Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos

Aceitar para Mudar.
 
Diz à lenda, que um “homem de bem”, desolado, tendo nos braços a caçula que há alguns dias não matava a fome, temia pela vida da filha. A crise abatia todo o longínquo povoado há meses. A fome agigantava-se, como há muito tempo não se via. Então, o “Pai direito” lembrou-se que existia no centro da aldeia uma árvore que produzia frutas em abundância o ano inteiro e ninguém colhia essas frutas, pois se sabia que desde o principio dos tempos, que alguns galhos da árvore produziam frutas boas e outros venenosas que provocavam a morte instantânea, em vista disso, ao longo dos séculos, a população havia se esquecido que naquela árvore existia um lado bom e que dava as frutas saborosas. Uma lembrança que o tocou e o fez tomar uma atitude diante dos outros homens do povoado, dizendo-lhes: - “Subirei na árvore da praça central e comerei uma fruta e, se eu comer do galho bom, viverei e toda a cidade será salva, pois poderá matar sua fome com as frutas. Se eu escolher o lado errado, morrerei, mas vocês saberão que devem escolher o outro lado dá árvore para colher as frutas, mas me prometam que vão alimentar e salvar a minha filha”.
E assim foi feito, o homem subiu na árvore comeu e viveu e toda a cidade prosperou, pois alguns meses depois a crise passou e voltou à normalidade. Porém numa noite de luar, algum tempo depois, um grupo de jovens lembraram da grande árvore que dava os dois tipos de frutas, mas, não admitiam que aquele perigo continuasse, pois era muito fácil cometer um erro e optar pela fruta errada. Então, decidiram que o melhor a fazer era cerrar o galho que dava as frutas ruins. Na manhã seguinte o povoado acordou e viu com horror a árvore inteira morta. Foi uma terrível perda que os jovens não souberam avaliar. Os anciãos lamentavam dizendo: - Os rapazes não entendem que não existe o bem sem o mal; a paz sem a guerra; a verdade sem a mentira e nem a felicidade sem o sofrimento.
A vida é assim, cheia de aparentes opostos, mas na verdade partes complementares. Portanto, é preciso sabedoria para aceitar o que existe. Algumas vezes vivemos momentos terríveis que muitos desejam até a morte ou, que a felicidade é tanta que parece o paraíso. A insatisfação é um grande mal que precisamos aprender a dominar; causa grande sofrimento pelo simples fato de querer possuir algo diferente daquilo que possuímos, ou desejar o que é do outro; é preciso aprender a aceitar o que se apresenta, o que somos e o que temos. Não se trata de conforma-se com a situação, mas simplesmente aceitar para poder compreender e traçar as estratégias para alcançarmos o que desejamos. Trata-se de uma atitude não conformista, mas realista, que permite estabelecer um ponto de partida seguro.
A primeira coisa que podemos fazer para nos livrar do sofrimento é aceitar o que existe, pois a vida não traz somente felicidade; muitos obstáculos se apresentam e, às vezes, o que desejamos não é necessariamente o que precisamos para crescer. Aceitar a realidade, não é ser fatalista, nem é um processo definitivo, é apenas temporário, e essa é a única maneira de poder mudar o que existe, se for algo possível é claro. Quando formos capazes de aceitar o que existe, muita raiva e revolta irá sumir e então a tranqüilidade terá lugar e a criatividade poderá encontrar soluções. Essa capacidade de aceitar positivamente o que existe é fundamental para encontrarmos as melhores estratégias para resolver o problema.
Nem sempre é fácil compreender isso, pois é realmente difícil aceitar o desemprego, a frustração, o insucesso ou até mesmo o afastamento de uma pessoa querida. Porém, revoltar-se não contribui para a solução do problema, pelo contrário, nos deixa mais perturbados, indispostos a aceitar e, consequentemente com menos condições de encontrar alternativas para resolver o problema. Livres do sofrimento, pela aceitação, podemos calmamente analisar a situação com o desprendimento necessário para compreendê-la, o que nos proporcionará um autoconhecimento importante. Este é o lado bom em aceitar as coisas, mesmo que estas, a princípio, sejam desagradáveis. É o contraste que nos faz apreender crescer e nos tornar pessoas mais firmes e seguras diante das situações do cotidiano. 
Aceitar que existem os dois lados é ser sábio, é dar valor ao que somos e permitir que todo o potencial interior se manifeste para optar com discernimento o melhor caminho a seguir. Não podemos fazer da aceitação da realidade um convite ao conformismo, embora seja um risco, porém necessário para que alcancem estágios superiores. Sem o risco o “Pai direito”, não salvaria sua filha e não haveria o aprendizado evolutivo. Não podemos nos conformar, mas é preciso aceitar que obstáculos existem para que possamos nos experimentar, nos conhecer e crescer. Aprendemos com o que existe, vemos, interpretamos e escutamos, não pelo que deveria existir, ter existido ou acontecer. Boa semana.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 28/05/2009
Alterado em 17/05/2015
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