Jair A. Pauletto
O Singular do Plural
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Textos
Um jogo de futebol.
 
Ir ao estádio para assistir a um jogo de futebol exige muita paciência e disposição, especialmente quando não se é um torcedor fanático. Apesar de o futebol não ser um dos meus programas preferidos, aliás, passa longe das minhas preferências, mas recomendo que experimentem, pois é uma experiência bem interessante.
Tenho um colega que vivia dizendo que ir ao estádio torcer pelo timão era desperdiçar um tempo precioso, mas depois de ir uma única vez num estádio e assistir ao jogo tornou-se um frequentador. Ele descobriu um novo prazer em sua vida pelo simples fato de permitir-se experimentar.
Experimentar algo novo exige coragem e flexibilidade. As pessoas rígidas em seus pensamentos e convicções, muitas vezes perdem importantes aprendizados; deixam de descobrir novas oportunidades de ser mais feliz, crescer e desenvolver-se. O extremo deste tipo de comportamento são “os radicais” que perdem importantes aprendizados por terem posição muito rígida. Obviamente que os volúveis sem posição também perdem, pois nada experimentam, apenas vivem seguindo o fluxo dos outros.
Mas como eu estava dizendo, assistir a um jogo de futebol pode se tornar um belo aprendizado, não somente pela possibilidade de descobrirmos uma nova forma de nos divertirmos, mas também para exercitarmos a tolerância, o convívio humano e fundamentalmente para observar ou sentir a manifestação de diferentes emoções. A reação dos torcedores seja no coletivo ou individualmente, expressa muito mais que o movimento dos jogadores em campo, é um retrato de estado, um conjunto de emoções que move cada um dos expectadores.
No último final de semana assisti o clássico Gre-nal, já havia feito isso algumas vezes e em todas extravasei tensões e as mais variadas emoções, porém desta vez estava tranquilo e pouco “ligado” no jogo, de modo que me permiti a observar o comportamento dos torcedores em geral. Percebi que observar a torcida é um espetáculo à parte, talvez por ser um ato simultâneo geralmente passa despercebido, mas no meu caso se tornou o principal atrativo para as minhas idas ao estádio.
Uma das minhas maiores lições foi ver a manifestação de fé de uma adolescente que estava ao meu lado, ela expressava sua confiança através de gestos e traçava sobre o peito o sinal da cruz várias vezes. Em cada jogada mais perigosa do ataque adversário ela rogava ajuda, repetindo o pedido para cada tentativa de ataque do próprio time. Não sei se foi pela frequência dos gestos ou pelo futebol da equipe, mas observei que por várias vezes ela conseguia êxito nas suas pretensões.
Milhares de torcedores, cada qual com sua fé, com sua crença e manifestação religiosa, eram pessoas que vibravam e procuravam transmitir força e entusiasmo aos jogadores no campo. Pensei que estava diante de um seminário motivacional, daqueles em que um instrutor ensina técnicas para manter o pensamento positivo ou ainda transmitir bons fluidos energéticos. Possivelmente, poucos tivessem frequentado um destes seminários, porém todos pareciam acreditar nestes princípios, pois a cada mau momento do time, percebia-se um movimento para motivar a equipe. Alguns jogadores mais “desmotivados” eram incentivados através de palmas, uma das formas utilizadas para apoiar os jogadores a continuarem com elevado desempenho e dedicação.
As manifestações de apoio surgiam exatamente na hora mais difícil do jogo ou de um mau momento de algum jogador, portanto eram efetivadas no momento emocional mais propício, mesmo com as vaias ao adversário. Parecia não haver qualquer dúvida quanto à utilidade daquelas manifestações, então fiquei pensando se aqueles milhares de torcedores estavam conscientes do seu comportamento, ou simplesmente agiam mecanicamente. Dentre as várias hipóteses, elegi duas que pareciam prevalecer, uma a do condicionamento automático, ou seja, os torcedores haviam aprendido a fazer aquilo sem compreender a importância do gesto e o faziam apenas como tradição de torcedor. A outra hipótese seria a de que conheciam o poder de direcionar a energia e acreditar na própria força em energizar as pessoas. Fiquei torcendo para que fosse a segunda, mas ficou difícil imaginar que todas aquelas pessoas agissem assim nas suas atividades diárias.
Não consegui me convencer de que todo aquele apoio, solidariedade e esforço para elevar o moral do time, seria utilizado no dia a dia para provocar melhorias na família, aos amigos e na sociedade. Espero estar enganado, mas provavelmente esta não era a hipótese válida, pois não parecia ser uma atitude consciente, e sequer compreensão de que as mesmas regras de transmissão de energia motivacional que se manifestam na relação do torcedor com o jogador pode dar-se entre as pessoas com quem convivemos. No final dos noventa minutos o jogo ficou no empate, já eu, ganhei uma nova experiência. Boa semana.

Jaìr A Paùlétto
Enviado por Jaìr A Paùlétto em 30/10/2010
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