Utilidades e Futilidades.
Às vezes fico pensando como seria se pudéssemos classificar todas as coisas do mundo em somente dois critérios: úteis e inúteis. À vista disso, como seria o saldo das úteis? Certamente se levássemos em conta somente às criações Divinas, o grupo dos úteis levaria vantagem de 100%. Todavia, imagino que quando incluirmos todas as invenções, criações humanas, até mesmo as que são realmente úteis, o resultado ainda seria inferior ao das inutilidades. Pois, por mais subjetivo que possa ser este critério, tenho certeza que podemos afirmar que o homem produz muitas inutilidades, sejam elas materiais ou não. Aliás, as não físicas, como as psicológicas ou culturais, talvez sejam percentualmente superiores a todas as inutilidades materiais.
Ainda seguindo nesse raciocínio, devemos levar em conta as questões prejudiciais ao planeta, como a poluição e devastação dos recursos naturais para sua produção, mas principalmente os danos ao crescimento do ser humano como ser em evolução. Neste aspecto, são as questões subjetivas de manipulação, submissão e exploração que mais nos prejudicam. Esse meu excêntrico pensamento de classificar as coisas do mundo em somente dois grupos é altamente vulnerável nas questões da subjetividade dos critérios e, obviamente, se algum homem pudesse fazê-lo seria apenas seu modo de ver, sentir e avaliar as coisas, portanto, inválido para alguns e no máximo aceitável para muitos.
Imagino que se for uma pessoa sensível a executar a tarefa, as flores seriam classificadas como úteis, as guerras como inúteis, porém, se for alguém mais bruto a ordem seria inversa e ainda tentaria justificar-se perguntando indignado, para que sevem as flores afinal? Uma rocha pode ser classificada como algo inútil por uma consciência pouco aberta, ou perfeitamente útil por alguém que já tenha despertado para as potencialidades de todas as coisas existentes, uma vez que uma simples rocha, ao encontrar as condições ideais, pode transformar-se em um belo diamante ou numa pedra preciosa qualquer, obviamente que mesmo bruta pode servir de proteção e abrigo, mas tudo depende de como escolhemos, ou melhor, se tivermos consciência de sua existência. A avaliação de cada acontecimento da vida é inteiramente individual e é totalmente dependente do nível de consciência individual. Esta, por sua vez, desperta de forma única em cada ser e expande-se na proporção do esforço e dedicação que direcionamos para isso.
Nas questões mais humanas, por exemplo, o exercício seria ainda mais difícil. Imaginem classificar a utilidade de um bate-papo entre amigos no botequim da esquina, após de algumas rodadas de chope? Com certeza não passaria sequer perto de assuntos profissionais, de relacionamentos e muitas outras questões, teoricamente consideradas importantes, isto é, úteis. No entanto, o fato de “jogar um papo fora”, é na maioria das vezes uma grande terapia de reequilíbrio e renovação de forças para encarar os desafios da vida, além de ser uma necessidade humana, uma vez que nós somos seres sociais por natureza.
Identificar as coisas, pessoalmente úteis e inúteis, é um exercício para a felicidade, mas se não for feito conscientemente pode nos empurrar para vícios e, se isso acontecer, entra em ação outros instintos e sentimentos que servirão de argumentos para justificar qualquer ação inadequada. Essa é apenas uma das razões para despertarmos para o desenvolvimento da consciência, e para os que já despertaram iniciarem um novo processo de expansão, visando ampliar sua contribuição para a construção de um novo mundo. Conhecer as próprias necessidades é uma das formas fundamentais para selecionar o que é útil em nossas vidas, pois é desta seleção que construímos nossa felicidade e justamente por se tratar da própria felicidade deve ser feita em conformidade com as regras internas, a lei da consciência, fugindo dos auto-enganos que nos conduzem a atalhos infelizes.
Assim mesmo, muitas vezes, a classificação parece ter sido feita de forma errada, mas na realidade trata-se apenas de experiências necessárias ao aprendizado, a ampliação da consciência, ao autoconhecimento. No entanto, nestas ocasiões, é fundamental manter-se alerta para as reações inadequadas e quando for necessário expressar sentimentos, seja de raiva, indignação, vergonha ou medo deve-se procurar a forma equilibrada.
Este é um texto proposto para exercitar a escolha entre o útil e o inútil em nossas vidas, embora tenha sido escrito com a intenção de ser útil. Alguns possivelmente o classificarão como inútil o que me é perfeitamente compreensível, visto que todos sabemos que não basta apenas à intenção, é preciso ação e neste caso, conteúdo. Todavia, seja qual for o posto que me atribuíram terão que escolher e principalmente avaliar sua utilidade, mesmo que eventualmente não desejem fazê-lo. Boa semana.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 24/09/2009