Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
Vuvuzela.
 
Enquanto eu tentava organizar o pensamento para escrever este texto que, a principio seria sobre a motivação, mas alguém na rua tocava uma insuportável vuvuleza que me dificultava o trabalho. Quando já estava a ponto de perder a paciência, resolvi me render ao barulho e ir até a janela para ver o tamanho da festa. Não passava de uma dezena de jovens vestidos com as cores verde e amarelo pintando a rua para homenagear nossa seleção. Enquanto um rapaz cabeludo tocava uma gigante e ensurdecedora vuvuzela, outros se dividiam entre pintar o cordão da calçada, desenhar a bandeira brasileira no meio da rua e escrever de forma estilizada várias vezes a palavra Brasil ao longo da pequena rua onde eu moro.
Acabei esquecendo a irritação e me entreguei ao prazer de observar a dedicação e habilidade dos jovens em enfeitar a rua. Nesse momento já torcia para que mais pessoas se juntassem ao grupo e a solitária vuvuzela ter companhia. Envolvido neste clima festivo nem percebi quando um vizinho mau-humorado se dirigiu ao grupo em altos gritos, exigindo silêncio e desferindo um rosário de impublicáveis palavrões.
A rua que estava em clima de copa do mundo transformou-se numa enorme confusão. Os jovens tentaram argumentar com o tal vizinho, mas chamaram-no de “tio” que só fez esquentar ainda mais o clima. Outros moradores da rua se juntaram na discutição e, finalmente, o irritado vizinho volta para casa, inconformado, fechando a porta e janelas. Outros moradores se integraram ao grupo e em pouco tempo a rua estava totalmente pintada de verde e amarelo, numa bela combinação com as fachadas dos prédios que já estavam enfeitadas com bandeiras e faixas.
Terminado o trabalho o grupo se desfez rapidamente, a rua voltou a habitual calmaria e eu tentei retornar ao meu texto. Obviamente que a concentração já não era mais a mesma, mas o que realmente não saia da minha cabeça era a intolerância e o descontrole daquele vizinho irritado. Não me senti no direito de criticá-lo, pois eu mesmo já estava ficando nervoso com aquele barulho, mas também não me parecia justificável tamanha irritação diante de algo perfeitamente natural e compreensível em época de copa do mundo. Além do mais, era domingo, véspera de jogo do Brasil e já era próximo ao horário do almoço.
Comportamentos desproporcionais e até indevidos são comuns e ninguém está isento de cometê-los em algum momento. Todavia, inadmissível é deixar-se dominar pelos impulsos e repetir constantemente atos indevidos e prejudiciais a si mesmo e aos outros, pela simples falta de autocontrole. As consequências muitas vezes fogem do próprio controle e podem alcançar efeitos indesejáveis e irreversíveis. Trata-se de um comportamento, quando repetitivo, altamente destrutivo e que necessita de atenção imediata, porém é de difícil percepção, uma vez que, para os que assim agem, não percebem os danos das próprias atitudes.
Perceber este tipo de comportamento não é fácil, mas, ainda mais difícil é admitir que tais atitudes são desproporcionais, indevidas e prejudiciais. Esta não percepção faz com que qualquer tentativa externa de ajuda seja vista como crítica interferência ou ofensa, o que torna difícil qualquer tentativa de ajuda. Ajuda que neste caso requer a intervenção de um profissional na área de comportamento, e até mesmo a utilização de medicamentos, porém a simples menção para consulta a um destes profissionais pode resultar em uma infindável discussão. Lidar com uma situação dessas é algo extremamente estressante, pois coloca em conflito os próprios princípios, além de confrontar com o desejo de ajudar, o sentimento de amor e bem querer ao próximo, com o próprio limite de tolerância e a qualidade de vida pessoal.
Esses e outros confrontos sentimentais nos fazem crescer, no entanto, em determinado momento somos obrigados a escolher, sob pena de adoecermos ou comprometermos a própria qualidade de vida. Fazer escolhas deste tipo é extremamente doloso quando nutrimos bons sentimentos, temos um envolvimento emocional com pessoas impulsivas, mas trata-se de uma atitude necessária, afinal, somos responsáveis pelas próprias escolhas. A obsessiva dedicação em ajudar alguém que é refratário a ajuda é prejudicial a nós mesmos, pois nos leva ao desequilíbrio interno e, desarmonizados, não conseguimos ajudar outras pessoas.
Até mesmo o irritante barulho de uma vuvuzela, pode ser superado com um pouco de tolerância ou uma conversa franca, no entanto, é preciso estar harmonizado internamente, aberto a avaliar os próprios impulsos e agir de forma a respeitar a liberdade do outro. Trata-se de um princípio básico, porém facilmente esquecido quando estamos irritados, e conseqüentemente predispostos a olhar tudo com desconfiança ou como provocação o que nos alimenta de falsa razão para explodirmos em grosserias e todo o tipo de agressão possível.
Sendo ou não hexacampeões o importante é torcer e aprender com as lições diárias de vitórias e derrotas, exercitando-nos e incorporando ao nosso cotidiano, comportamentos e atitudes mais adequadas e fortalecedoras para nossa personalidade. Boa semana.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 27/06/2010
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