Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Tradições e Mudanças.

Foi-se o tempo em que o chapéu era parte obrigatória da indumentária de um homem elegante. Esse e outros costumes foram se perdendo com o tempo, influenciados pelo “evolucionismo” da indústria da moda. Hoje, por exemplo, o chapeu é um acessório raro de ser visto em nosso cotidiano, embora, muito útil, especialmente para proteção do frio, da chuva do inverno, ou até no verão para defesa dos temidos raios ultravioleta. Eu, mesmo alheio a qualquer um destes motivos, recentemente resolvi comprar um chapeu, não desses tradicionais de uso urbano, raramente vistos na cabeça de algum senhor mais velho, tampouco daquele tipo moderno, estilo cowboy, que os peões exibem por ai. O meu chapeu é do modelo tradicional da indumentária do gaúcho, adquirido lá em Vacaria, onde a tradição marca presença.
Estreei o chapeu na feira da Expoínter, exibindo-o orgulhosamente quase todos os dias, assim como, também, pretendo usá-lo até o final das festividades da Semana Farroupilha no Acampamento Farroupilha.
O orgulho e a alegria de ver os hábitos culturais sendo cultuados é emocionante, mesmo para quem não tem um coração gaúcho. Logo ali, na beira do Guaíba, no Parque Harmonia, no coração da capital do Estado, centenas de piquetes se instalam e comemoram as tradições gaúchas. As crianças escutam com orgulho, atenção e encantamento os causos e as narrativas dos mais velhos; os adultos revezam o chimarrão e preparam o churrasco sob o toque da gaita e do violão, atividades obrigatórias em todos os piquetes do parque. As prendas exibem seus longos vestidos erguendo a saia até meia canela, para evitar o barro nos dias chuvosos, já os peões, se dedicam aos cuidados com os cavalos, mas sempre com um olho atento no andar das prendas. E assim, entre inúmeras atividades, o mês de setembro vai passado em meio às tradições do nosso Estado e, obviamente, com isso tudo, eu não poderia me privar de exibir meu chapeu.
No entanto, narrar esses eventos aos gaúchos é o mesmo que descrever o carnaval para os cariocas, mas a verdadeira razão de eu estar falando do meu chapeu é que ele me faz lembrar, entre muitas outras coisas, a importância de mantermos as tradições, especialmente da necessidade de permitirmos a renovação, ou seja, a mudança. Aparentemente tradição e modernidade não podem conviver, aliás, elas só aparecem bem nas campanhas de marketing, onde as empresas tentam aliar sua tradição à inovação tecnológica, mas, quando falamos em cultura a compreensão é muito mais difícil.
Os mais velhos rejeitam as inovações dos mais jovens e estes desqualificam a tradição dos mais velhos, resultando numa grande perda para ambos. A perfeita convivência entre o novo e o moderno não só é possível como inevitável, uma vez que a evolução é algo natural, uma vez que o segredo está em saber aceitar a mudança e encontrar o equilíbrio entre ambos. Contudo, essa dificuldade de aceitação ocorre não somente nas questões culturais, mas principalmente na vida pessoal. A diferença é que ao tratar-se do pessoal, o nível de percepção é muito menor que o das questões sociais. Resistimos à mudança, como se fosse algo fatal e realmente é, porém não fatal à vida, mas, fatalmente a mudança sempre virá, pois a vida muda constantemente e, tentar impedir a mudança é inútil, porém podemos concentrar esforços para moldá-la a algumas das nossas necessidades.
Outra questão importante que envolve choque de realidade são os valores que estão cada vez mais fúteis e sujeitos a equívocos em nome da modernidade. Os verdadeiros valores humanos não se perdem e nem se opõe à modernidade, eles simplesmente dão consistência à vida, e devem ser utilizados para nortearem as ações, mas jamais como empecilhos a verdadeira mudança.
Não podemos esquecer, que se renovar é fundamental para uma vida feliz e, ser capaz de renascer todos os dias, acrescentar algo de bom a cada momento da vida é um desafio necessário para uma vida feliz, porém, ao mesmo tempo em que não podemos viver do passado não podemos ignorá-lo, uma vez que o que somos hoje é resultado do que fizemos ou deixamos de fazer no passado. As tradições mais antigas ou os atos mais recentes é o passado que deve ser levado em conta não somente para o aprendizado, mas como um fator importante para projetar o futuro. A boa notícia é que por mais que o passado tenha sido “ingrato” ou “injusto” com os nossos objetivos, sempre podemos utilizar o presente para fazer um futuro melhor. Na realidade o que temos, é somente o momento presente, e este não pode ser desperdiçado com lamentações ou divagações infrutíferas. Precisamos aprender a viver o agora fazendo o que deve ser feito de forma consciente e acreditar que este aprendizado é o que irá nos proporcionar as melhores condições para o vivermos o futuro.
O meu chapéu, o Acampamento Farroupilha, a Expoínter, são apenas elementos que me fizeram refletir sobre as belezas culturais e a importância do equilíbrio entre a tradição e a modernidade, bem como a inútil luta para evitar a mudança. Contudo, é muito bom perceber que tudo pode conviver harmoniosamente quando existe respeito. Boa semana.


Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 17/09/2009
Alterado em 06/03/2010
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