Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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A Força da Revolta.  

Recentemente em um dos meus artigos, propus algumas reflexões e a alternativa de renovação das próprias atitudes, ao nos defrontarmos em determinadas situações que tudo parece dar errado, apesar de acreditarmos estar fazendo tudo certo.

 Ampliando este contexto, temos a questão da revolta, um sentimento que esta presente com muita freqüência na vida das pessoas. Revoltar-se contra o que não está certo, como a tirania; a fome; a miséria e todo o tipo de injustiça é um claro sinal do avanço moral, todavia, o modo de manifestar essa revolta, a inconformidade diante de tudo isso, requer uma maturidade moral maior.

Revoltar-se contra questões que agridem os princípios sociais e individuais é saudável e necessário para estancar o mal que essa violação produz. É assim que surgem com legitimidade diversos movimentos e organizações voltadas a proteger os direitos de minorias, abusos de poder e todo o tipo de atitude que possa ferir os elevados princípios de humanidade, que orgulhosamente nos conferimos como espécie superior. As lutas neste sentido contribuem para elevar moralmente e intelectualmente toda a civilização humana, tornando o inconsciente coletivo mais forte e preparado para combater as injustiças que retardam o progresso evolutivo mundial.

As organizações sociais, verdadeiramente comprometidas com o crescimento do ser humano, desempenham importante papel na conscientização individual, quanto à responsabilidade e propostas de ações diante de atitudes nocivas à humanidade. Entretanto, essas manifestações, mesmo que legítimas, não podem ser assimiladas como exemplo a ser internalizado e adotado, sempre que estivermos diante de algo que consideramos injusto. Considerar-se injustiçado, é uma atitude comum para muitas pessoas que, diante das adversidades que a vida lhes impõe, imediatamente se revoltam e buscam todas as armas que conhecem, para combater o que acreditam ser a pior injustiça que poderiam sofrer. Respeitando qualquer julgamento, isto é, seja por real injustiça ou por conseqüência de atitudes indevidas, revoltar-se sem avaliar as causas é sempre uma atitude no mínimo precipitada.

Indignação e inconformismo, às vezes podem ser forças fundamentais para mover-nos na busca da justiça, felicidade e desenvolvimento pessoal, mas geralmente são utilizadas como escudos para proteger-nos dos próprios erros. Quando não queremos admitir os erros, não aprendemos a lição, e sequer admitimos que estamos colhendo os frutos da própria incapacidade de gerenciar e agir conforme as regras da consciência.

Nesse caso, essas forças tornam-se um perigo para o nosso crescimento: primeiramente nos remete a procurar justificativas para sustentarmos o papel de vitimas, a fim de legitimar a revolta; depois se abastecem de ódio, que por sua vez, bloqueia a mente para qualquer tentativa de desviá-la da intenção de lutar e conseqüentemente, passamos a lutar por um período indeterminado, até mesmo por toda a vida, contra nos mesmos sem nos darmos conta. Eventualmente podemos até estar combatendo legitimamente, mas, como estamos tomados de ódio, não conseguimos mais parar e passamos a alimentar uma situação de conflito indefinidamente, desperdiçando a oportunidade de aprendizado e crescimento.

Passar os dias justificando e vitimando-se pelos próprios erros, por injustiças sofridas ou por quaisquer outras circunstâncias que a vida nos tenha submetido é um grande desperdiço de tempo. No entanto, nada pode ser mais improdutivo que persistir no erro, seja qual for. Sei que existem vários níveis de desenvolvimento e que algumas pessoas acabam por se entregar a vícios verdadeiramente difíceis de serem superados, mas, mesmo diante de um grande obstáculo, é preciso adotar uma atitude positiva, sem qualquer espécie de vitimismo. Mesmo que a luta seja prolongada, não podemos nos entregar em todas as batalhas. Explodir, revoltar-se contra qualquer situação adversa é o mesmo que juntar-se a uma ONG, apenas por ela propagar uma boa intenção. É preciso avaliar cada situação, analisar a própria responsabilidade e consultar serenamente a consciência. Estas são atitudes básicas para quem quer utilizar a força da indignação, do inconformismo e da revolta no enfrentamento das injustiças.

 A ilusão de estar sendo injustiçado é freqüente na vida de quem costuma agir sem avaliar as conseqüências, e depois se defronta com os dissabores. Se formos vítimas inocentes, então seremos credores de dias mais felizes, mas sem conformismo, apenas conscientes de que no aprendizado da vida só se colhe o que se planta. Precisamos estar cientes de que a reação sempre deve ser proporcional à causa, sem exageros. Assim como certas “injustiças” podem ser a simples conseqüência, direta ou indireta, de nossas ações.

Enfrentar adversidades, engajando-se em causas sociais justas e melhorar-se constantemente, pode ter como impulso inicial à “força da revolta”, mas jamais revoltar-se sem conhecer, e principalmente sem causa justa. Boa semana.

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 02/11/2008
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