Na semana passada, escrevi um texto sobre o ciúme, que me rendeu alguns e-mails de leitores, comentando sobre o assunto. Entre os quais, um deles dizia ter-se encorajado para falar com sua namorada sobre alguns argumentos que apresentei. Para dizer claramente a amada que dedicava todo o seu amor a ela. Declaração muito simples para o seu entender e suficiente para que aquele ciúme todo, que tanto os fazia sofrer, não teria razão alguma para existir.
Falou que inúmeras vezes já lhe havia “demonstrado” seu amor e tudo o que podia e sabia sobre o amor era dedicado a este relacionamento. Percebeu então, que não estava sendo feliz no seu intento, pois antes mesmo de citar alguns fatos que pudessem lembrá-la das claras demonstrações de amor que cotidianamente lhe oferecia, ela o interrompia, dizendo ser desnecessário buscar argumentos no passado, que o amor simplesmente se sente e listava seus motivos para justificar-se. Ela se socorria dos incompreensíveis motivos de sempre e, percebendo a inutilidade da discussão só lhe restava calar-se.
No meio da conhecida explanação, viu-se surpreendido quando ela falou que o amava demais, que o amava além do possível, que jamais encontraria alguém que o amasse como ela o amava, e assim prosseguia tentando dimensionar a grandeza do seu amor. Não demonstrava a menor dúvida que essa era a razão suficiente para lhe dar o direito de exagerar no seu ciúme e fazer o que julgasse necessário, sem medir conseqüências, como se a manutenção da respiração e de toda a vida no planeta dependesse disso.
Foi um longo e-mail de um leitor, que apesar de amar a namorada, via seu relacionamento se apagando aos poucos. Prestei-lhe minha solidariedade e sugeri que procurasse ajuda profissional, uma vez que estas questões são de difícil solução, mesmo com a ajuda de especialistas. Todavia, o que realmente me fez abordar esse assunto, foi um dos parágrafos finais que dizia: “Tudo o que eu quero é que ela me ame menos, pois eu ficaria extremamente feliz ser amado normalmente, como qualquer outro casal. Estou sendo sufocado por este amor...”.
Devido às características de identidade de gênero, alguns comportamentos são mais notáveis em homens e outros em mulheres. As mulheres, devido à valorização social de uma identidade feminina "romântica", são mais afetadas pelos sentimentos, especialmente ao amor e a paixão. Enquanto elas associam-se mais a situações de amor, os homens são mais identificados com a razão. O que, neste caso, poderia ser a justificava pelo “amor” exagerado que ela lhe dedica, mas pessoalmente não acredito que amor em exagero seja prejudicial. Acredito que o verdadeiro amor nunca é prejudicial, jamais sufoca, ele é a única força capaz equilibrar a vida das pessoas e, é justamente no equilíbrio que podemos alcançar a felicidade.
Em muitos casos, existe um enorme e real sofrimento atribuído ao amor exagerado, mas na verdade o que existe nestes relacionamentos é uma enorme mistura de sentimentos, nos quais, o amor sequer está presente, o que talvez exista em abundância são sentimentos, digamos, pouco nobres. É comum atribuir ao amor a intensidade da relação, no entanto é muito freqüente tratar-se apenas de algum tipo de transtorno emocional. Nos casos amorosos é freqüente a compulsão, por ter ou estar com a outra pessoa, sendo confundida com amor. Essa compulsão pode advir de vários fatores, porém quando enraizada é de difícil percepção e compreensão, pois é confundida com a personalidade individual.
Um comportamento típico destas pessoas compulsivas é ser incapaz de deixar de fazer algo qualquer em relação à determinada pessoa, mesmo sabendo que sua ação é destrutiva para si, que pode prejudicá-la e colocar em risco o relacionamento. Outra atitude característica destas pessoas é a dificuldade de se concentrar em outras áreas da sua vida, por causa de pensamentos ou sentimentos relacionados à outra pessoa e conseqüentemente não conseguem organizar as próprias atividades diárias. Áreas de sua vida como família, estudos, trabalho, religião, saúde, esportes, enfim, outras atividades importantes acabam ficando em segundo plano, desprezadas e sem chances de execução no cotidiano.
Será que ele vai demorar? Ele pode gostar de mulheres mais bonitas? Ele não gosta mais de mim? Por que prefere tudo e todos a ficar comigo? Embora esses questionamentos sejam mais freqüentes entre as mulheres, os homens também os têm. A estas questões somam-se sentimentos de ciúmes, dor, medo, aflição e frustração que fazem com que essas pessoas desenvolvam comportamentos e atitudes incompreensíveis à pessoa amada, que podem chegar até a agressividade, pois feridas até a alma no seu amor, agridem o objeto deste amor.
Muitas pessoas que acreditam amar e juram amar demais; o namorado, filho, esposa ou seja lá quem for, geralmente apresentam uma dependência emocional que pode trazer repercussões danosas, tanto o quanto qualquer dependência química.
Dessa forma, encerro este texto com a convicção de que o autoconhecimento é fundamental para que não nos aprisionemos nas próprias armadilhas mentais, e possamos descobrir e sentir cada emoção na sua pureza, como ela realmente é e, através dela, caminharmos para a felicidade. Pense nisso.