Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Revendo Atitudes

Às vezes nos encontramos envolvidos em situações bastante complexas que não conseguimos perceber a própria realidade. Isso ocorre até mesmo com os mais experientes e iluminados. No entanto, quando estamos vivendo uma destas situações, geralmente não identificamos as verdadeiras razões que as motivaram, mas as percebemos com clareza e sem qualquer esforço nos outros. Encontramos inclusive, várias alternativas de solução e, sem pedir licença, enchemos a pessoa com inúmeras sugestões para resolver o problema. Porém a tranqüilidade que facilita essa percepção e nos dá tanta certeza de termos diagnosticado e indicado à solução para o outro, não é mantida para solucionar os próprios problemas. Na realidade ocorre o contrário; ficamos tomados pelo nervosismo, que só nos afasta ainda mais da solução; rejeitamos a possibilidade de ajuda e ainda bloqueamos a autopercepção, tão necessária nestes momentos.

Observo este tipo de comportamento faz muito tempo. Não se trata de um estudo profissional, mas de uma conclusão baseada em observações, especialmente de fatos dos quais já vivenciei ambos os lados. Admito que levei algum tempo para aceitar estes “diagnósticos” a meu respeito, que podiam estar certos, embora desde muito cedo tivesse aprendido, que os que vêem o problema de fora têm um ângulo melhor para encontrar uma solução.

 Assim, quando alguma pessoa do meu convívio esta passando por uma dessas fases conturbadas, em que todos os problemas do mundo parecem ter se juntado em sua vida, costumo redobrar minha paciência e calmamente tento fazer com que ela perceba algo de positivo em sua vida. Não quero parecer exagerado, muito menos vaidoso ou propagar falsa generosidade, mas garanto que sou sempre bastante insistente.  Entretanto, esta minha insistência ultimamente tem me causado aborrecimentos, que talvez sejam reflexos do inconsciente da tardia percepção das minhas próprias resistências.

São tantos dissabores: ao tentar fazer com que estas pessoas percebam o que estão vivendo; desenvolvam o autoconhecimento; aceitem ou busquem ajuda para solucionar seus problemas, que acabei me aborrecendo além da conta. Tudo muito estressante, mas uma lição capaz de me fazer perceber que insistir em “ajudar” é um veneno para a minha felicidade.

Auxiliar as pessoas a superarem seus problemas é louvável, mas somente até o momento em que os problemas alheios não nos prejudiquem. Devemos respeitar nossa própria felicidade, antes de insistir em ajudar alguém que não quer ver, não aceita ou sequer admite ser responsável pelos próprios problemas. Não podemos assumir responsabilidades que não nos pertencem, cada um tem seu próprio aprendizado a fazer. Abdicar da própria felicidade para carregar o próximo diante de seus problemas não é generosidade, nobreza ou missão, é considerar o outro inferior, incapaz de crescer, mas acima de tudo é remover o obstáculo que lhe foi imposto, como prova de superação.  Não podemos esquecer que o crescimento pessoal é primeiramente apresentado ao caminho do amor e só depois ao da dor. Cabe a cada um escolher qual seguir. Ninguém esta imune à caminhada, mas é livre para optar.

Portanto, insistir em ajudar determinadas pessoas é desperdiçar energia, já que a única forma de aprendizado que conseguem assimilar é pela dor. Esta escolha é pessoal, talvez até inconsciente em muitos casos, que incluem muitas das chamadas “pessoas de bom coração”, pessoas inteligentes e respeitáveis, mas que optam em permanecerem presas a determinados comportamentos ou crenças. São pessoas que não se permitem mudar; não estão abertas as possibilidades de transformar-se em seres humanos melhores; são resistentes e geralmente enraizadas na teimosia.

Este não é um discurso de incentivo para deixar de auxiliar o próximo na sua caminhada, mas um chamamento para a necessidade de avaliar as próprias atitudes diante de determinados fatos da vida, especialmente quando aparecem os problemas. Além disso, é também um alerta para a atenção que devemos dar a própria felicidade, sem medo e falsas virtudes sociais, pois temos o imprescindível dever de ajudar e o sagrado direito à felicidade. Obviamente que dentro de elevados valores morais, mas sem a obrigação de assumir o compromisso de solucionar problemas alheios, pois manter o equilíbrio diante das adversidades por si só é uma tarefa suficiente e árdua na própria jornada.

Este é apenas um relato, uma forma de agir diante de pessoas que estão atravessando situações difíceis, e que são refratarias a conselhos ou orientações. São indivíduos com características comuns de resistência à mudança, as transformações interiores, que sofrem pela própria teimosia, que invariavelmente procuram transferir, dividir, socializar seus problemas, com quem se dispõem a ajudá-las, sem, no entanto, verdadeiramente aceitar essa ajuda ou mesmo rever atitudes. Boa semana. 

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 11/10/2008
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