Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
Básico ampliado.
 
Adiei enquanto era possível, mas lá estava eu entrando num enorme supermercado empurrando um carinho vazio e com uma longa lista de compras para fazer. Parecia um formigueiro cheio de gente apressada, enlouquecida, comprando de tudo. O local era mais que um supermercado, já que se podia comprar qualquer coisa. Não era como as mercearias de antigamente ou como os supermercados de alguns anos atrás, era um centro de ofertas dos mais variados segmentos de consumo. Havia um lugar reservado para uma relaxante massagem express; um estande com oferta de motos novas e usadas; uma bancada com venda de títulos de um clube de lazer, entre outros produtos e serviços incomuns nos supermercados de outrora. Tudo isso já estava a minha disposição sem eu sequer ter ingressado no primeiro corredor. Fiquei pensando nas demais surpresas que ainda estavam por vir e resolvi apressar o passo até a primeira prateleira, como se fosse a primeira vez em um hipermercado.
Concentrei-me na lista e na leitura das placas que indicavam a localização dos produtos, e aos poucos fui me acostumando com aquele mundo de ofertas, digo, ofertas no sentido de ação de oferecer e não como produto exposto a preço menor. Depois de um tempo, no entanto mais ambientado, comecei a seguir a lista de compras, mas logo percebi que a variedade de opções me fez fugir da lista e encher o carrinho com futilidades. Havia caído na tentação do consumismo, e absurdamente estava comprando muitas coisas além daquilo que eu não precisava, então, relutei, mas decidi me livrar do desnecessário.
Após o feliz insight cai na velha mania em analisar os fatos e ficou claro que, como na vida, a lista das verdadeiras necessidades é muito menor que das ofertas. Que somos presas fáceis das influências externas que nos impulsionam a incorporar ou adquirir muitas coisas supérfluas, a exemplo do que eu estava fazendo, mas que no final das contas acabam custando caro.
No supermercado havia várias seções de produtos, como os de limpeza, por exemplo, que são extremamente úteis para manter nossa casa limpa, esses, bem que podiam conter algum produto que purificassem nossas sujeiras internas, nossos pensamentos e sentimentos indevidos. Olhei atentamente, mas apesar da grande variedade não havia nenhum com a tal finalidade, assim como não havia nenhum produto da seção de “matinais” que garantisse uma manhã feliz e um dia de plena satisfação. Também não havia produtos que pudessem auxiliar no desenvolvimento de uma personalidade amorosa e solidária. Embora houvesse uma infinidade de produtos que são considerados saudáveis, naturais e anti a mil e uma enfermidades.
Obviamente que nem tudo está disponível em um supermercado, muito menos que tudo pode ser adquirido com dinheiro, embora alguns acreditem que o dinheiro possa comprar até mesmo a felicidade e o amor. Porém, a imensidão de produtos disponíveis me permitia avaliar a facilidade que o homem tem em oferecer produtos e serviços supérfluos e, sobretudo, a naturalidade com que nós aderimos a essas ofertas. Seja pela ação do marketing ou por uma influência qualquer, a maioria das pessoas se deixa levar pelo externo e não pela verdadeira necessidade. Na maioria das vezes, entra em ação o orgulho e a vaidade e assim adquirem o melhor, o mais carro e por que não o mais inútil dos produtos só para exibi-lo aos outros. Isso vale para o carro, a casa, o café e a marca da cerveja.
Grande parte do que fazemos na condução de nossa vida se parece como ir às compras em um hipermercado. Para analisar alguns aspectos, começamos com a lista de compras que geralmente é feita com a interferência de outra pessoa, que inclui é claro as suas necessidades. Durante as compras, acrescentamos inúmeros supérfluos influenciados pela aparência, diversidade de opções ou pela curiosidade. E assim, quando percebemos o carrinho de compras está tão cheio a ponto de não sobrar espaço para os produtos essenciais, como a fé, a solidariedade, a amizade e o amor. É mais ou menos como excluir os velhos básicos e saudáveis, arroz, feijão, carne e salada.
A procura por novidades não pode deixar de lado as tradicionais e consolidadas regras da existência humana. Não é saudável substituir as refeições por um chocolate por mais nutritivo que possa ser, como não é possível levar uma vida feliz atropelando as regras da consciência. Ver a vida como uma aventura sem limites é como ir às compras e encher o carrinho de supérfluos.
As listas, as ofertas e as opções são infinitas, mas a escolha do que cada um quer colocar em seu carrinho é individual, a fila do caixa também é única e a conta precisa ser paga. Nesta conta estão inclusos, os juros do egoísmo, da intolerância e demais atitudes indevidas, bem como de todas as ações que ignoramos durante o processo evolutivo nesta vida. O saldo entre esses débitos e os créditos de nossas boas ações e aperfeiçoamento humano é o que vai determinar o que podemos ou não levar no nosso carinho da existência. Boa semana.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 19/07/2010
Alterado em 19/07/2010
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