Madeira de demolição.
Com o aumento da conscientização ecológica, começou a aparecer várias alternativas para muitos produtos que eram únicos e desenvolvidos com matérias primas, extraídas da natureza sem qualquer preocupação com a preservação. Uma dessas alternativas está na área de construção civil, na qual a preocupação inicia-se na elaboração de projetos que procuram aproveitar melhor, os recursos naturais e desperdiço de energia. Novas técnicas foram incorporadas visando à preservação ambiental, desde o papel reciclável do projeto até a tinta do acabamento com pigmentação a base de produtos naturais, ganharam cada vez mais espaço. Neste sentido os verdadeiramente conscientes, preocupados com a preservação e futuro do planeta, se dispõem a pagar um preço maior por produtos ecologicamente corretos, com a finalidade de contribuir com o bem estar do planeta. Porém, logo surgem os oportunistas, conhecedores das regras do mercado vigente, aproveitam-se da alta demanda por esses produtos e elevam os preços, dificultando o acesso de muitos, a essas tecnologias menos poluidoras. É o egoísmo e a ganância pelo lucro, aliados ao individualismo, manifestando-se de forma explicita em detrimento do bem estar comum e a preservação.
Nessa onda do ecologicamente correto os chamados móveis em madeira de demolição vêem na crista da onda com demanda aquecida e preços exorbitantes. Assim, madeiras velhas passam a ser reaproveitadas e colocadas no mercado em forma de móveis, objetos de decoração e outros acabamentos, uma atitude louvável, por evitar que sejam cortadas mais árvores.
Precisamos nos conscientizar que os recursos do planeta são finitos, que devemos aproveitá-los ao máximo, evitando subutilizá-los, uma vez que a natureza nem sempre consegue reproduzi-los. È claro que árvores podem ser cultivadas, mas o mesmo não acorre com muitos outros materiais que constantemente são extraídos. São materiais de difícil absorção pelo meio ambiente; o que agrava os níveis de poluição e destruição do planeta, especialmente quando utilizados para produzir produtos que geram ainda mais poluição.
Se por um lado cresce o número de cidadãos preocupados com os rumos do planeta, numa visão mais holística dos problemas mundiais, por outro lado são poucos os que estão dispostos a mudar seus hábitos de consumo, seja pelo comodismo ou pelo custo elevado com que os produtos ecologicamente corretos chegam ao mercado. Trata-se de uma questão que vai além da lei de oferta e demanda; é uma questão de comprometimento. Comprometer-se vai muito além do envolver-se, que é o que muitos destes autodenominados conscientes fazem; comprometer-se é fazer parte do processo, enquanto envolver-se é apenas estar presente. Nesse sentido, lembro-me sempre de um velho professor que utilizava o exemplo do bacon com ovos, referindo-se a participação do porco e da galinha na composição da receita, ou seja, o porco está efetivamente comprometido ao oferecer o toucinho, enquanto a galinha esta apenas envolvida ao fornecer os ovos.
Envolver-se, seja qual for o processo é importante, porém o comprometimento é fundamental. Assim, não basta apenas envolver-se em projetos ecológicos e socialmente corretos, é preciso participar efetivamente comprometendo-se com seus resultados; oferecer as alternativas corretas é importante, porém é preciso viabilizá-las para que o acesso seja universal e tragam os resultados necessários. Comprometer-se é estar disposto a sacrificar-se em nome do bem maior, é acreditar que o sacrifício pessoal de agora resultará em benefícios maiores posteriormente. É ver uma possibilidade de mudança sempre, independente dos obstáculos ou imposições que o sistema político-econômico nos empoe. O envolvimento é importante para agregar forças, mas temos que ir além; é preciso acreditar que o próprio exemplo faz a diferença e transforma, através de ações práticas a atual realidade.
Acreditar que podemos ser e fazer mais do que somos é fundamental, do mesmo modo que a boa árvore quer dar mais que sombra, e sonha em dar frutos ou envelhecer frondosa acaba sendo sacrificada, passa pela dor do corte e todas as transformações que o homem lhe impõe, para finalmente, quando nada mais parece lhe restar, vira mesa. Assim, vê seu sonho realizar-se através da preservação das novas árvores que também seriam sacrificadas, e como mesa, torna-se símbolo do servir, na qual ao seu redor todos se reúnem para confraternizar. Fazer, acreditando que adiar a satisfação imediata pode resultar em um bem maio é um aprendizado que precisamos assimilar para viabilizar a mudança para um mundo melhor.
Não importa se no caminho nos roubarem o sonho de sermos árvore frondosa, se acreditarmos, até mesmo como madeira de demolição, podemos virar um móvel útil e valioso, capaz de servir e participar das alegrias dos outros. Portanto, acredite que sua participação faz a diferença e comprometa-se a contribuir verdadeira e efetivamente para transformar o mundo num lugar melhor. Boa semana.