Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos

            Simples observações.

 

Esta conversa teria tudo para ser sobre o nada, pois após um longo feriado junto à família bem lá no interior, onde o galo é o despertador e os meus neurônios resistem em iniciar qualquer trabalho. Porém, falar sobre o nada é algo muito mais complexo que qualquer outro assunto, imagine só se eu fosse começar com aquela conhecida frase: “No principio só havia o nada”. Talvez pudesse citar o filósofo Lichtenberg e discorrer sobre sua famosa citação: “O nada é uma faca sem cabo, da qual se retira a lamina” e completar que nada é uma palavra de quatro letras sem consoantes na qual se retira o a, como já referi em um certo texto, mas seria assunto demais.

Diante disso, poderia então, falar de alguns tipos de personalidades que, sempre encontramos nos feriados, falo daquelas pessoas que desconhecem a palavra humildade. Na verdade, desconhecem a si mesmas, mas querem, sobretudo, nos dar uma lição, achar um jeito de parecerem superiores. Sempre tem muito que se aprender, ou melhor, que não se aprender com esse tipo de gente, mas, ao invés de falar dessa “gente”, resolvi ser radical e falar das aves, ou melhor, algumas coisas que aprendi com as galinhas, isto é, as muitas semelhanças que observei do comportamento das galinhas com as atitudes humanas. Tudo isso é fruto deste feriado que me deixou assim, “preguiçoso”.  Pode até parecer pura enrolação, muito mais que preguiça, mas não é não. Garanto que, mesmo assim, o texto vai te levar a algumas boas reflexões.

Veja só, estava eu na serra, dirigindo tranqüilamente pela sinuosa estradinha de chão batido, entre as encostas cobertas de parreirais e pastagens de inverno, quando de repente fui surpreendido por algumas galinhas, que me obrigaram a acionar vigorosamente os freios e diminuir cada vez mais a velocidade. Quase parando, de modo que as galinhas pudessem atravessar a estrada, pois parecia ser este o objetivo que se propunham. Mas elas optaram em permanecer cacarejando a beira da estrada. Diante disso, acelerei lentamente, quando subitamente elas optaram em novamente tentar atravessar, obrigando-me a frear bruscamente.

Quando voltei à velocidade, elas já estavam quase que na outra margem da estrada, mas, surpreendentemente retornaram. Neste instante, pisei no pedal do freio com força e ouvi um barulho sob o assoalho do carro, que me dizia que o pior tinha acontecido.  Esperando pelo pior, olhei pelo espelho, mas felizmente só vi uma nuvem de poeira e algumas penas, além dos galináceos correndo desesperadamente encosta acima. Logo pensei, que atitude burra, mas reconsiderei, uma vez que possuem um cérebro minúsculo e provavelmente ainda o subtilizam como nós humanos. Assim, foi fácil compreender que são desprovidas de uma vasta inteligência, mas essa atitude era um atentado a própria vida, era uma ação que contrariava os instintos de sobrevivência que até mesmo os menores animais possuem.

Se analisarmos, esta atitude é muito comum quando estamos com medo ou diante do perigo.  Parece lógico, se não ridículo, que somos infinitamente superiores às galinhas, mas quantas vezes, o instinto tenta nos preservar e nós, com a nossa suprema inteligência acabamos vítimas do medo e morremos atropelados pela indecisão.

Essa mesma inteligência nos faz agir novamente como estas aves, quantas vezes agimos como esses frangos, criados em confinamento, que têm suas necessidades vitais atendidas; comida e água e exclamam em coro diante de uma possível ameaça, como a presença de um animal maior ou um ruído estranho, mas logo se acostumam e voltam ao prato de comida, mal sabem do interesse do granjeiro e do destino que em breve os espera. Quantos granjeiros e frangos não existem no Brasil?

Já que o assunto desta semana é um tanto exótico, não posso deixar de falar daquele galo que resolve cantar, seja lá qual for a sua razão, e todos os outros galos que o ouvem imediatamente começam a cantar também. Será que a resposta é uma bela demonstração de gentileza, coisa que anda em falta entre os humanos, ou mais uma disputa de vaidades?

É impressionante como esta questão acabou rendendo tanto assunto, que vou ter que simplificar, mas para não pensarem que vejo as coisas apenas por um ângulo, quero registrar, mesmo que um só, um grande exemplo das galinhas, é o caso da extrema dedicação e persistência em chocar por várias semanas os ovos e depois cuidar dos pintinhos com tanto zelo, sem falar no desespero com que tentam proteger e esconder os filhotes diante de uma ameaça.

Obviamente que somos dotados de inteligência e outras capacidades infinitamente superiores a destas pobres aves, contudo, às vezes, temos comportamentos parecidos. Esta é uma pequena mostra do quanto somos pretensiosos em nos acharmos superiores, desrespeitando outras formas de vida e até mesmo o nosso semelhante, seja por posição social, raça, sexo, ou qualquer outra forma de descriminação. Não podemos esquecer que somos todos mortais, os que hoje se consideram superiores, para evoluir obrigatoriamente, terão pela frente uma só opção, seguir o caminho da dor ou do amor. O caminho da dor parece ser a opção preferida dos arrogantes e preconceituosos, enquanto o caminho do amor, o mais fácil e feliz, acaba sendo a opção dos de coração humilde. Sempre é tempo para escolher, sem medo, pois neste caso para ser atropelado basta não fazer nada. Boa semana.

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 04/06/2008
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