Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos

Perdoar é um ato sublime.
 
Há algum tempo escrevi um texto intitulado desculpas e perdão; sobre a dificuldade que temos em perdoar; os benefícios que este gesto pode trazer para a nossa vida. Assim que o publiquei, uma amiga fez um comentário, que ficou marcado na minha mente: “Perdoar é um ato sublime” e ainda complementava falando que Jesus ensinou que devemos perdoar não sete, mas setenta vezes sete...
Não me atrevo a contrariar os ensinamentos do Mestre Jesus, porque também acredito que devemos sempre perdoar, mas confesso que muitas vezes isso é algo que parece impossível, principalmente na hora da discussão, em que a emoção está à flor da pele. Só depois, quando estamos menos exaltados é que conseguimos processar, melhor, os acontecimentos e geralmente perdoamos, porém, em alguns casos precisamos um tempo maior e acabamos deixando-os de lado, que por fim não sabemos se realmente perdoamos ou simplesmente esquecemos o fato.
Perdoar é o recomendado, o certo, o saudável e de preferência o mais rápido possível, apesar de nem sempre conseguirmos fazê-lo. Algumas vezes, as pessoas se auto-enganam com o: “deixa pra lá” ou com a preocupação de parecerem “civilizadas” realmente apagam aquilo da memória, ao menos temporariamente. No entanto, assim que aquele fato ou episódio semelhante vem à tona novamente, se remoem de raiva, se exaltam e finalmente percebem que não haviam perdoado de fato. Aliás, esse é um comportamento que serve como um bom indicador para avaliarmos a nossa capacidade de perdoar que devemos estar sempre atentos.
Mas, quando se fala em perdão, não tem nada mais decepcionante que ter que perdoar alguém que amamos. Calma! Apesar de ser isso mesmo, deixe-me esclarecer. Não estou dizendo que é mais difícil perdoar quem amamos do que as outras pessoas, embora às vezes seja, mas assim mesmo devemos sempre fazê-lo. Refiro-me a relação que existe amor verdadeiro, sincero e saudável, aquela que devemos deixar espaço para que surjam discussões e desentendimentos, que ofendam ou machuquem quem nos ama. Assim, quando precisamos perdoar é porque esse limite foi ultrapassado e consequentemente feriu o amor. Ainda mais impróprio que ultrapassar o limite das “discussões saudáveis” é indispor-se com quem amamos. É claro que não devemos ser submissos e deixar de expor nossos incômodos, pois quando existe amor, tudo é possível, tudo é conciliável, no qual não existe espaço para a discórdia, para a ofensa e briga. Então, quando precisamos perdoar com frequência quem amamos é um sinal de que nosso amor é insuficiente para quem o recebe. Podemos dizer ainda que quando se chega ao ponto em que se torna difícil perdoar quem pensamos amar, é porque o sentimento presente já não é amor, uma vez que o amor sempre perdoa.
Diante disso, torna-se fácil identificar a presença do verdadeiro amor, mas devemos observar que o amor também precisa ser alimentado e cultivado no coração de quem nos ama, pois ele cresce no coração do outro para desaguar no nosso. Essa é a verdade que poucos observam e assim esquecem de alimentar a fonte que os abastecem e passam a exigir, determinar e impor condições a quem lhes oferece o melhor dos sentimentos. Esquecem que o amor não pode ser exigido, precisa ser conquistado e preservado. A necessidade de amor é tanta que passa a dominá-los, por isso exigem cada vez mais amor a qualquer custo, sem se preocupar em avaliar as condições que oferecem para que este floresça no outro para abastecê-lo. É exatamente aqui que entra o perdão, pois podemos observar que a exigência de amor é uma necessidade verdadeira, mas é nessa hora também que algo, lá no nosso interior mais profundo se manifesta e nos alerta a avaliar a qualidade deste relacionamento. Talvez seja o temível egoísmo ou danado do orgulho que nos sopra inúmeros questionamentos, como: Só porque você a ama, não lhe dá o direito de esse alguém fazer tais exigências? Se essa pessoa realmente me amasse como a amo me compreenderia? Surgem tantos se, que nos deixamos envenenar pela dúvida e eliminamos qualquer possibilidade de perdão.
E é neste momento, que até mesmo as mais sinceras desculpas já não comovem mais e o amor deixa de desaguar no coração do outro, dando lugar a sentimentos de ressentimento e até ódio. Lamentavelmente muitos promissores casos de amor terminaram por acontecimentos muito semelhantes aos que relatei aqui. Entretanto, o que pretendo aqui é fazer um alerta para que possamos ficar mais atentos à necessidade de perdoar, mas perdoar verdadeiramente e não apenas “deixar de lado”. Sei que esta é uma tarefa difícil, visto que em certos casos é difícil perdoar, mesmo quando se trata da pessoa amada. Agora, imaginem, se temos dificuldades de perdoar quem amamos, quando conseguiremos perdoar o nosso inimigo? Boa semana.

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 18/05/2009
Alterado em 29/04/2012
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