Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
     Dias de Faxina Interna.  

     Quando repentinamente surge a necessidade de reorganizar a casa íntima é porque não havíamos percebido que algo já andava bagunçado. Geralmente a arrumação dos conflitos internos fica para outra hora, por estarmos intensamente voltados a questões consideradas mais importantes do cotidiano, embora não deva haver nada mais importante que escutar, organizar e atender as necessidades interiores.
      Ao deixarmos de “arrumar” o intimo adequadamente, acabamos surpreendidos com a sua manifestação espontânea, tornando-se inevitável parar e colocar a casa em ordem. Uma tarefa que já é difícil por si só se torna ainda mais trabalhosa num momento desses, no qual, a confusão é tanta, que requer um esforço redobrado.
     Uma das primeiras dificuldades que se apresenta é fazer a seleção adequada dos diversos sentimentos, emoções e sensações que estão em ebulição; identificar o que é causa e o que é efeito de tudo do que está ocorrendo é fundamental, pois, apesar da estarmos vivendo um caos interior, muito dos conflitos são apenas conseqüência de uma ou algumas causas que foram ignoradas no momento em que necessitavam de atenção. Existe muita informação disponível que ensina como podemos evitar que estas situações surjam; buscando nos orientar para que possamos prevenir que isso ocorra na nossa vida, assim como, outras tantas, que visam nos auxiliar a superar esses conflitos.
     Ainda mais difícil que fazer a faxina pesada, para reorganizar a bagunça interna é ter que justificar a eventual expressão mais fechada, a linguagem mais comedida ou mais ríspida, enfim, qualquer oscilação na rotina torna-se motivo para sermos questionados. O que é um gesto de carinho por parte de quem o faz, pois demonstra preocupação como nosso bem estar, mas que acaba sendo mais um fato a exigir nossa atenção; geralmente respondemos a esses questionamentos com repostas curtas e evasivas, o que satisfaz a grande maioria, porém algumas pessoas mais próximas insistem em querer ajudar e prosseguem com os questionamentos que, para quem está em tamanho conflito torna-se um verdadeiro interrogatório.
     Nessas horas é muito fácil perder a paciência, até mesmo com as pessoas mais queridas, por isso, todo o cuidado é pouco, pois podemos magoá-las profundamente, uma vez que elas estão apenas tentando nos ajudar e acabam sendo retribuídas com pedradas. Contudo, não são raras às vezes em que, apesar de expormos o que estamos vivendo, ou pelo menos tentamos expressar o que está se passando no nosso íntimo, que na verdade ainda não sabemos claramente, somos incompreendidos e por fim invariavelmente ouvimos: “não te entendo!”, como se não quiséssemos ser ajudados.
     Como se não fosse justamente isso que nós mesmos estamos procurando fazer: Nos entender. É óbvio que os outros não vão nos entender. Seria extremamente benéfico que apenas aceitassem que estamos atravessando um momento de autoconhecimento, um momento de crescimento pessoal, uma vez que essa é uma caminhada pessoal. Mostrar solidariedade, amor e companheirismo, na maioria das vezes é o melhor que podemos fazer. Até mesmo os terapeutas profissionais com todo o seu conhecimento não podem percorrer o caminho do paciente, apenas indicam caminhos tecnicamente mais adequados a serem percorridos.
     Portanto, por melhores que sejam as intenções em ajudar alguém que amamos, a primeira coisa que precisamos fazer é tentar entendê-las. As descobertas, assim como o tamanho ou a natureza dos conflitos internos, são sentidos e interpretados de maneira individual, o que torna difícil que a nossa fórmula caseira seja a mais adequada ao momento do outro. Obviamente que uma conversa franca com alguém que confiamos e que nos quer bem pode ajudar muito, contudo, não é garantia de sucesso ou uma atitude que estejamos em condições de tomar nestes momentos. Felizmente situações como essas são superadas pelo próprio esforço e com a ajuda do tempo, se tivermos paciência, é claro. Como conseqüência, geralmente surgem dois aspectos que considero importante: O primeiro é que ressurgimos mais fortalecidos e conhecedores das próprias potencialidades e dificuldades, tornando-nos mais fortes e donos de nos mesmos; o outro é necessidade de consertar os estragos que deixamos pelo caminho, isto é, de restabelecermos as relações abaladas por recusar em aceitar a sincera disposição dos outros em nos ajudar. 
     Estas fases de arrumação da bagunça interna são inevitáveis em algum momento da vida, porém, podem ser altamente benéficas e certamente vão trazer muitas outras conseqüências, cujo resultado final depende exclusivamente da forma como as incorporamos. Saber conduzir esses momentos é fundamental, tanto para quem foi surpreendido pela necessidade do próprio interior de realizar uma arrumação interna quanto para quem tenta oferecer ajuda e é rejeitado, uma vez que o crescimento é pessoal, mas que se faz através da interação social. Boa semana.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 26/03/2009
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