Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
Um Conto Romântico
 
Primeiramente é necessário informar a você, caro leitor, que este conto necessita de um estado de espírito adequado para que possa produzir os efeitos necessários a sua compreensão, bem como, um ambiente propício para melhor ser aproveitado. Não se trata de uma bula, como a de remédios ou uma receita qualquer; são apenas orientações básicas para que não haja interações que possam afetar à sua compreensão, pois os efeitos esperados são para que se entenda a dimensão da relação que tentarei descrever. Assim sendo, para evitar contra-indicações fazem-se necessárias altas doses de romantismo, bem como, para que a leitura ocorra em um cenário adequado ao amor. As recomendações mínimas são a presença de um bom vinho; uma lareira ou uma banheira perfumada; um espumante com morangos, ou qualquer outro ambiente aconchegante, enfim, um lugar com “clima” próprio para o amor.
Cabe também informar que é preciso compreender, preferencialmente sentir a intensidade do sentimento envolvido na relação que descreverei. Trata-se do mais nobre dos sentimentos: O amor. Embora esta não seja uma relação baseada no amor descrito ou conhecida até então. E justamente por isso, que a minha tarefa torna-se hercúlea, que necessitará da paciência e compreensão do amigo leitor. Dito isto, preciso lhe falar deste amor para então desenvolver, descrever os fatos que compõem esta narrativa: Meu primeiro desafio é falar deste amor, mas, como definir o indefinível? Impossível? Teoricamente sim, mas e na prática? Quem já amou verdadeiramente e na mesma profundidade este amor que estou tentando relatar, sabe exatamente do que estou falando. Portanto, em sua mente já estará definido. Mas, para os que ainda não tiveram o prazer de experimentá-lo poderia complementar esta impossível definição dizendo: Esse é um amor absoluto; pleno; superior aos amores permitidos aos mortais; infinitamente mais abrasador que as mais avassaladoras paixões.
É esse amor que o personagem masculino esta sentindo; um amor imenso; intenso; puro amor. Não queria parecer egocêntrico ou vaidoso, mas tinha a convicção de que estava amando mais que qualquer outro mortal, que em qualquer tempo jamais amou, ou viria a amar. Era o amor em quantidade e qualidade superior ao mais exagerado dos sonhos, mais amplo que o universo. Um amor que ultrapassava as fronteiras do universo. Para melhor compreender sua magnitude, imagine que este ia além do universo e ficava curtindo a mulher amada, enquanto aguardava o universo expandir-se até ali e assim que o universo o alcançava, ele se expandia e mais uma vez aguardava sua chegada para crescer ainda mais, e sucessivamente ia crescendo até ultrapassar o infinito. Obviamente que ao mesmo tempo supria sua amada com o cerne do sentimento. Na história da sabedoria humana não havia elementos suficientes para qualificar ou sequer quantificar esse amor. Peço, portanto, caro leitor, que de agora em diante o considerem um amor diferenciado, um amor maiúsculo, apenas não será grafado assim: AMOR, para facilitar a narrativa e a estética do texto.
Ele sentia esse amor penetrar-lhe a carne até chegar nos ossos, perpassando a alma no simples toque das mãos. Na verdade, não precisava de toque algum, uma vez que seu pensamento estava tão ligado naquela mulher que era a sua própria vida. No entanto, aquelas não eram mãos como as de qualquer outra mortal, eram mãos de fada, ou algo que talvez jamais pudesse ser descrito: eram suaves e firmes; exalavam um perfume que em apenas alguns instantes petrificava-se em sua alma para todo o sempre. Tocá-las era reabastecer-se desta energia amorosa, como quando se liga uma lâmpada.
Quando a saudade apertava, ele cheirava as próprias mãos, extraindo o suave perfume que o embriagava, remetendo-o ao paraíso do sonho dos amantes.
Na incapacidade deste narrador traduzir não somente a grandeza e intensidade deste amor, mas também dos inúmeros efeitos e formas de absorvê-lo, peço desculpas, ao mesmo tempo em que sugiro ao amigo leitor, mais um gole de sua bebida preferida sorvendo-a lentamente e apreciando o delicioso deslizar em sua garganta, para então prosseguir está difícil narrativa, pois descreverei resumidamente alguns fatos que envolvem esta história de amor.
Enquanto acompanhava o anfitrião, entrando e saindo por uma infinidade de portas, Olivar procurava observar, mesmo que rapidamente o ambiente da casa. Não identificou nada que lhe despertasse maior interesse; o lugar era agradável como deveria ser um local de trabalho, apenas uma jovem, sentada na escrivaninha ao fundo, parecia emitir uma luz diferenciada tornando o ambiente mais agradável. Embora aquele lugar fosse mais que o local de trabalho, pois seria sua residência pelos próximos dois anos, ele não deu muita importância às instalações e tampouco aos futuros subordinados. Estava ali para desempenhar um trabalho, e o faria da melhor maneira possível interferindo o mínimo possível na estrutura. Ficaria em um hotel por alguns dias, até que o antigo engenheiro-chefe deixasse a casa e assim que toda a bagagem chegasse se instalaria na nova residência. Era o seu primeiro trabalho no exterior, a empresa, uma grande empreiteira na qual trabalhava, executava obras em mais de trinta paises, mas ele jamais havia assumido um empreendimento tão vultuoso, apesar de mais de 15 anos de atuação na área.
Logo que assumiu os trabalhos, orientou a equipe de engenheiros e assistentes a observarem as peculiaridades do projeto e o cumprimento do cronograma. A primeira coisa a fazer era escolher os assessores mais próximos. Recorreu à secretária, uma velha conhecida da matriz que agora trabalharia com ele. Precisava com urgência um “aliciador” de mão-de-obra local. Para essa atividade era fundamental que o recrutador conhecesse o dialeto local. Então, foi-lhe apresentado à bela Mylive, surpreendentemente a jovem do brilho especial que trabalhava na escrivaninha dos fundos.
Nem mesmo sua fértil e florida imaginação, poderia imaginar o que aquela linda mulher reservava para seu coração. Mal sabia que o domínio do dialeto local era apenas uma das surpreendentes descobertas que iria fazer com o passar dos tempos. Mylive era uma mulher diferente, não somente na aparência discreta, quase tímida no comportamento, mas especialmente pela beleza física diferenciada. Uma beleza difícil de descrever, tão difícil que apesar da longa experiência em descrever raras belezas, eu jamais havia enfrentado tamanha dificuldade. Para ser sincero estava diante de um desafio tão difícil quanto o anterior que foi tentar fazer com que o caro leitor, pudesse entender a grandeza do amor que até hoje une os dois personagens.
Aquela beleza era no mínimo exótica para ele, nem mesmo toda a magia da mitologia grega chegava próximo ao encanto do que seus olhos viam. Aquele sorriso apaixonante surgia naturalmente em qualquer conversa, como se fosse um sol dourado afastando a névoa dos dias nublados, literalmente era esse o efeito que provocava na vida do engenheiro. Logo percebeu que estava viciado naquele sorriso. Porém, foram necessários alguns meses para que percebesse que estava totalmente tomado por aquela mulher. Uma descoberta que o deixou muito feliz, apesar da imensa preocupação que se seguiu. Afinal, como lhe falar dos seus sentimentos? Não poderia fazê-lo como se fosse com alguém que se tenha interesse de conhecer, que se sinta atração, interesse ou até mesmo paixão. Era algo muito mais intenso, portanto mais delicado, mais sensível, de maior valor, aliás, valor inestimável. A vida já havia se encarregado de colocá-lo diante de desafios extremos, até mesmo fatais e ele os enfrentara com destreza e naturalidade, mas agora estava diante de algo que desconhecia, mas que temia não poder conquistá-lo o que o apavorava muito, mais que perder a própria vida. Sabia lá no seu intimo que a ocasião não admitia medo ou qualquer insegurança, sentimentos que não se faziam presentes, o que sentia era apenas o pulsar do coração e a certeza de que havia descoberto sua razão de viver. Outro fator a considerar era o fato de serem colegas de trabalho, tornava a relação ainda mais delicada. Foram vários dias de ensaio, não por insegurança ou timidez, mas por indecisão. Imaginava mil e uma formas de declarar-se, no entanto, na hora h faltavam-lhe as palavras, queria não falhar diante da mais importante conversa que teria em sua vida.
Alguns messes depois, a natureza foi mais forte que o seu racionalismo e sem seguir qualquer ensaio anterior, declarou-se. Ela nada falou, ouviu e saiu da sala em silêncio como sempre fazia, era uma mulher de poucas palavras. Ele esperava que ela se manifestasse, mas a bela moça saiu muda. Apesar de apreensivo sentia-se feliz por ter exposto seu sentimento; perecia ter-lhe retirado, algumas toneladas das costas.
Finalmente, após algumas semanas, ela concordou em saírem para uma conversa mais demorada. Toda a insegurança do mundo, exceto do seu amor, desabou em suas costas. Pegaram o carro e se dirigiram à beira do rio; o mesmo rio onde seria construída a hidroelétrica em que estavam trabalhando. Ainda a caminho, colheu o primeiro sinal, que aquela era realmente a mulher certa para a sua vida a partir de uma simples expressão: ”Nossa! Que adrenalina”. No cérebro dele, isto foi interpretado como quebrar regras, mas o coração deu-lhe outra interpretação: ela é tudo o que eu tanto procurava. Chegaram ao rio, longe da obra, na verdade um local próximo a um grande parque muito freqüentado por entusiasmados esportistas para se exercitarem e por simples moradores da cidade que procuravam a orla para melhor admirar o lindo por do sol, que caracterizava os finais de tarde daquela cidade. Um cenário típico de grandes cidades, especialmente dos países tropicais, onde a população, no fim da tarde, busca refrescar-se junto à água. Lembrava da orla do Guaíba, em Porto Alegre, com seu famoso “por do sol da usina do gasômetro”.
Neste ambiente de final de tarde, sentaram-se num pequeno banco próximo à pista de esportes, na qual esportistas, jovens e idosos buscavam manter a boa forma ou simplesmente melhorar a saúde. Estes, por várias vezes, quase esbarraram no casal que só tinha olhos um para o outro. Na verdade só perceberam que estavam num espaço disputado por todos os freqüentadores, após os primeiros beijos, quando já haviam conquistado a simpatia dos freqüentadores, pois estes pareciam ter identificado o tamanho do amor que brotava a cada beijo e expressavam um ar de satisfação, diante de tanta paixão.
Mais uma vez, faz-se necessário esclarecer que na impossibilidade de descrever a magia do beijo, este narrador ira suprimir a descrição, solicitando apenas, que ao ser solicitado, o caro leitor siga as orientações que deixarei como guia para sua imaginação. Antes, porém, tentarei transmitir-lhe as sensações, emoções e todo o encantamento do primeiro abraço.
Este surgiu naturalmente, no exato momento, quando sentados frente a frente. Posição adotada quando ele deslocou a perna esquerda e acomodou-a entre o encosto destinado às costas e o assento do banco propriamente dito. Ela, por sua vez, inicialmente dobrou umas das pernas sobre o banco como se quisesse sentar sobre o próprio tornozelo, posteriormente acomodou-se da mesma forma que ele. Desta maneira, não somente os olhos podiam fitar-se de modo mais direto, como também tornava a posição ideal para o contato físico. Só muito mais tarde é que a consciência registrou esse fato, pois o posicionamento ocorreu de forma inconsciente, como se o desejo do corpo estivesse manipulado a mente, para que assumisse aquela postura. Seja como for, este posicionamento facilitou o contato dos corpos, que literalmente começaram a se fundir. Fato que só não ocorreu plenamente pela prudência, que este primeiro momento claramente demonstrava necessitar. Tratava-se de uma reação espontânea, diante do medo e desejo de conquista que se misturavam nesta hora. Os dois queriam prosseguir na entrega e se afogarem de amor ali mesmo. No entanto, o velho temor da entrega, diante de um amor verdadeiro, agiganta-se e o instinto racional prevalece optando pela prudência. De qualquer forma, o importante a destacar é que Olivar, jamais havia sentido algo assim.
Não se tratava apenas do macio e caloroso abraço, e a consequênte descarga hormonal, mas da certeza de haver identificado mais um sinal de que aquela era a escolha certa para ser feliz. A forma como ela o tocava deixava-o louco de desejo, sentia-se desejado, podia ver todos seus vazios existenciais serem preenchidos instantaneamente. Ela realmente sabia tocar num homem; era um toque macio e seguro; uma “pegada” firme e decidida de mulher que sabe o que quer e deseja da vida. Esta era a maior declaração de amor que ele poderia querer, nunca alguém, por mais sinceras e verdadeiras que fossem as declarações, jamais e de forma tão simples, havia percebido tanta verdade e sentido tamanha felicidade, quanto àquela que estava experimentando.
Esta é a hora em que toda a imaginação e romantismo do amigo leitor fazem-se necessários, pois nesta hora os lábios se encontraram, e o mundo passou a ter outra cor, outro significado, outra importância, enfim, tudo mudou. Antes de seguir com as orientações para que o amigo leitor possa compreender verdadeiramente a intensidade do primeiro beijo, preciso lembrar que os lábios de Mylive eram de despertar o desejo de qualquer homem e de matar de inveja a mais bela das mulheres. Eram lábios que molduravam magnificamente seu sorriso, assim como uma moldura embeleza ainda mais uma obra de arte.
Estes lábios que humildemente mantinham-se no anonimato, para deixar os de Angelina Jolie e outras tantas celebridades brilharem, tocaram-no suavemente e em seguida grudaram-se num encaixe perfeito, iniciando o mais belo e profundo dos beijos. Um beijo delicioso cujo sabor viciante é capaz de escravizar o mais forte dos homens.
Dito isso, peço que vasculhem em suas mentes o mais apaixonante dos beijos e o temperem abundantemente como mais profundo desejo, e então soltem sua imaginação para uma longa viagem de prazer e somente no final, saciados com todo o amor do universo, tentem compreender este primeiro beijo. Essas não são orientações rígidas, portanto o leitor pode acrescentar todas as fantasias que julgar necessário, bem como as quantidades de desejo e satisfação que o fizerem feliz, no entanto é indispensável que o amor seja o ingrediente principal.
Espero que no final, o melhor dos beijos, possa ter ficado registrado em sua alma, pois só assim poderei prosseguir esta narrativa que tanta dificuldade me impõe, na tentativa de descrever-lhe a magnitude do amor que une estes amantes que, pelo que conheço, trata-se da maior história de amor já vivida por dois mortais.
O beijo foi o elemento que selou a fusão daquelas almas; eles ainda não sabiam, apenas sentiam-se plenos, felizes. Os dias que se seguiram, não tinham qualquer relação com o que já haviam vivido; a vida finalmente estava banhando-se no mar de rosas.
Amigo leitor, agora preciso me aprofundar um pouco sobre aquilo que se passava na intimidade de cada um dos atores, desta narrativa. Trata-se de algo que primeiramente me foi confiado em segredo, mas posteriormente consegui a permissão para relatá-lo neste conto, sob a argumentação que se tratava de um fato relevante para a narrativa. Confesso que pretendia tornar o meu trabalho mais fácil, especialmente quanto à argumentação da intensidade da paixão. Se por um lado isso me facilitaria explicar ao leitor o sentimento que Olivar estava sentindo, por outro havia me colocado numa situação que não havia previsto, pois teria que descrever com precisão todo aquele desejo conforme me havia sido relatado. Diante disso, assim o faço:
Já sabemos que os dois estavam intensamente ligados, ou melhor, haviam fundido suas almas, e conseqüentemente fazia com que o pensamento de um estivesse sempre desejando o outro. Não eram raras às vezes em que a intensidade da ligação atrapalhava as atividades profissionais e até mesmo as tarefas mais corriqueiras. Até aqui tudo compreensível e nada que pudesse deixar Olivar envergonhado de me relatar isso, mas era o que acontecia e com uma freqüência cada vez maior, é que esses pensamentos ganhavam asas até o ponto dele precisar se masturbar. Isso mesmo, caro leitor, o desejo era tanto que ele não conseguia evitar o volume sob suas calças, pois se tornava indisfarçável que a única alternativa era isolar-se e se entregar ao desejo. Confessou-me que inicialmente temia que o elemento que os ligava fosse apenas um desejo carnal, uma questão de puro sexo ou algo doentio ligado a essa área.
Para acalmar tanta ansiedade e confortar-se um pouco, procurou todas as informações disponíveis, exceto um psicólogo ou outro especialista; valia-se da internet e de algumas revistas, só não chegou a mandar uma carta para um programa de rádio, mas a confusão mental era tanta que isso chegou a ser uma possibilidade. Felizmente em pouco tempo passou a aceitar que aquela atitude não era doentia, era apenas a manifestação de um intenso desejo, uma paixão e finalmente a certeza de ser amor.
Quanto a Mylive, evitei questioná-la, mas ela espontaneamente disse não ter se surpreendido com o que acabei de descrever, pois entendia per-fei-ta-men-te aquele comportamento. Acrescentando ainda, que seu desejo a levava a fugir cada vez mais da realidade, uma vez que desde o primeiro olhar seu verdadeiro ser, sua essência havia se mudado para o mundo do amor. Falou-me que sua maior dificuldade era conseguir controlar o impulso de telefonar, ouvir sua voz com sotaque estrangeiro, era música da melhor qualidade em seus ouvidos.
Pra avançarmos no relato, simplifico dizendo que alguns dias se passaram e os dois continuavam a navegar no “mar de rosas”, acrescentado cada vez mais detalhes em cada sonho e principalmente solidificando naturalmente todo aquela magia que os envolvia. Os encontros, fora do local de trabalho eram cada vez mais intensos. Já haviam explorado todos os pontos turísticos e mais badalados da cidade e agora, havia chegado à hora de se encontrarem reservadamente num local adequado para dar vazão a todo aquele amor.
Ele tomou a iniciativa convidando-a para jantar. Já era sexta feira, o expediente terminara mais cedo e o local escolhido era um pequeno restaurante na cidade vizinha. Chegaram ao local junto com o por do sol: era um lugar aconchegante, romanticamente decorado, com alegres canções se propagando por todo o ambiente. Ela logo percebeu que seriam os únicos fregueses daquele dia; a indiscrição do atendente que tentava ser exageradamente educado ao tentar entender os sinais de Olivar era a prova de que estava certa. Mylive sentiu-se lisonjeada com a atitude e utilizou toda a sua perspicácia para fazer daquela noite um momento ainda mais especial. Assim que percebeu que o engenheiro havia contratado músicos locais para embalar a noite, com canções românticas. Ela pediu licença para mostrar-lhe uma de suas especialidades. Dirigiu-se ao bar levando Olivar pela mão e tomou o lugar do barman.
- Meu amor, diante de uma surpresa destas, e de uma noite que promete ser inesquecível, quero que prove uma das minhas especialidades.
- Claro meu amor, o que é?
- Nada mais que algo para “esquentar”; deixe-me mostrar como se prepara, então você prova e me diz se gostou.
Dito isso, colocou um avental leve, certificou-se que estava bem justo de forma que ficasse aparecendo os bem definidos seios, uma preciosidade que ela sabia valorizar; amarrou-o dando um laço nas costas. Passou para o outro lado do balcão e iniciou os preparativos. Com gestos sensuais parecia coreografar a melodia que os músicos esforçavam-se em produzir e começou a juntar os ingredientes. Em poucos minutos estava pronta a bebida mais exótica e saborosa que ele já havia provado.
Quanto à exótica, basta um pouquinho de esforço para podermos concordar, mas quanto ao sabor o esforço necessário é muito maior, porém era uma bebida boa, obviamente para o clima e todo o sentimento envolvido é perfeitamente compreensível que o engenheiro tenha realmente aprovado a bebida. Permito-me fugir um pouco do romantismo da noite para deixar ao amigo leitor, a receita da bebida exótica que encantou Olivar:
 
Mojito
4 porções de Rum
2 porções de suco de limão
1 colher (de sobremesa) de açúcar
5 folhas de hortelã
Algumas gotas de angostura (+ ou – três)
1 pedacinho de shiitake
Gelo picado a vontade.
 
Ele bebeu aquele drink, como se fosse o néctar dos deuses, enquanto trocavam beijinhos e carinhos embalados num suave bailar. Assim, passaram longo tempo, para somente depois pedirem o jantar. O jantar era um verdadeiro banquete naquela região do país; era impossível conseguir um bom chef para elaborar um prato sofisticado, então Olivar contratou com o restaurante local, um jantar típico que foi apreciado como se fosse o melhor prato da culinária mundial. A música havia trocado de ritmo; agora ouviam uma música mais alegre, mais festiva e convidativa para dançar. Dançaram num encaixe de corpos perfeito, que se prolongou por apenas alguns minutos, não tinham palavras para traduzir o que sentiam, logo tudo foi se acalmando e dando lugar a aquele incontrolável desejo de amar. Mylive, sentindo o momento, sugeriu um café em sua casa; ela sabia que era uma proposta irrecusável até mesmo para ela, pois podia sentir o desejo transbordando pelos poros dos dois.
A casa era ampla, aconchegante e elegantemente decorada. Assim que entrou sentiu-se envolvido por uma energia de agradável bem estar, queria continuar sintonizado naquela agradável energia, mas o desejo era mais forte e eles se entregaram.
Todo o romantismo da noite deu lugar a uma selvageria que se espalhou pela sala toda, sapatos eram atirados aos cantos, enquanto som do romper das costuras espalhava-se pelo ar, as roupas erram arrancadas e atiradas ao chão. Bocas famintas saciavam-se nas carnes alheias, proporcionando maravilhosas sensações em ambos, não havia mais limites para o prazer. Todas as fronteiras estavam abertas ali mesmo no meio da sala; o gigantesco sofá servia-lhes de cama. O reconhecimento do terreno que vinha sendo feito sobre a proteção do tecido, agora podia ser admirado com toda a satisfação, mas nada lhes era mais intrigante que sentir a pele do outro, era uma sensação incrível que lhes roubava a atenção.
Faltavam-lhes sentidos para sentir aquelas gostosas sensações. Nada diziam, apenas tocavam-se nesta guerra de amor, apenas avançando vorazes buscando conquistar cada vez mais o terreno do outro sem se preocuparem em serem dominados. Tomados por admirável beleza e intenso magnetismo os corpos chamavam por fusão. De um lado brotavam as águas mais profundas exalando todo o desejo, de outro crescia o apetite carnal, anunciado o inevitável confronto de gêneros. Então, deu-se a junção, inicialmente tímida e vagarosa, ganhando velocidade a medica que ganhavam confiança, assim como uma locomotiva segue túnel adentro na velocidade que o carvão aumenta o fogo. O prazer vinha de todos os sentidos; penetrava todo o corpo, sem que se pudesse determinar a origem, uma sensação superior as incríveis sensações antes experimentadas.
Os corpos sentiam e os cérebros procuravam registrar toda a felicidade, ao mesmo tempo em que a locomotiva tentava seguir seu rumo até encontrar a estação do prazer, para finalmente despejar sua carga. Não lhe faltava vapor, mas a estação parecia cada vez mais longe, então como que de repente a carga se esparramou antes de chegar a estação. Uma sensação de prazer e decepção tomou conta do condutor, enquanto as águas profundas baixavam e solidariamente tentava consolar o inconsolável maquinista. Não houve vencedor nesta guerra, não houve a verdadeira batalha, os dois lados apenas utilizaram munição de festim. A preocupação em preservar o bem estar do outro era maior que à vontade de ganhar a guerra. Assim se entregava, um ao outro, sem entregarem-se a si mesmos, causando frustração par ambos. Ela demonstrava satisfação com o resultado alcançado, ele, entretanto, sentia-se um incapaz, estava praticamente inconsolável e buscava no seu interior alguma explicação satisfatória para tudo aquilo que havia acontecido, ou melhor, deixado de fazer.
Prezados leitores, acreditem! Este ainda é um conto de um amor desproporcional, o relato que fiz, condiz com a verdade, no entanto, esta foi à realidade apenas do primeiro encontro. Outros encontros aconteceram e, apesar dele descarregar a locomotiva ainda durante os preparativos para o encontro, passou a fazer as entregas na estação no tempo, e tornaram-se sucessivas as explosões de amor conjuntas. Contudo, não eram estas explosões que fortaleciam o amor que os unia, era algo maior que superava o insaciável desejo, algo incontrolável, que só podia ser definido como Amor.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 03/05/2009
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