Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
Capa Textos E-books Fotos Perfil Livros à Venda Contato Links
Textos

Há algumas virtudes das quais quase não se fala mais. Isso não significa que não precisemos mais delas ou que devamos renunciá-las. A condenação dos vícios é louvável e deve ser constante. Todavia, as virtudes são mais importantes e devem ser sempre ensinadas. Não tenho certeza se a virtude pode ser ensinada, acredito que deva ser possível através dos exemplos mais do que pelos livros. Assim, como Spinoza, não acredito que haja grande utilidade em denunciar os vícios, o mal, o pecado da forma que são tradicionalmente entendidos. É uma constante acusação, denúncias sem fim, é uma pregação da moral dos tristes, é uma triste moral.
Isso não significa que devemos nos conformar com isso e nem deixar de combater os vícios, mas que as virtudes devem se sobrepor, devem ser valorizadas e disseminadas no nosso meio.
Mas o que é uma virtude? Os gregos dizem somente o essencial: virtude é poder, um poder específico. É uma força que age, ou que pode agir, dependendo do uso que fizermos dela.
Assim, a virtude de um remédio é curar, de uma faca é cortar e a de um homem é querer e agir humanamente. A virtude de um ser é o que constitui seu valor, sua excelência. O bom remédio é o que cura bem, a boa faca é a que corta bem e até o bom veneno é o que mata com eficácia. Diante disso, a virtude de uma faca não é a de uma enxada e a virtude de um homem não é a da cobra: cada um tem o seu valor, sua força e seu poder.
No sentido geral, as virtudes de algo não são alteradas pelo uso desse objeto e suas conseqüências. A faca não tem menos virtude na mão do assassino do que na do cozinheiro, mas, qualquer que seja a mão, a melhor faca será a que melhor corta.
No caso do homem, não. Se todo o ser possui seu poder específico, perguntemo-nos qual é a excelência própria do homem. Filósofos como Aristóteles afirmavam que o que nos distingue dos animais é a razão. A virtude de um homem é o que o faz humano, é o poder específico que tem o homem de afirmar sua humanidade, pois seus desejos não são os mesmos que os dos animais.
A virtude é uma maneira de ser, adquirida e duradoura, é o que somos. A virtude surge no momento do cruzamento da homonização, fator biológico, com a humanização que é o fator cultural. É a nossa maneira de ser e agir humanamente, isto é, nossa capacidade de agir bem. Também é uma disposição adquirida de fazer o bem – ela é o próprio bem, em espírito e em verdade. Nesse caso, o bem não é para se contemplar: é para se fazer, e a virtude é o esforço para se portar bem.
A virtude – ou melhor, as virtudes, porque há várias e nem poderíamos nos contentar com uma delas – são nossos valores morais, sempre singulares em cada um de nós e sempre plurais, como as franquezas que elas combatem ou corrigem. São essas virtudes que gostaria de ver valorizadas, exaltadas e certamente aplicadas na nossa sociedade.
Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 05/01/2007
Alterado em 26/01/2015
Comentários
Capa Textos E-books Fotos Perfil Livros à Venda Contato Links