Desculpas e Perdão.
Com o passar dos anos, em algum momento nos tornamos nostálgicos, seja pelos dias felizes que vivemos, ou pelas dificuldades que superamos. Esse sentimento reflete a saudade de algo vivido; é uma sensação de não poder mais reviver certos momentos ou etapas da vida. São situações e períodos que muitas vezes são lembrados com algumas distorções da realidade e freqüentemente contêm pitadas de fantasia, são idealizadas de forma que “pareçam ainda mais saudosas”. O que diferencia a nostalgia da saudade, é que esta diminui quando se entra em contato com causa, enquanto que a nostalgia aumenta. Assim como a raiva, outro sentimento que se alimenta sempre que entramos em contato com a sua causa.
É inevitável que com o passar do tempo tenhamos algum momento nostálgico, afinal, existem algumas coisas que jamais voltam. Entre as quais, estão quatro que aprendi quando ainda criança com a minha avó: “O tempo passado, a pedra atirada, a oportunidade perdida e a palavra dita”. São citações que refletem a realidade, a dura realidade da vida com a simplicidade e a sabedoria dos mais velhos sempre contém. No entanto, particularmente falando, a palavra proferida é a que causa maiores danos, com mais facilidade e freqüência.
É muito freqüente, por exemplo, uma palavra mal proferida se tornar uma grave ofensa para quem a houve. Concertar a relação com alguém que ofendemos, muitas vezes pode se tornar uma tarefa impossível, pois requer a compreensão do ofendido. Pensar que um simples pedido de desculpas pode consertar uma ofensa é desconhecer a complexidade dos sentimentos humanos. Um pedido de desculpas requer muito mais do que isso: primeiramente o reconhecimento da ofensa, que por sua vez requer a capacidade de se colocar no lugar do ofendido e sentir a dor da ofensa, como se a tivéssemos sofrido. Em segundo lugar, é preciso ser compreendido pelo ofendido, ou seja, ser perdoado. Perdoar é mais que aceitar a desculpa é um ato de misericórdia, de muita generosidade, significa ter a capacidade de fazer cessar o ressentimento ou a raiva.
Considero a capacidade de perdoar, assim como a de amar, uma das mais belas atitudes humanas, embora que perdoar seja um ato muito mais difícil que amar. A forte ligação do perdão com à raiva é evidente, mas pessoalmente acredito que perdoar requer eliminar totalmente a mesma característica que alimenta a nostalgia e a raiva. Encontrar-se com a pessoa ou defrontar-se com a mesma situação que provocou a ofensa sem nutrir qualquer ressentimento é ter perdoado verdadeiramente. O perdão não é fácil de ser obtido, o que significa que não podemos abusar da sorte, o melhor mesmo é evitar as situações em que precisemos pedir desculpas. O perdão é libertador na mesma proporção que a ofensa é opressiva. No entanto, existe uma grande necessidade de perdoar, algo que infelizmente ainda não é acessível à maioria dos seres humanos, pois não atingiram um nível evolutivo compatível.
Esquecer completamente qualquer ofensa, um esquecimento absoluto vindo do fundo do coração, sem exigir qualquer compensação, sem ferir a auto-estima ou amor próprio do ofensor não é motivo de orgulho, é ter alcançado uma etapa importante para a própria felicidade. Conseqüentemente, perdoar é caminhar para a felicidade, porém temos o dever de ajudar o ofensor a melhorar-se e conceder-lhe o perdão indiscriminadamente, do contrário pode não ter qualquer valia para seu melhoramento. Este é mais um desafio que requer equilíbrio e serenidade para que possamos adotar as atitudes adequadas diante de cada caso.
Não tenho a menor dúvida dos benefícios do perdão para a própria felicidade, entretanto tenho profundos questionamentos quanto ao fazê-lo com aqueles que repetidamente incorrem no mesmo erro ou recorrem mortalmente arrependidos aos constantes pedidos de desculpas. Diante disso, procuro não guardar qualquer ressentimento, pelo simples fato que estaria causando um mal a mim mesmo, todavia, diante de novo deslize procuro mostrar a constante repetição do ato e a conseqüente necessidade de melhorar. Este é um processo que me parece mais divino que humano, no qual muito ainda preciso trabalhar.
Espero que em breve possamos ter significativos avanços, afinal, quantas oportunidades de perdoar nos são dadas diariamente? Aproveitá-las da melhor maneira possível, para melhorar-se e avançar no caminho evolutivo é o grande desafio que não podemos ignorar. Nostalgia, raiva e perdão são sentimentos que se apresentam no decorrer da vida, independente de haver qualquer ligação ou características comuns, eles não aparecem simplesmente para nos infernizar a vida. São apenas alguns dos nomes atribuídos às provas que somos submetidos no processo de aprendizagem e crescimento como seres humanos. Perdoem-me, mas estas provas são individuais, por isso não ouso “pedir cola” ou dar conselhos, uma vez que ninguém esta livre de prestar contas um dia. Boa semana!