ansiedade generalizada e a insatisfação.
A insatisfação tem o seu lado positivo, que é de fazer as pessoas se movimentarem, agirem em busca de seus interesses, seu progresso e evolução, porém estava diante de relatos de ações voltadas somente às conquistas materiais que ultrapassavam o bem estar, o conforto e alcançavam a vaidade. Da mesma forma, a ansiedade sempre esteve mais voltada à expectativa, pelo menos era assim na minha infância e juventude quando ficávamos ansiosos pela chegada do natal ou de uma festa na comunidade e agora, era só desejo, impaciência, sofreguidão e medo em relação ao futuro.
Para aquelas pessoas, o presente parecia não ter importância, pois tudo era feito e planejado para o futuro, no qual se deslumbrava ingressar na modernidade, vista pela televisão e mídia em geral. Definitivamente, sossego e tranquilidade eram vistos como empecilhos à felicidade e o que realmente importava era alcançar o sonho de felicidade depositado num futuro repleto de conquistas materiais, poder e dinheiro. Naturalmente que para tanto, era fundamental mudar-se para uma cidade maior, distante da realidade de muitos, além do mais, a grande distância entre o desejo e a realização exigia um gigantesco esforço, e nem todos estavam dispostos a fazê-lo. Entretanto, esse cenário era propicio para a depressão.
O entusiasmo e até o fascínio em viver em um grande centro urbano não passava de uma ilusão, pois vislumbravam uma vida mais fácil, sem incômodos, estresses ou esforços. Muitos, talvez por ingenuidade, ainda acreditam que basta morar em um grande centro para obter êxito em qualquer empreendimento, como se as oportunidades de sucesso e a facilidade brotassem em cada esquina. Enganam-se, eles, e muito, pois, por mais que se diga que as dificuldades são muitas e talvez até maiores do que aquelas que eles encontram em suas localidades. Consideram aquilo que lhes é dito, como uma tentativa de consolá-los pela triste realidade em que vivem. No entanto, mal sabem que as exigências da vida urbana são um verdadeiro inferno par a saúde e felicidade. Mas esse entendimento é um problema individual típico do ser humano, portanto, não temos o direito de condenar ninguém, uma vez que é difícil colocar-se no lugar dos outros e compreender que a própria dor pode ser menos dolorosa que a dos outros.
Este permanente estado de insatisfação e o entendimento de que a vida do outro é mais fácil, mais agradável e feliz é uma atitude comum. Geralmente os que estão nas cidades sonham com a calmaria e tranquilidade do interior, ao contrário dos interioranos que preferem os agitos urbanos. Porém, existem vantagens e desvantagens nos dois locais, o segredo é adequar a realidade às possibilidades e desejos, conscientes de que somos os responsáveis pelo próprio destino, sendo que algumas provações são inevitáveis e o melhor a fazer é resignar-se e assimilar o aprendizado.
Para o crescimento pessoal não faz diferença o local em que moramos, mas sim, o que desenvolvemos em nosso interior. É do nosso íntimo que não podemos fugir, seja pelos sonhos ou medos. O que precisamos é aprender a lidar com estas situações e não achar que a solução está num outro lugar. O que acumulamos interiormente é o que reflete a depressão ou o otimismo. Quando escolhemos alimentar a esperança e a fé avançamos, ao contrário, nos abatemos. O importante é perceber que as oportunidades de crescimento verdadeiramente importantes independem do local que moramos. Boa semana.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 23/07/2010