Há algum tempo incorporei no meu vocabulário a palavra ilusão, não que eu goste dela, mas é a que melhor define a forma como interpretamos determinadas situações. A ilusão é um engano da mente, que faz com que interpretemos erroneamente fatos ou sensações. A incessante busca do bem estar e da felicidade é um dos principais fatores para que interpretemos determinados fatos de forma a satisfazer nossas necessidades e expectativas. Porém, estas falsas percepções acabam se defrontando com a realidade e trazem grande sofrimento.
Recebi um e-mail, justamente no momento em que me questionava se estava utilizando esta palavra com freqüência, pelo real aumento da ilusão na vida das pessoas, ou pela própria auto-ilusão de considerar-me realista e, de forma privilegiada, perceber com facilidade este erro tão comum. Li e reli várias vezes as inúmeras páginas e percebi como é fácil cairmos nesse “engano”. A Ilusão, esta temível fonte de sofrimento, está ligada aos mais diversos mecanismos de defesa, seja de forma consciente ou inconsciente, voltados a evitar eventos e fatos de nossa vida que nos são inadmissíveis. Portanto, os interpretamos de forma a satisfazerem nossas expectativas e assim minimizar a sobrecarga do sistema emocional.
O texto trazia a ilusória situação, na qual a pessoa quer fazer tudo com perfeição, ser o “modelo perfeito”. Na realidade trata-se de um processo neurótico que faz com que a pessoa assimile cada manifestação de contrariedade dos outros, como um sinal de seu fracasso e a interprete como uma rejeição pessoal. Quem é extremamente critico consigo mesmo, tem a necessidade compulsória de ser considerado irrepreensível. Conseqüentemente é incapaz de aceitar como os outros são, refletindo a própria incapacidade de aceitar-se. Um perfeccionista exigirá amigos, parentes e companheiros perfeitos.
Outro aprendizado foi que uma das ilusões mais freqüentes é a sensação de que podemos controlar a vida dos que nos são queridos, no entanto, nem sempre é fácil diferenciar a ilusão de controlar e a realidade de amar e compreender. Este controle deve ser evitado, pois é como um nó que estrangula o relacionamento e com o tempo, extinguirá até mesmo o amor dos que convivem conosco.
Envoltos em devaneios tudo se torna perfeito, imaginamo-nos merecedores de todo o êxito, dignos de toda a benevolência e graça divina, pelo simples fato de assim o querermos. Quando isso não acontece, ficamos profundamente feridos e indignados contra a outra pessoa, sem perceber que deveríamos nos livrar da auto-ilusão. Freqüentemente acabamos escolhendo as pessoas erradas para depositar nosso carinho e afeto. Então, quando a ingratidão, a indiferença e a traição vêm em troca, às culpamos, cheios de ódio e raiva, esquecemo-nos de que fomos nós mesmos que nos iludimos ao exigirmos reciprocidade. Não podemos esquecer que as pessoas não podem nos oferecer o que não possuem, bem como não podemos exigir que ajam como nós achamos que deveriam agir.
Fascinado com tantas explicações detive-me num parágrafo, explicando que criamos ilusões para nos defendermos de realidades amargas, que a principio podem servir para nos poupar momentaneamente de algumas dores, posteriormente nos aprisionam na irrealidade. Isso me deixou muito impressionado, imaginem como deve ser triste ser prisioneiro da irrealidade. É como passar a vida toda acreditando que somos príncipes socorrendo donzelas em perigo, ou vice-versa.
A abordagem era ampla, interessante e extremamente didática, mais que o dobro deste espaço, ainda seria insuficiente para resumir todo o seu conteúdo, porém, não poderia deixar de abordar uma passagem que falava que muitos de nós conservamos a ilusão de que a posse material proporciona a felicidade, fama e poder garantem amor, entre outras ilusões desse tipo, quase sempre desenvolvidas na infância, com os próprios pais, professores e outros adultos. Na verdade não passavam de pessoas com crenças distorcidas, ou melhor, com terríveis ilusões, mas que incrivelmente, mesmo depois de crescidos e esclarecidos ainda têm medo de abandoná-las. Não será fácil renunciarmos a esse tipo de ilusão se não percebermos que a alegria e o sofrimento não estão nas coisas ou fatos da vida e sim no modo como a mente os percebe.
Estou dividindo esse aprendizado com vocês, embora de forma muito singela, pois precisamos viver com senso de realidade para amadurecer como seres humanos. Essa é uma tarefa difícil, pois a vida nos expõe a uma dura realidade, porém produtiva e benéfica para o nosso crescimento e, certamente menos árdua que procurar a saída nos labirintos da ilusão. Transitar pelos labirintos da ilusão é um caminho difícil de evitar até mesmo para a mente mais disciplinada e realista, porém, será a assimilação do aprendizado que irá determinar o tempo de percurso, bem como será o guia a nos conduzir para a liberdade. Boa semana!