A vida acontece no presente.
Durante a semana, na correria diária do trabalho e obrigações familiares “sonhamos” com o final de semana tranquilo, sem horário para cumprir, sem sobrecarga de tarefas e, sobretudo, dedicar algum tempo a atividades mais prazerosas, como uma caminhada, um cinema, beber uma cervejinha ou um bom chimarrão com amigos. Tudo perfeitamente planejado se não fossem os tais imprevistos. É como se deitássemos na sexta à noite e os compromissos do final de semana se multiplicassem instantaneamente tornando-se prioridade absoluta. Diante disso, a programação de lazer dá lugar a essas atividades de última hora e consequentemente nos impossibilitam de desfrutar o descanso programado.
Talvez essa “loucura” seja um mal da vida moderna, mas faço o possível para não me submeter a essa rotina, apesar de raramente conseguir. Neste último final de semana, ao contrário dos outros, consegui dedicar-me totalmente ao lazer. Porém, no final do domingo comecei a me sentir desconfortável e logo percebi que estava me punindo por não ter feito nada de útil, por ter passado o tempo todo no ócio.
Imediatamente tratei de racionalizar a situação e conscientizar-me de que eu merecia um final de semana sem nada para fazer e encontrei muitas razões para aceitar minhas atitudes. Mas, nessa briga mental também percebi que poderia ter administrado melhor meu tempo para aliviar as tarefas da semana, como escrever este texto que há meses planejo escrevê-lo com antecedência. Contudo, o importante é que eu consegui harmonizar meu conflito interno, aceitando que não havia o que lastimar, pois tudo era passado e não podia mais ser refeito. Ficar me punindo seria seguir um caminho de culpa e sofrimento, então imediatamente comecei a replanejar a minha rotina semanal, afinal, tudo o que me restava era o momento presente e o melhor a fazer era utilizá-lo bem, na esperança de colher frutos no futuro.
O presente é tudo o que temos sempre, pois não podemos viver o futuro porque ele ainda não chegou ou viver no passado porque tudo o que ele pode nos oferecer são as lembranças e o aprendizado adquirido. Apesar de ser uma obviedade, geralmente não percebemos a importância do presente porque estamos vivendo em outro tempo, seja no passado ou futuro. Os ansiosos sofrem com a expectativa do futuro e projetam seu pensamento, geralmente pessimista, para longe o que resulta em desmotivação no presente ou relembram os erros do passado lamentando-se de não ter agido diferentemente, ou seja, punem-se ao invés de assimilar os aprendizados.
Essa dificuldade de viver o presente precisa ser administrada adequadamente para que a vida se realize com plenitude. Desligar-se e viver o hoje é fundamental para ter boa saúde e qualidade de vida, bem como construir a própria felicidade e principalmente para não passar pela vida sem senti-la, sem vivê-la plenamente. Essa é uma questão que merece reflexão e se necessário ajustes imediatos sob pena de estarmos desperdiçando nossos dias.
Sei que o autoconhecimento e a constante avaliação dos próprios atos é algo trabalhoso e até chato, mas quem disse que a vida é só alegria? A alegria constante não existe, é preciso sentir sua ausência para poder valorizá-la e vivê-la intensamente. É a alternância dos momentos felizes com os de luta que tornam a vida interessante e solidificam a felicidade. O problema do excesso de autoanálise é ficarmos preso a atitudes predeterminadas quase que padronizadas, isto é, de perdermos a espontaneidade.
Ficar se lamentado também não é saudável, pois é indispor-se com o fluxo da vida o que naturalmente nos dificulta a jornada. Lamentar-se é não acreditar em si mesmo, na própria capacidade de superar-se e buscar os objetivos pessoais. Queixar-se dos obstáculos da vida é diminuir-se, e essa é uma verdade que precisa ser compreendida se quisermos vencer.
Agir com confiança no momento presente é fundamental para acumular forças e ultrapassar as dificuldades. Embora não seja uma atitude fácil é imprescindível, uma vez que tudo o que temos é o presente, mesmo inconformados ele vai passar levando a oportunidade de plantar um amanhã melhor. Lamentar-se sem agir é retrocesso e agir sem esperança e fé é sabotar-se, o que equivale a permanecer na dor e muitas vezes assumir o papel de vítima.
Meu final de semana “ocioso” quase me deixou culpado, porém assumi a responsabilidade de mudar a realidade no exato momento em que a culpa pretendia se instalar. Motivou-me a reorganizar e executar todas as atividades na semana, a prova disso é este texto ter chegado aos teus olhos. Afinal, a vida é o que fazemos no presente, conscientes de que espinhos ou deliciosos frutos são apenas consequência do tipo de árvore que escolhemos plantar. Agora é o momento certo para fazer a escolha que reflete no presente do amanhã. Boa semana.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 13/05/2010