Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
Exageros
 
Dias atrás, ao chegar no meu local de trabalho me deparei com um colega que, ao perceber minha presença escondeu o rosto entre as mãos para articular algumas palavras que eu mal pude ouvir: “Bah! Acho que exagerei na cerveja ontem. Tô mal, muito mal”. Fiquei com vontade de dizer, bem feito! Exagerou na bebida, agora agüenta. Todavia, falei apenas que isso logo passaria e que tentasse se concentrar no trabalho.
Exageros são muito freqüentes em vários aspectos da vida e que podem ser observados em toda a parte. Nesta época do ano são ainda mais evidentes, seja pela precipitação das moças em exibir as partes que ficavam cobertas no inverno, pela dieta forçada para entrar em forma até o verão ou pelo cansaço excessivo devido aos excessos de trabalho, estudos e preocupações. Aliás, o cansaço físico é um bom sinal para avaliar os exageros com o corpo, entretanto, por ser mais aparente não me preocupa tanto, quanto o cansaço mental, “o terrível inimigo oculto” e por isso mais perigoso, pois através de uma pequena distração, por exemplo, pode causar um grave acidente.
Esperar equilíbrio em tudo seria ingenuidade, porém ver tantos exageros é revoltante. Ultimamente parece que quanto mais exagerado, extremista, radical e ousado for algo, melhor e mais admirado será. Assim, as novas gerações adotam posições e posturas pessoais equivocadas com muita freqüência e naturalidade. Lembro de uma ocasião em que uma jovem estagiária apareceu para trabalhar com uma roupa exageradamente ousada que foi preciso dispensá-la para não tumultuar o ambiente do trabalho. Não é concebível que alguém vá ao trabalho, prestar serviços públicos ao cidadão, vestida como se estivesse indo à praia. Não sou careta ou puritano, pelo contrário, mantenho uma relativa distância, mas existe ocasião para tudo, e certos locais não combinam com certas roupas ou comportamentos.
Alguns chamam isso de tempos modernos, outros de exagero, eu chamo de falta de equilíbrio. Existem algumas peças de roupa que excedem o bom senso e entram diretamente na vulgaridade, utilizá-las, requer extremo cuidado e ocasião adequada. A mesma coisa ocorre com o cuidado com o corpo, uma vez que não dá para exigir forma física perfeita no verão, quando se passou o inverno exagerando a mesa, bem como não dá para abandonar o cuidado com o corpo, porque o importante é o espírito. Se o espírito habita o corpo, então ele merece uma casa saudável e bem cuidada para que possa abrigá-lo por mais tempo. Não devemos confundir um corpo saudável e bem cuidado, com aparência, beleza ou magreza, falo de saúde e bem-estar.
Outro exagero comum nesta época é endividar-se para presentear os outros ou para enfeita-se. Isso só trás sofrimento e preocupação lá adiante na hora de pagar a conta. Também não posso esquecer o estresse de quem querer fazer tudo antes que o ano acabe. Querer concretizar tudo o que não foi feito em onze meses em trinta dias é no mínimo desgastante. Se aquele planejamento de inicio de ano não resultou no desejado, reveja o que deu errado e projete novos planos para concretizá-lo no novo ano. Agora, se dê o direito de descansar, de falar para aquele alguém o quanto ele é importante em sua vida, de cuidar de si e tratar de entrar no espírito natalino.
Mas, quando se fala em exageros, especialmente nesta época, não dá para esquecer da solidão, dos solitários. Esses sofrem verdadeiramente a ausência de companhia, de carinho e atenção, mas geralmente manifestam essa falta de forma tão exagerada que acabam afastando qualquer um que tenha interesse em se aproximar. Excesso de carência pode se tornar uma chatice que afasta, novamente o equilíbrio e o bom senso podem ser o melhor caminho para superar este tipo de problema. Até mesmo o amor, que aparentemente nunca é demais, não deve ser exagerado, pois pode sufocar, confundir, e suprimir experiências necessárias, causando danos ao desenvolvimento da personalidade, como o caso de uma mãe que superprotege o filho. Excessos de solidariedade e presteza são igualmente danosos ao aprendizado de quem os recebe, bem como podem esconder ou tentar suprimir algum aspecto de quem os oferece.
Um lado bom do exagero é que ele nos tira da mesmice, já que fazer sempre tudo certinho, na quantidade exata é muito trabalhoso, além de chato. O exagero é uma forma de fugir da rotina, porém deve ter hora e local adequado, mas se tem hora e local então ainda seria exagero? Sei lá, mas permitir-se ao exagero é saudável, contudo, tem seus reflexos, seja por aquela ressaca com dor de cabeça ou por um abalo da imagem pessoal. O importante é não ir muito além no excesso, e encontrar uma forma de ultrapassar os limites sem agredir ninguém, mas se for preciso quebrar as regras para avançar, então que seja feito, mas obrigatoriamente o caminho deve ser o do bem.
O limite social aceitável tem como extremos o exagero e a mesmice, nosso trabalho é nos reposicionar constantemente para não cairmos no esquisito campo do ultrapassado ou da vanguarda. Uma boa e equilibrada semana a todos.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 09/12/2009
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