Aprendizados diários.
Um dia desses, enquanto passeava com meu cachorro, deparei-me com um cidadão catando comida no lixo, infelizmente essa é uma cena muito comum nas grandes cidades. Mas, ao passar por ele, percebi que estava cantarolando uma bela melodia e logo pensei como pode alguém que não deve ter nem o que comer estar tão feliz, quando muitos que aparentemente parecem possuir tudo, vivem tristes e deprimidos. Continuei andando pensativo, reflexivo e profundamente perturbado com aquela aparente felicidade do pobre mendigo, tentando me convencer que eu deveria ser mais otimista diante das dificuldades. Sei perfeitamente que a felicidade é um estado de espírito que independe dos recursos materiais, porém àquela cena foi muito forte para mim naquele fim de tarde, especialmente após um dia de trabalho muito cansativo.
Andei mais algumas quadras e vi que o caminhão da coleta, finalmente, começara a recolher o lixo das lixeiras ainda abarrotadas, pois o recolhimento estava atrasado, que, em regra, no meu bairro é feito antes do meio dia. Então pensei, será que era por isso que o mendigo estava tão feliz? Havia sobrado tempo para vasculhar muito mais lixo e sem pressa? Enfim, minha única certeza era que ele cantarolava feliz.
Do caminhão de lixo, minha mente já viajou para as pessoas que parecem um caminhão de lixo, ou seja, carregam somente os maus acontecimentos, os infortúnios da vida e estão sempre despejando lixo em cada palavra que pronunciam. São pessoas dominadas pelo negativismo.Para elas, nada está bom tudo é difícil, complicado, são sempre vitimas ou injustiçadas por alguma coisa.
Ainda envolto neste pensamento e algumas quadras a mais, encontrei um amigo que mal me cumprimentou e já saiu falando do seu sucesso nos negócios, dos ganhos fabulosos em uma grande negociação. Fiquei feliz em ver sua empolgação, afinal, o conheço há muitos anos e nesse tempo todo ele só colecionava fracassos. Ele é do tipo de sujeito que sempre tive como exemplo, pois apesar das suas derrotas, ele sempre tinha fé para recomeçar. Eu sempre admirei essa sua característica que, muitas vezes, me servia de exemplo para não desanimar diante dos tropeços financeiros.
Excluindo um eventual ciúme da minha parte, garanto que fiquei profundamente decepcionado com seu comportamento perante o sucesso. Ele estava se achando muito, mas muito mais, mesmo, que chegou a um ponto de tentar me humilhar, sem falar do rosário de impropriedades que desferia dos amigos em comum. Foi difícil encerrar a conversa, mas continuei andando um pouco atordoado com o que acabara de ouvir. De repente, tudo ficou claro, meu amigo simplesmente não sabia ganhar. Ele que era a minha referência no recomeçar diante da derrota, agora se mostrava um péssimo vitorioso, definitivamente ele não sabia ganhar. Certamente ele não é o único com essa atitude, aliás, quem não conhece gente desse tipo, extremamente humildes quando estão na dificuldade e totalmente indiferentes e arrogantes no sucesso?
O meu dia já havia sido muito tumultuado com muitos afazeres no serviço, alguns mal entendidos que geraram muito retrabalho. Percebi que estava finalizando um dia de muitos aprendizados, embora ainda não soubesse qual seria a conclusão disso tudo, o que eu realmente assimilaria para a minha vida, mas senti que estava diante de uma grande lição. Tratei de gravar em minha mente as três lições com a certeza que no momento certo as compreenderia com maior profundidade.
Não sei se o mendigo feliz, o caminhão de lixo e o meu amigo que não sabe ganhar, têm algo em comum, porém cada um, uma semana depois, ainda repercutem em meu pensamento e atitudes. Acredito que nada ocorre por acaso, pois pressinto que irei obter muitos outros aprendizados destes fatos, mas de uma coisa eu tenho certeza, Deus nos coloca muitos exemplos para que possamos distinguir o certo do errado, a real necessidade do incontrolável desejo de possuir, ter e exibir. Nos mostra que na dinâmica da vida, muitas vezes, um bom exemplo pode ocultar a visão de um monte de pecados.
A complexidade da vida, dizem os filósofos, somos nós que a fazemos, na realidade a vida é muito simples, basta seguir a consciência e viver o momento presente. Quando me deparo com acontecimentos como esses que acabei de descrever, fico com vontade de querer acreditar que a vida é realmente simples, mas confesso que não consigo deixar de ruminar sobre o assunto. Embora, parte de mim acredite que a vida é realmente esta simplicidade toda que os filósofos falam, ainda travo grandes batalhas através de insistentes reflexões frente a muitos comportamentos humanos.
Semanalmente, tomo a liberdade de dividir as minhas reflexões pessoais, não para que sirvam de exemplo, pois são desprovidas do rigor cientifico, mas para que os que compartilham comigo das mesmas inquietações e reflexões possam de alguma forma manifestá-las, uma vez que é através da livre expressão do pensamento que podemos nos conhecer melhor para construirmos um mundo mais justo e fraterno. Boa semana.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 04/02/2010
Alterado em 05/02/2010