Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Desculpas   

Alguns momentos são tão inusitados que se resolvêssemos contar para alguém, este, provavelmente não acreditaria ou entenderia como uma desculpa esfarrapada. Aliás, desculpa é uma das coisas mais chatas que conheço, tanto para justificar algo que, na realidade, não pode ser justificado ou simplesmente quando temos que ouvir uma explicação que poderia ser resumida com alguma expressão do tipo: não quis, fiquei com preguiça, estava sem disposição, esqueci, entre tantas outras da série, “não estava afim”.

Aprendemos a dar desculpas quando ainda somos criança e, nossos pais, diante de uma explicação “inteligente” sobre algo que tenhamos feito errado acabam deixando por isso mesmo,contribuindo para nosso aperfeiçoamento em achar desculpas pra tudo. Em pouco tempo temos desculpa para qualquer coisa, assim como também aceitamos as desculpas dos outros, em seguida, passamos a usá-la não como uma forma de educação e perdão verdadeiro ou de reconhecimento de uma falha, mas sim como uma maneira educada de ocultar as próprias falhas. No final das contas a desculpa entra na nossa vida como uma necessidade, uma ferramenta indispensável para o bom convívio familiar e social; passa a ser aceita e aplicada descaradamente, como se fosse algo natural chegando ao ponto de que, se não aceitarmos essas desculpas vazias, seremos considerados mal educados. Como se a indiferença, o descomprometimento, o mau caratismo e tantas outras falhas de personalidade que são utilizadas como justificativas de falsas desculpas, se transformassem automaticamente em virtudes pelo simples ato de pedir desculpas.
Pedir desculpas é algo que devemos fazer sempre que necessário, uma vez que ainda temos muito a aprender, seja individualmente ou coletivamente, além do mais perdoar faz bem. O que não pode é ser transformado num instrumento para maquiar as nossas faltas. Entretanto, o que mais me incomoda é esta abordagem de postergação, enganação, indiferença e da enraizada mania de querer levar vantagem, entre muitas outras situações em que a desculpa é empregada. A excessiva explicação para justificar algo simples que tenhamos pedido para alguém fazer é o tipo de desculpa difícil de aceitar, por exemplo: se a pessoa começa a responder dizendo, “ocorre que...”, eu já sei que se trata de uma desculpa e que nada foi feito. Acreditem, expressões como: “ocorre que”, “acontece que” e o “se” no inicio de uma resposta é sinal de que o que vem depois é uma tentativa de justificar-se, de desculpar-se por não ter atendido nosso pedido. Essas são as palavras preferidas por quem quer dar uma desculpa, quer achar uma explicação por algo que não fez.
Sei que dentre tantos males que nos afligem, as desculpas são apenas mais um, embora muitas vezes aceitas, também são confundidas como um remédio necessário, apesar de ser algo muito nocivo ao crescimento humano. Precisamos deixar de aceitar desculpas pra justificar o descumprimento do dever, conscientes de que são apenas uma postergação, um auto-engano, que nos ilude e conduz ao retrocesso moral.
Existem pessoas que encontram desculpas para tudo em suas vidas, enganam-se com as próprias desculpas e passam a ter justificavas até mesmo para a própria falta de iniciativa. Não se trata apenas do medo ou de aprender com os erros, mas de terem internalizado a desculpa para justificar, culpar algo ou alguém por aquilo que temem, desejam ou não tem coragem de buscar. Suas relações com Deus, a família, o trabalho, a saúde, a felicidade e a sociedade são baseadas em auto desculpas que se tornaram crenças e passaram a guiá-las em todos os seus passos. Naturalmente possuem uma explicação consistente e bastante inteligente para dar sustentação à inoperância que está por trás da frustração e infelicidade que as acompanha.
È difícil fugir das desculpas, porque elas são extremamente úteis para nos livrar dos aborrecimentos, mas temos que estar conscientes que ninguém engana a todos o tempo todo, embora nos alivie de embaraços momentâneos não podemos esquecer que nos envenenam lentamente. A desculpa é aliada da mentira e, nas consciências adormecidas, causa inúmeros estragos ao desenvolvimento pessoal e da coletividade, mas também pode ser companheira do recomeço, da união e do perdão que é o papel mais adequado para ela.
Justificativas e razões para acontecimentos e vivências, por mais improváveis que possam parecer muitas vezes podem não ser uma desculpa, assim como se utilizar de uma desculpa, mesmo que verdadeira não dá o direito de eximir-se do esforço de autocrescimento e comprometimento com o desenvolvimento e felicidade do próximo. Seja no sentido de justificativa ou perdão, é o uso que fazemos dela, que nos torna pessoas melhores ou piores, afinal, os nativos americanos já sabiam que nós nos tornamos o que mais alimentamos em nós mesmos. Boa semana.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 07/10/2009
Alterado em 28/10/2013
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