Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
Capa Textos E-books Fotos Perfil Livros à Venda Contato Links
Textos

Astúcia Feminina

 

O final de tarde foi um verdadeiro teste de paciência, diante do trânsito infernal comum em qualquer grande cidade, porém, com um olhar um pouco mais atento, se pode entender muito sobre a educação dos seus habitantes.

Depois de um dia estressante, lá está Jatar disputando cada milímetro no afunilamento do trânsito da Avenida Assis Brasil. Sua mulher, já acostumada ao estresse do marido, permanece calada remexendo o interior da bolsa, enquanto que no banco detrás, os filhos se divertem com as revistas em quadrinhos.

Jatar permanece atento ao trânsito, calculando que em pouco menos de uma hora estará em casa, quando de repente, tem sua atenção desviada para a calçada que lhe faz estremecer o corpo inteiro.

Dentro de uma minissaia sumária, nádegas redondas e firmes se sustentam nas longas e torneadas pernas, que por si só bastariam para literalmente parar qualquer trânsito. Mas, ao subir os olhos, encantou-se com aquele alvo abdômen e seu umbiguinho decorado com um pontinho de brilhante, antes de chegar a uma minúscula blusinha branca que abrigava...Os seios. Seios que acompanhavam seu andar lembravam-no de cenas de um filme que havia visto em câmera lenta...Um suave e delicioso galope.

 A arte da moda justificou-se e, pela primeira vez percebeu que merecia ser reverenciada por produzir tão preciosa peça, que, além do decote em formato de acentuada parábola tinha ainda em seu vértice um generoso corte que possibilitava a visão do entre seios, região capaz de transformar qualquer homo sapiens em um neanderthal. E, seguindo pelo colo, o delicado pescoço sustentava a face de tez alva, com um leve rubor natural, desenhada por traços regulares, delicados e esculpida com muita perfeição, possível somente pela divina criação em um dia de suprema inspiração. Lá, destacava-se a boca de traços marcantes que o fez lembrar que Algelina Jolie talvez tenha plagiado dali seus famosos lábios, além dos vívidos olhos que pareciam expressar amor, amor e mais amor. Tudo emoldurado por um longo, liso e sedoso cabelo castanho - escuro.

Nesta fração de segundos, sem perder o controle no trânsito é claro, só lhe restou emitir no silêncio do carro um sonoro.

- Nooooossa!

Não foi um nooossa qualquer. O som ecoou no carro e dissipava-se pouco a pouco, como se tentasse inspirar o restinho de ar, lá do fundo dos pulmões. Imediatamente percebeu que cedera ao impulso e não havia mais alternativa para justificar-se. A esposa ao lado, espantada e já furiosa, percebera do que se tratava e não tardou a reagir.

- Mas o que é isso? Que pouca vergonha! Não me respeitas nem diante das crianças? Contenha-se seu sem vergonha, mulherengo, cara-de-pau...

Pensou em abandonar o carro ali mesmo e sair declarando seu amor àquela deusa da avenida. Mas, olhou para o lado e mudou de idéia, pois a cara da Marta lembrava um temporal fechado e escuro, como uma tempestade, daquelas de alagar ruas feito tsumani.

Manteve-se atento ao trânsito sem parar de pensar como o mundo era injusto, quanto amor podia dar àquela gostosa mulher se não existissem por aqui, as “malditas” leis monogâmicas.

Jatar tinha certeza que o problema eram essas leis, afinal, ele certamente seria desejado tanto quanto desejava aquela “delicia ambulante”. Aliás, sempre que essas deusas da beleza feminina apareciam, lamentava mortalmente não poder tocá-las. Eram uma afronta aos seus hormônios masculinos que se rebelavam violentamente em seu intimo. Envergonhava-se por não poder conter essa rebeldia. Sentia-se um animal selvagem e incapaz de ver a beleza feminina como uma perfeição da natureza a ser apreciada, louvada,... O que experimentava era somente um incontrolável desejo de possuí-las. Seria egoísmo? Talvez o problema fosse conter-se, pensava em freqüentar um bom psiquiatra, mas logo mudava de idéia, pois temia ser julgado como tarado.

Começou então, a evitar observar as mulheres pela manhã. Sim, pois é nessa parte do dia que elas estão mais lindas e cheirosas. De longe se percebe que estão cheirosas, com seus cabelos recém escovados, pele fresca... Dá pra senti-las, sem tocar... Ah! Pura tentação. 

Jatar fartava-se com a bela e arrasadora esposa à noite e antes do café da manhã, o que muitas vezes lhe tolhia as forças, porém não o desejo de refestelar-se com àquelas delicias provocantes que desfilavam diante de seus olhos.

Tristemente envolto nesses pensamentos e sem perspectiva de reencontrar aquela estonteante mulher, sentia-se uma pobre vítima. Mas pior que se sentir injustiçado, era ter que encarar o humor de Marta. Temia pelo jantar.

Como previsto, em pouco tempo estavam em casa e tentavam agir normalmente, como se nada tivesse acontecido, apenas conversavam com as crianças, nada de olhares ou palavras entre si. Assim foi até após o jantar e o adormecer das crianças, quando finalmente Marta lhe dirigiu a palavra:

- Você dorme na sala, pega lá um lençol pra não emporcalhar o sofá.

Jatar não teve coragem de falar, levantou-se e tratou de obedecer, pois sabia que tinha passado do limite. Esticou o lençol no sofá sem reclamar e deitou-se, enquanto Marta parecia fazer o mesmo na cama macia. Na briga para melhor se acomodar, percebe alguém...Era Marta que se aproximava exalando Flower by Kenzo, e envolta numa camisola preta, rendada e transparente...Estava atraente como nunca. A pouca luminosidade era suficiente para deixar transparecer a sumária calcinha e o delicado soutien que aprisionava os pequenos, rijos e balouçantes seios.  Como que num gesto previamente ensaiado jogou os cabelos molhados de um lado para o outro para facilitar a secagem, deixando neste movimento amostra às costas lisinhas e aquelas longas e torneadas pernas, assim como, as nádegas redondas e rijas, macias, tenras...Boas de se tocar. Estava estonteante, cheirosa... Nooooossa!

Ela fez tudo para provocar. Os hormônios amotinados levam-no a suplicar:

- Amor...

- Nem pensar – responde Marta antes que ele pudesse completar.

Agora ela queria mesmo provocar. Usou todo o seu arsenal para dar a entender o que ele iria perder, pelo menos naquela noite. Arranjou mil coisas para fazer naquela pequena sala. Agachava-se, espreguiçava os belos e longos braços, passava pra lá e pra cá, num infindável vai e vem, arrumando os objetos da sala, sempre em insinuantes movimentos que o deixavam enlouquecido. E o pior, fazia parecer como se fossem sem nenhuma intenção.

Jatar não ousou falar, pois, nunca havia desejado uma mulher como desejava naquele momento, a própria mulher. A amava, mas isso também não faria a mínima diferença naquela hora, o instinto falava mais alto. Mas incrivelmente temia perdê-la como jamais pensou que pudesse. Pela primeira vez os hormônios se acalmaram dando lugar à reflexão. Definitivamente compreendera que Marta era a mulher de sua vida.

Marta sabedora de seu poder e, após o longo provocar, olhou fixamente nos olhos de Jatar e lentamente se afastou. Foi dormir com a certeza de que era amada.

 

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 25/10/2007
Comentários
Capa Textos E-books Fotos Perfil Livros à Venda Contato Links